Enquanto Portugal discute sobre o aumento das propinas no futuro, com o ministro a indicar, numa audiência parlamentar sobre o Orçamento do Estado, que o Governo não apoia a redução das propinas, o governo trabalhista britânico decide aumentar as propinas das universidades em Inglaterra.
As propinas nas universidades vão subir pela primeira vez desde 2017, passando de 9.250 libras para 9.535 libras por ano, anunciou o governo. Este aumento, indexado à inflação, surge como resposta à crise financeira que as universidades enfrentam, agravada pela desvalorização das propinas ao longo dos últimos anos.
A ministra da Educação, Bridget Phillipson, ao anunciar o aumento, defendeu que o governo está a “quebrar barreiras para apoiar os estudantes que lutam com o custo de vida”. Phillipson acrescentou que a medida pretende “garantir uma base financeira mais sólida para as universidades”, permitindo-lhes continuar a proporcionar “oportunidades aos estudantes” e contribuir para o crescimento económico do país. Para atenuar o impacto nos estudates, o governo também anunciou um aumento nos empréstimos de manutenção para estudantes de famílias com rendimentos mais baixos, que poderão receber até mais 414 libras por ano.
Let me be clear: I take no joy from the decision I've made on fees today.
But it's rich to see the Tories' faux outrage, pretending they didn't go into the last election talking down students' ambition and deriding 'mickey mouse' degrees.
Do they think we've forgotten already? pic.twitter.com/z0zvo8Nvpf
— Bridget Phillipson (@bphillipsonMP) November 4, 2024
Contudo, a decisão gerou um forte debate. Jo Grady, secretária-geral do Sindicato das Universidades e Faculdades (UCU), condenou o aumento das propinas, considerando-o “economicamente e moralmente errado”. Segundo Grady, a medida não resolverá os problemas financeiros do setor, apenas sobrecarregando mais os estudantes, muitos já endividados.
Para os estudantes, o aumento representa um fardo acrescido. Alex Stanley, vice-presidente da União Nacional de Estudantes (NUS), afirmou que os jovens estão a ser forçados a “cobrir as despesas básicas” das universidades, incluindo o aquecimento e a eletricidade, e a evitar o encerramento de cursos. A NUS expressou forte oposição ao recente aumento das propinas universitárias, argumentando que esta medida sobrecarrega ainda mais os estudantes, especialmente os de origens mais desfavorecidas.
Alex Stanley vincou que “os estudantes não devem ser responsabilizados pela crise de financiamento das universidades”. A NUS reconheceu o aumento dos empréstimos de manutenção como resultado de anos de campanhas estudantis, mas salientou que, sem a introdução de subsídios, esta medida apenas aumentará a dívida dos estudantes mais pobres. A organização defende uma revisão urgente do sistema de financiamento do ensino superior, incluindo a consideração de subsídios de manutenção e uma solução sustentável que equilibre o investimento público e privado na educação.
Laura Trott, ministra da Educação sombra, o membro da oposição parlamentar que tem a responsabilidade de supervisionar e criticar o trabalho do titular da educação, também criticou a medida, lembrando que o líder trabalhista, Keir Starmer, havia prometido no passado abolir as propinas, o que leva muitos estudantes a sentirem-se “traídos”.
Well…it turns out they will pay more #brokenpromises pic.twitter.com/DCKi9monID
— Laura Trott MP (@LauraTrottMP) November 5, 2024
Embora o aumento das propinas seja visto por alguns vice-reitores como uma medida necessária para evitar o colapso financeiro, especialistas alertam que este ajuste poderá ser insuficiente, especialmente com a diminuição das candidaturas internacionais devido a novas restrições de vistos.
Luís Eduardo Nicolau
Com Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Wiktor Szymanowicz/Future Publishing/Getty Images.