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Toponímia do Funchal: Largo António Nobre

A toponímia de uma cidade exprime a sua história. Muitos nomes de ruas e avenidas, caminhos e estradas, becos e travessas, praças e largos nasceram da espontaneidade popular, gerada, por exemplo, nas relações de proximidade com moradias ou estabelecimentos de notáveis, caso do Largo do Phelps, ou, então, com imóveis facilmente identificados na paisagem, como a capela do Corpo Santo, cuja invocação deu nome ao largo contíguo. Algumas designações toponímicas resultaram, no entanto, de deliberações municipais, de acordo com as motivações dos titulares dos órgãos autárquicos ou decorrentes de iniciativas de munícipes.

Quando comummente aceite, a denominação perdura. Há casos, porém, em que prevalece o nome popular ou tradicional em detrimento da inscrição na placa toponímica.

Na série de artigos, agora iniciada, vamos percorrer os largos do Funchal e, por ordem alfabética, daremos conta do que a toponímia sugere, a história regista e o património cultural assinala.

O Largo António Nobre, nas imediações das Ruas Carvalho Araújo, do Favila e Imperatriz D. Amélia, pertence à freguesia da Sé.

Aqui sobressai o Pestana Carlton Madeira, uma unidade hoteleira de cinco estrelas. Na mesma falésia, existia anteriormente o Atlantic Hotel, adquirido, em 1966, pelo madeirense Manuel Pestana. Este emigrante bem-sucedido na África do Sul construiu ali um moderno hotel, aberto ao público em 1972, com a designação de Madeira Sheraton, posteriormente ampliado e remodelado.

A margem esquerda do Ribeiro Seco, a sudeste da ponte, era conhecida por Redondo, Jardim, Praça ou Largo do Ribeiro Seco. Contudo, em Outubro de 1927, a Câmara Municipal do Funchal decidiu homenagear António Nobre, atribuindo o seu nome àquele espaço. Pretendia a edilidade assinalar a sua estada na Madeira e, em especial, a sua residência naquela zona. De facto, o poeta havia-se hospedado, durante algum tempo, na Pensão Almeida, mais tarde transformada em Atlantic Hotel.

António Nobre nasceu no Porto em 16 de Agosto de 1867 e morreu na Foz do Douro a 18 de Março de 1900.

Face à tão apregoada benignidade do clima para a tuberculose pulmonar, o poeta viajou para a Madeira em busca de cura. Residiu, no Funchal, entre 14 de Fevereiro de 1898 e 22 de Abril do ano seguinte.

Alguns dos poemas, que escreveu na ilha, foram publicados em Despedidas: 1894-1899 (Porto, 1902). Dessa época, guardam-se também algumas cartas, onde registou a beleza da paisagem insular, momentos de convívio e a evolução do seu estado de saúde.

Em 28 de Dezembro de 1941, foi descerrado um busto em bronze do poeta, da autoria de Tomás Costa (1861-1932), no jardim do Largo António Nobre.

Salienta-se ainda, no Largo, um fontanário datado de 1867 com painéis de azulejos azuis e brancos dos anos trinta do século XX, da Fábrica de Sacavém. Estão aí representados motivos da tradição madeirense e as armas do Funchal. Pela sua singularidade, foi classificado como de Valor Cultural Local, pela Resolução n.º 1353/93 do Governo da Região Autónoma da Madeira.

Nelson Veríssimo
Professor da UMa

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