Em vez de enfrentar o problema da relva acumulada no topo do edifício do antigo CITMA, a Universidade da Madeira decidiu inovar: ignorou-o durante tempo suficiente para que a vegetação se tornasse “recuperação ecológica espontânea”. Agora, com um protocolo assinado com a Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, o espaço passa oficialmente a integrar um plano-piloto de agropecuária universitária extensiva ou, nas palavras do comunicado, “gestão verde interinstitucional para valorização territorial pós-urbana”.
A iniciativa, descrita como “visionária e resiliente”, será alargada aos jardins do Tecnopolo e outras áreas não intervencionadas do campus, onde as plantas invasoras ganharam terreno nos últimos anos. Segundo fontes da Reitoria, o plano já previa a “integração sustentável do abandono na narrativa institucional de inovação”.
No topo do CITMA, cabras e vacas, cedidas ao abrigo do projeto-piloto “Ruminantes para a Resiliência”, serão responsáveis pela manutenção da cobertura vegetal e pela produção de bens de consumo académico. Entre os primeiros produtos em fase de rotulagem, destaca-se a manteiga do reitor, “ideal para barrar em cortes orçamentais”, o leite desnatado do vice-reitor, “pobre em gordura e em decisões”, e o iogurte de integração curricular, fermentado durante seis semestres, com textura inconsistente e um ligeiro travo a arrependimento, ideal para acompanhar planos de estudo que já ninguém compreende, nem quem os aprovou.
A comunidade estudantil reagiu com um misto de incredulidade e humor negro. Alguns descrevem o projecto como “um regresso bucólico ao ensino superior com cheiro a curral”, enquanto outros alertam que o campus “está literalmente a ser comido às beiras e não apenas pelo desleixo”. O consenso, se é que se pode chamar assim, resume-se ao olfacto: a paisagem ganhou vida, mas exala agora um aroma difícil de ignorar, uma mistura de mato húmido, leite morno e desesperança institucional.
A reitoria garante que está tudo controlado. Afinal, como se lê na faixa pendurada junto ao rebanho: “aqui pastam as ideias que ninguém quis cortar”.
O Amigo da Pastoral é um suplemento satírico da ET AL., sendo todo o seu conteúdo ficcional. Leia-o regularmente no nosso portal ou através da nossa aplicação móvel ACADÉMICA. A imagem que ilustra este artigo foi manipulada com a introdução de bovinos e caprinos, sendo que a fotografia original, de 12 de junho de 2025, é a que segue abaixo.
