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Será a opinião dos estudantes um simulacro nos órgãos da universidade?

Será a opinião dos estudantes um simulacro nos órgãos da universidade?

Na Universidade da Madeira, a participação estudantil em órgãos e comissões parece ser frequentemente simbólica, faltando meios que a tornem verdadeiramente eficaz e participativa.

Na Universidade da Madeira (UMa), como noutras instituições de ensino superior, a presença de estudantes em órgãos, comissões e conselhos é frequentemente invocada como um exemplo de participação democrática. Contudo, na prática, esta presença revela-se muitas vezes um exercício vazio, onde a opinião estudantil é solicitada sem que sejam dadas as ferramentas necessárias para que essa participação seja efetiva e construtiva.

A auscultação dos estudantes, prevista nos regulamentos, parece funcionar apenas como um formalismo. Somos chamados a opinar, a deliberar e a contribuir, mas sem acesso a informação adequada, sem tempo para uma análise aprofundada e sem qualquer formação específica sobre os temas em discussão. O resultado é um conjunto de intervenções superficiais que acabam por confirmar a perceção de que os estudantes “não percebem nada” ou “não dão opinião”.

A falta de documentação atempada é um dos principais problemas. Os órgãos da universidade frequentemente demoram a enviar informação essencial, obrigando os estudantes a tomar posições de última hora, sem tempo para ponderação ou consulta com os seus pares. Muitos documentos chegam em cima da reunião, forçando uma discussão apressada e desprovida de profundidade. Além disso, é comum que os estudantes eleitos para estes órgãos não recebam qualquer formação sobre os seus direitos, deveres e mecanismos de participação. Enquanto os representantes docentes e outros membros já têm experiência e acesso a informação privilegiada, os estudantes são lançados nestes órgãos sem qualquer preparação, o que leva a uma desigualdade gritante na capacidade de argumentação e influência.

Académicas

“O movimento associativo nacional “Académicas.” composto pelas Associações Académicas das Universidades de Aveiro, do Algarve, da Beira Interior, de Coimbra, de

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Para que a participação estudantil nestes órgãos seja realmente eficaz, é imprescindível que sejam garantidas condições adequadas. Os documentos devem ser enviados com antecedência suficiente para permitir um estudo detalhado. Deve ser disponibilizada formação básica sobre os processos e as dinâmicas institucionais. O próprio ambiente das reuniões precisa de ser reformulado para que os estudantes se sintam verdadeiramente parte das decisões, e não meros espetadores de um teatro administrativo. No entanto, a falta destas condições resulta numa imagem distorcida dos estudantes. Quando estes não conseguem intervir de forma robusta, a responsabilidade é frequentemente atribuída à sua suposta falta de conhecimento ou desinteresse, em vez de ser reconhecida como uma consequência das próprias limitações impostas pelos órgãos institucionais. Assim, perpetua-se um ciclo vicioso em que a universidade pede opinião aos estudantes, mas não lhes dá os meios para que esta seja significativa e, depois, culpa-os pela falta de envolvimento qualificado.

Se queremos uma universidade mais justa e participativa, é fundamental que a voz estudantil seja mais do que um ponto de ordem nas atas das reuniões. É necessário um compromisso real para integrar os estudantes nos processos de decisão de forma informada, digna e equitativa. Caso contrário, continuaremos a ser apenas um acessório decorativo num sistema que, na prática, não nos quer ouvir.

Artigo publicado na edição impressa do JM Madeira de 23 de março de 2025.

Ricardo Freitas Bonifácio
Presidente da ACADÉMICA DA MADEIRA
Com fotografia de Pedro Pessoa.

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