As palavras-chave permitem que o leitor tenha acesso aos artigos que foram classificados com esse vocábulo enquanto etiqueta. Dessa forma, o repositório digital de notícias da ET AL. é filtrado para que o leitor consulte o grupo de artigos que corresponde à palavra-chave que selecionou. Em alternativa, pode optar pela procura de termos na barra de pesquisa.

Etiqueta Selecionada

Nelson Veríssimo

Toponímia do Funchal: largos

Toponímia do Funchal: Largo do Pelourinho O largo do Pelourinho situa-se entre as fozes das ribeiras de Santa Luzia e de João Gomes. Gaspar Frutuoso, descrevendo o Funchal por volta de 1584, no Livro Segundo das Saudades da Terra, afirmou, acerca deste espaço urbano, que, no início da Rua dos Mercadores, estava «uma não muito grande, mas formosa e cercada praça, de boas casas sobradadas, algumas de dois sobrados, com um rico pelourinho de jaspe, do qual uma grande e larga rua, que se chama a Direita e é a maior da cidade, vai ter ao pinheiro que é uma árvoreque está no cabo dela…». O cronista micaelense localizou o largo do Pelourinho no início da rua dos Mercadores e da Rua Direita. A Rua Direita começa ainda neste largo, na convergência da rampa de D. Manuel (D. Manuel de Castro) com a travessa da Malta, mas já não termina no Pinheiro (largo do Torreão). Agora tem uma extensão muito reduzida, confluindo com a rua da Cadeia Velha. A rua dos Mercadores é a atual rua da Alfândega, com término no largo da Praça. Hoje o largo do Pelourinho liga-se ao largo da Praça e à rua da Alfândega através da rampa e da ponte do Cidrão. O pelourinho ou picota era o símbolo da autonomia do poder local. Nas cidades ou vilas, três imóveis representavam a jurisdição municipal: a Casa da Câmara, a Cadeia e o Pelourinho. No pelourinho, eram expostos os criminosos e afixavam-se ordens e despachos. Ali aplicavam-se também algumas penas, mas nunca a pena capital, pois esta competia à Coroa e aos Tribunais da Corte. Foi o duque de Viseu e de Beja, D. Manuel, enquanto donatário do arquipélago madeirense, quem, em 1486, determinou a construção da Casa do Concelho, o Paço dos Tabeliães, a Igreja, a praça e o pelourinho, doando ao Funchal, para o efeito, um «chão» que lhe pertencia, o campo do Duque. O projeto urbanístico do Senhor do arquipélago não foi respeitado e o pelourinho veio a ser colocado bem longe da Casa da Câmara, apesar de diversos protestos do duque. Em 1516, realizaram-se obras de melhoramento da praça do Pelourinho. Refira-se que, em 1477, a infanta D. Beatriz criou uma Alfândega no Funchal, que veio a ser instalada num edifício situado junto à praça do Pelourinho. O largo do Pelourinho foi lugar de intensa atividade comercial desde os finais do século XV até aos anos 80 do século XX. Nesta centúria, havia, igualmente, uma indústria próspera, representada pela Fábrica de São Filipe, Companhia Insular de Moinhos e Madeira Electro-Mecânica. Nas décadas de 60 e 70, funcionou aqui uma espécie de central de camionagem das empresas de transporte público Rodoeste – Transportadora Rodoviária da Madeira, Ld.ª., Automóveis do Caniço, Ld.ª, Camachense de Automóveis, Ld.ª e, anteriormente, da Sociedade de Automóveis de São Roque do Faial, Ld.ª. Pela sua localização junto às fozes de duas ribeiras e, depois do encanamento destas, também pela sua cota, foi, por diversas vezes, afetado pelas aluviões que assolaram o Funchal, o que implicou várias obras de reparação ou remodelação deste largo. O pelourinho do Funchal foi demolido por deliberação da Câmara do Funchal, de 3 de novembro de 1835, alegando a edilidade que era um «emblema dos tempos feudais» em desarmonia com a ideologia liberal. O soco e o troço do fuste do pelourinho foram preservados e montados, em 1956, no jardim arqueológico do Museu da Quinta das Cruzes. Atualmente, encontram-se no local original, integrando uma réplica do pelourinho. Do lado oposto ao pelourinho, edificou-se, na primeira metade do século XVIII, um passo processional, onde se detinha a Procissão do Senhor dos Passos, que saía da Igreja do Colégio dos Jesuítas e ia até à Igreja de São Tiago Menor, também conhecida por Santa Maria Maior ou do Socorro. Nesta área citadina foi mandado construir, pelo Regimento de Fortificação de 1572, o forte de São Filipe, também denominado de forte do Pelourinho ou fortaleza nova da Praça, que estava concluído em finais de 1581. Demolida a fortaleza em 1906, construiu-se nesse espaço um imponente edifício, conhecido por Fábrica de São Filipe, com portão para o largo do Pelourinho. Neste prédio, estavam instalados, desde novembro de 1915, os escritórios da Casa Bancária de Henrique Figueira da Silva. A Fábrica de São Filipe dedicava-se à moagem de trigo e milho e também à produção de açúcar e álcool. Esta fábrica foi assaltada por populares em 6 de fevereiro de 1931 no decurso do «movimento das farinhas», revolta popular de contestação do Decreto n.º 19 273, de 22 de janeiro desse ano, que regulava a importação de farinhas no distrito do Funchal, fixava os respetivos direitos e os preços deste produto para panificação e do pão no concelho do Funchal. Proibia a montagem de novas fábricas de farinhas no distrito e ainda o aumento da capacidade de laboração das existentes. Os sublevados protestavam contra o «monopólio das farinhas», por aquele diploma impor o consumo de farinhas da indústria nacional e determinar obrigatória autorização governamental para a importação de farinhas exóticas, sendo esta sobrecarregada com elevados direitos de importação. Neste assalto, foi assassinado, no interior da fábrica, Albino Marques Barcelos, o guarda n.º 81 da Polícia de Segurança Pública do Funchal. O edifício foi destruído por um incêndio em outubro de 1974. Por essa altura, estavam ali instalados as firmas Socarma e Manuel Mendonça & Filhos e também o quartel dos Bombeiros Voluntários Madeirenses. A sua demolição em 1989 deu azo a uma remodelação do largo do Pelourinho, com um parque de estacionamento subterrâneo, a criação da Praça da Autonomia, inaugurada no ano seguinte, e o prolongamento das ruas 31 de Janeiro e do Visconde de Anadia até à avenida do Mar. Por essa altura, procedeu-se a uma prospeção arqueológica sumária, tendo-se encontrado algumas estruturas do forte de São Filipe. A aluvião de 20 de fevereiro de 2010 obrigou a nova intervenção neste espaço urbano. No decurso das obras de união das fozes das ribeiras de João Gomes e de

LER MAIS...

Toponímia do Funchal: largos

Largo de São Paulo O Largo de São Paulo surge na bifurcação da Rua da Carreira com a Rua das Cruzes. Recebeu a denominação do actual padroeiro da capela ali existente e era uma espécie de adro deste templo católico. A capela teria sido mandada erguer por João Gonçalves Zarco, o primeiro capitão do donatário do arquipélago da Madeira, na capitania do Funchal. De início, o seu orago era São Pedro. Junto à capela, foi instituído um hospital, o primeiro do Funchal, edificado em terreno doado por Zarco no ano de 1454. Funcionou durante quinze anos. Na escritura de terras, que o primeiro capitão tomou para si, sua mulher e descendentes, feita em 1454, aparece-nos São Pedro, entre outras confrontações. Topónimo que se mantém em 1559, quando o corregedor Jácome Dias ordenou a Gonçalo de Marchena que pagasse 71 000 réis ao síndico das freiras do Convento de Santa Clara, pela dívida do foro da várzea do capitão João Gonçalves Zarco que «está à Carreira a S. Pedro». Nos acórdãos da vereação da edilidade funchalense, de 27 de Julho de 1471, regista-se uma referência a este local, designado apenas por São Pedro. O cronista madeirense, Jerónimo Dias Leite, pelo ano de 1579, ao descrever o saque dos corsários ao Funchal em Outubro de 1566, referiu também o topónimo São Pedro, para assinalar o local da morte do capitão Bertrand de Montluc. Por volta de 1584, Gaspar Frutuoso, escreveu: «Do meio desta rua de São Francisco se aparta outra, também principal, de homens mui honrados, que vai ter a São Pedro; chama-se a Carreira dos Cavalos, pelos costumarem correr nela.» No entanto, alguns documentos aludem à Igreja de São Paulo. Em 1540, por exemplo, Pedro Rodrigues, numa carta de aforamento, foi identificado como «mordomo da Igreja de São Pedro que hoje é a Igreja de São Paulo». A Capela de São Pedro ficava no «cabo da cidade», ou seja, no extremo poente da vila e depois cidade do Funchal, próximo da ribeira, também chamada pelo nome do mesmo apóstolo. Miguel Cabral da Câmara morava «além da Ponte de São Pedro», em 1574, de acordo com o termo de óbito de sua esposa. Na visitação de 1675 à freguesia de São Pedro, determinou-se a celebração de missa todos os dias santos nesta capela, situada no «fim da cidade», para os fregueses e vizinhos que, «por mal vestidos», não se podiam deslocar à sede da paróquia. A freguesia de São Pedro, instituída em 1566, extinta em 1579 e restabelecida em 1587, teve a sua primeira sede na capela com a mesma invocação, e aí se manteve até à edificação da nova igreja, concluída pelos finais do século XVI. Nos nossos dias, a Capela de São Paulo está encerrada ao culto, devido ao seu estado de degradação. Deixou de celebrar-se missa neste templo, em Junho de 2014. O edifício, que lhe está adossado do lado nascente, também se encontra em ruína, desde a abertura da circular à cota 40. Apesar de classificada como imóvel de interesse público do património cultural da Região Autónoma da Madeira, a capela vai arruinando-se, bem como a memória do primeiro hospital do Funchal. Neste Largo de São Paulo, já na continuação da Rua da Carreira, uma outra referência impõe-se no n.º 284: a casa onde nasceu o poeta Herberto Helder, em 23 de Novembro de 1930. Filho de Romano Carlos de Oliveira e Maria Ester Bernardes de Oliveira, morreu em Cascais no dia 23 de Março de 2015. Uma singela lápide assinala a efeméride. Refira-se ainda o imóvel com o n.º 278 da Rua da Carreira, onde funcionou o Lar Madeirense, fundado nos anos sessenta. Ali actuava o trio de Rui Afonso. Lugar de convívio e divertimento, constituiu pólo de atracção do Largo de São Paulo. No Diário de Notícias, da Madeira, de 23 de Outubro de 1965, p. 2, publicitavam-se as «matinés dançantes» do Lar Madeirense, a partir das 15:00 h, com entradas a 15$00, incluindo o serviço de chá. Por fim, registe-se que, na Travessa de São Paulo n.º 1, esteve a sede do Grupo Folclórico de Danças Estilizadas «Os Ilhéus», que actuava no Casino da Madeira e em diversas unidades hoteleiras. Nelson Veríssimo Professor da UMa

LER MAIS...

Toponímia do Funchal: Largo do Corpo Santo

Foi a Capela com a invocação do Corpo Santo que deu nome ao largo que lhe fica fronteiro e, em tempos mais remotos, àquela área urbana. O largo do Corpo Santo é, nos dias de hoje, lugar movimentado do Núcleo Histórico de Santa Maria, rodeado de bares e restaurantes bastante frequentados. A nomenclatura oficial situa-o na Zona Velha do Funchal, classificação, na verdade, pouco rigorosa do ponto de vista da História, por erroneamente sugerir exclusividade, em termos de antiguidade, a esta área, no processo de formação urbana. No século XV, este sítio era conhecido por cabo do Calhau, cabo aqui no sentido de extremidade ou parte final, ou seja, o extremo oriental do povoado de Santa Maria do Calhau. Com esta denominação surge, por exemplo, num acórdão camarário de 4 de março de 1486. No ano de 1497, aparece-nos a primeira referência histórica ao Corpo Santo na documentação do município do Funchal. Em 1505, numa carta de sesmaria dada pelo capitão Simão Gonçalves da Câmara ao concelho do Funchal, reafirma-se o Corpo Santo como topónimo, na alusão a limites: do “calhau de São Lázaro até o Corpo Santo”. Foi a Capela com a invocação do Corpo Santo que deu nome ao largo que lhe fica fronteiro e, em tempos mais remotos, àquela área urbana. Já não é a capela primitiva, mas um edifício do século XVI que conserva a sua traça arquitetónica. O Corpo Santo é São Pedro Gonçalves Telmo. Natural de Palência, Espanha, nasceu nos finais do século XII, cerca de 1190, e faleceu em Tui, no dia 14 de abril de 1246. Na costa ocidental da Península Ibérica era grande a devoção a São Telmo, associada a Pedro Gonçalves, provavelmente na sequência da tradição mediterrânica do culto a Sant’Ermo ou Sant’Elmo, um mártir cristão, patrono dos marinheiros. Entre as gentes do mar, nasceu a designação de fogo-de-santelmo para a descarga elétrica luminosa na atmosfera, geralmente em ocasiões de forte trovoada, que era interpretada como sinal de bom augúrio e presença do santo protetor anunciando a bonança junto dos mareantes, nas situações de iminente perigo. Abundam referências a este fenómeno na literatura, em particular, nos relatos de viagens e na poesia. Célebre é a alusão de Camões ao fogo de santelmo no Canto V d’Os Lusíadas: Vi, claramente visto, o lume vivo Que a marítima gente tem por santo Em tempo de tormenta e vento esquivo, De tempestade escura e triste pranto. Não menos foi a todos excessivo Milagre, e coisa, certo, de alto espanto, Ver as nuvens do mar com largo cano Sorver as altas águas do Oceano. Em muitos portos marítimos portugueses foram instituídas confrarias do Corpo Santo, com o respetivo templo. Na Madeira, está documentada a sua existência no Funchal, Câmara de Lobos, Calheta, Ponta do Sol e Santa Cruz. As Confrarias visavam práticas religiosas e o exercício da caridade. No caso concreto, a Confraria do Corpo Santo funcionava como uma espécie de associação de socorro mútuo, sobretudo de marítimos. Sob a invocação do Corpo Santo, pescadores e mareantes buscavam a proteção espiritual necessária para o confronto, quase diário, com o poder imprevisível do mar. Nelson Veríssimo Professor da UMa

LER MAIS...

Toponímia do Funchal: largos

Toponímia do Funchal: Largo do Encontro é a paisagem quem traça a memória e exerce o poder que das raízes emana José António Gonçalves. A vida. O escritor. Lisboa. 7 (Mar. 1996) 36. O Largo do Encontro ou, simplesmente, o Encontro situa-se no cruzamento dos Caminhos do Lombo Segundo, da Igreja Velha, de São Roque e da Fundoa (nos dias de hoje, Estrada Comandante Camacho de Freitas). Constitui um ponto de confluência dos moradores da freguesia de São Roque, do concelho do Funchal, onde, nas últimas décadas do século XX, mantinha-se viva atividade comercial. Neste largo, sobressaía, pela sua traça, um edifício do primeiro quartel do século XX, embora bastante degradado. Foi demolido, pelo Governo Regional da Madeira, em setembro passado, tendo sido alegadas razões de segurança. Apesar de não se tratar de um imóvel classificado, o Encontro perdeu a sua mais significativa memória arquitetónica. No rés-do-chão da moradia arrasada, funcionou, durante várias décadas, uma padaria, que constituía uma referência da freguesia. Pela configuração arquitetónica do imóvel, em especial pela localização da chaminé industrial, julgamos que teria sido construído de raiz com o duplo objetivo de moradia e padaria. O estabelecimento de panificação foi fundado em 1930 por Luís Francisco Xavier. Filho de José Francisco Xavier e Francisca de Jesus, Luís nasceu no sítio do Lombo Segundo em 3 de agosto de 1874. Casou, na Igreja de São Roque, no dia 8 de fevereiro de 1902, com Maria da Glória, natural da mesma freguesia e moradora no sítio do Salão, filha de António Gomes Sénior e Joaquina de Jesus, ambos naturais de São Roque. Veio a falecer em 6 de maio de 1944, no sítio do Lombo Segundo, tendo sido sepultado no Cemitério de São Roque no dia seguinte. A padaria alcançou licença plena de laboração em 1936, depois da imprescindível vistoria e cumprimento das recomendações da Delegação da Inspeção Técnica das Indústrias e Comércio Agrícolas do Funchal. Em 1942, passou a ser explorada pela sociedade comercial Xavier & C.ª Ld.ª, constituída por Carlos Gonçalves, Luís Firmino Xavier e Manuel Vieira. Encerrou no início do século XXI. Anos antes do fecho, funcionou também uma pastelaria no 1.º piso do singular edifício, com porta aberta ao nível da via pública. Em 2008, a Junta de Freguesia de São Roque, em consonância com a Câmara Municipal do Funchal e o Governo Regional da Madeira, planeou a construção de um Centro Cívico na área do prédio de Luís Francisco Xavier. Desde o início deste processo, não se contemplou, como seria recomendável, a preservação do edifício com inegável valor patrimonial, nem se desenvolveu qualquer diligência no sentido da sua salvaguarda, nomeadamente a classificação como imóvel de interesse municipal, que poderia ter sido iniciada a requerimento da autarquia local. A Tecnidesenho – Gabinete de Desenho Técnico, Ld.ª elaborou um projeto para um equipamento público, que abrigaria os serviços da Junta de Freguesia, Casa do Povo, Centro de Dia e Auditório, marcado por uma linguagem contemporânea, sem ter em conta o imóvel existente no local, o qual foi publicado na revista Anteprojectos: oportunidades de negócios na construção, n.º 202, de Abril de 2011. Apesar de, em fevereiro de 2008, na sequência de uma reunião do executivo camarário, presidido por Miguel Albuquerque, com a Junta de Freguesia de São Roque, a imprensa noticiar que a construção do Centro Cívico de São Roque iria arrancar em breve; de o Governo Regional suspender parcialmente, em julho de 2009, o Plano Diretor Municipal para possibilitar a obra; de, em 2010, ter sido declarada de utilidade pública a expropriação dos bens imóveis necessários, com a área global de 2610 m2; de, em novembro de 2011, ter sido celebrado um contrato, por ajusto direto, para o reconhecimento geológico/geotécnico do terreno, neste mesmo ano, foi a sua construção adiada sine die, através da revogação da portaria que consignava os encargos orçamentais para a empreitada, estimada em cerca de 6 milhões e 850 mil euros. Votado este prédio ao total abandono e frequentado por toxicodependentes, dois incêndios, em outubro de 2011 e maio do ano seguinte, vão contribuir fatalmente para a sua ruína. A degradação acentuou-se, nos últimos anos, e os que, no passado, idealizaram a sua demolição, vieram logo reclamá-la por motivos de segurança, esquecendo a sua responsabilidade no processo de ruína do famigerado imóvel. O Largo do Encontro perdeu o edifício que lhe conferia particular identidade. O património da freguesia de São Roque ficou mais pobre, porque, enfim, uma vez mais, quem tinha o dever de zelar pela herança cultural, não deu a devida atenção à memória do lugar. Nelson Veríssimo Professor da UMa

LER MAIS...

Toponímia do Funchal: largo do Chafariz

O largo do Chafariz, nas imediações da Sé do Funchal, é ladeado pelas ruas do Aljube e dos Ferreiros. Ali confluem também a rua do Estanco Velho e o beco de São Sebastião. Foi anteriormente conhecido por largo de São Sebastião e largo do Comércio. O nome primitivo provém da capela de São Sebastião, ali edificada no século XV. Refira-se que, em 1523, São Sebastião e São Roque foram eleitos segundos protetores do Funchal contra a peste, tendo o Senado da Câmara e o Cabido a obrigação de celebrar as respetivas festas com solenidade. Assim, a 20 de janeiro de cada ano, o Cabido, acompanhado da edilidade e do povo, dirigia-se em procissão à capela do Santo Mártir e aqui se cantava missa com sermão. Por ordem do governador D. José Manuel da Câmara, a capela de São Sebastião foi demolida em janeiro de 1803, conjuntamente com duas casas contíguas, para dar lugar à construção de um mercado. Esta atitude suscitou o protesto do prelado funchalense e a indignação popular. Em 1821, na sequência da aclamação no Funchal da Revolução Liberal, verificou-se a tentativa de reedificação da antiga capela, com prejuízo das barracas do mercado. Mas o pardieiro, então levantado, veio a ser arrasado por determinação da Câmara, de 1826, tendo o município construído, de seguida, o chafariz que lhe deu a denominação atual, com reutilização de peças do fontanário do Jardim Pequeno. De início, o mercado que, neste largo se realizava, era, essencialmente, destinado aos produtos hortícolas. No Natal, a animação era grande e vendia-se a verdura para ornamentar as lapinhas e as casas. Alberto Artur Sarmento (1878-1953), deixou-nos, em Das Artes e da História da Madeira, singular testemunho do Largo do Chafariz na véspera da Festa, dos seus tempos de estudante: “O largo de S. Sebastião era calçado aos retângulos contornados a pedrinhas brancas, com números ao centro, parecendo o pano duma mesa de roleta. Explorava então a Senhora Câmbra (Municipal) por esse tempo, uma renda assessória, pelo Natal, para venda ao ar livre: lá estavam galinhas e frangos de pés atados, estendidos num tabuleiro, de paliçada, abrindo o bico com sede e lá mesmo o chafariz a brotar água contínua pelas beiçudas carrancas; acocoradas velhas vendiam ovos; arcas continham pano de linho da terra; enormes chapéus-de-sol, de cobertura azul, ensombravam verduras borrifadas, para não emurchecer; vilões, com barretes de orelhas, ofereciam à venda bordões, réstias de alhos, cabos de cebolas, rosários de pimentas, da terra, bicudas. Ó couves, ó nabos! maunças de agriões, violetas e junquilhos aos raminhos odorantes… Alinhados renques de bota chã, feita de pele de cabra, com ourelo vermelho, era esta acertada na escadaria do largo […]” (II: 9, 1951, p. 2) Nos anos vinte do século passado, no largo do Chafariz vendia-se apenas calçado característico da ilha, fabricado principalmente em Câmara de Lobos. Alguns postais ilustram esse tempo de “mercado das botas” de um largo que hoje se apresenta como simples zona pedonal. Nelson Veríssimo Professor da UMa

LER MAIS...

Toponímia do Funchal: Largo António Nobre

A toponímia de uma cidade exprime a sua história. Muitos nomes de ruas e avenidas, caminhos e estradas, becos e travessas, praças e largos nasceram da espontaneidade popular, gerada, por exemplo, nas relações de proximidade com moradias ou estabelecimentos de notáveis, caso do Largo do Phelps, ou, então, com imóveis facilmente identificados na paisagem, como a capela do Corpo Santo, cuja invocação deu nome ao largo contíguo. Algumas designações toponímicas resultaram, no entanto, de deliberações municipais, de acordo com as motivações dos titulares dos órgãos autárquicos ou decorrentes de iniciativas de munícipes. Quando comummente aceite, a denominação perdura. Há casos, porém, em que prevalece o nome popular ou tradicional em detrimento da inscrição na placa toponímica. Na série de artigos, agora iniciada, vamos percorrer os largos do Funchal e, por ordem alfabética, daremos conta do que a toponímia sugere, a história regista e o património cultural assinala. O Largo António Nobre, nas imediações das Ruas Carvalho Araújo, do Favila e Imperatriz D. Amélia, pertence à freguesia da Sé. Aqui sobressai o Pestana Carlton Madeira, uma unidade hoteleira de cinco estrelas. Na mesma falésia, existia anteriormente o Atlantic Hotel, adquirido, em 1966, pelo madeirense Manuel Pestana. Este emigrante bem-sucedido na África do Sul construiu ali um moderno hotel, aberto ao público em 1972, com a designação de Madeira Sheraton, posteriormente ampliado e remodelado. A margem esquerda do Ribeiro Seco, a sudeste da ponte, era conhecida por Redondo, Jardim, Praça ou Largo do Ribeiro Seco. Contudo, em Outubro de 1927, a Câmara Municipal do Funchal decidiu homenagear António Nobre, atribuindo o seu nome àquele espaço. Pretendia a edilidade assinalar a sua estada na Madeira e, em especial, a sua residência naquela zona. De facto, o poeta havia-se hospedado, durante algum tempo, na Pensão Almeida, mais tarde transformada em Atlantic Hotel. António Nobre nasceu no Porto em 16 de Agosto de 1867 e morreu na Foz do Douro a 18 de Março de 1900. Face à tão apregoada benignidade do clima para a tuberculose pulmonar, o poeta viajou para a Madeira em busca de cura. Residiu, no Funchal, entre 14 de Fevereiro de 1898 e 22 de Abril do ano seguinte. Alguns dos poemas, que escreveu na ilha, foram publicados em Despedidas: 1894-1899 (Porto, 1902). Dessa época, guardam-se também algumas cartas, onde registou a beleza da paisagem insular, momentos de convívio e a evolução do seu estado de saúde. Em 28 de Dezembro de 1941, foi descerrado um busto em bronze do poeta, da autoria de Tomás Costa (1861-1932), no jardim do Largo António Nobre. Salienta-se ainda, no Largo, um fontanário datado de 1867 com painéis de azulejos azuis e brancos dos anos trinta do século XX, da Fábrica de Sacavém. Estão aí representados motivos da tradição madeirense e as armas do Funchal. Pela sua singularidade, foi classificado como de Valor Cultural Local, pela Resolução n.º 1353/93 do Governo da Região Autónoma da Madeira. Nelson Veríssimo Professor da UMa

LER MAIS...
OS NOSSOS PARCEIROS