Toponímia do Funchal: largos

Largo de São Paulo

O Largo de São Paulo surge na bifurcação da Rua da Carreira com a Rua das Cruzes. Recebeu a denominação do actual padroeiro da capela ali existente e era uma espécie de adro deste templo católico.

A capela teria sido mandada erguer por João Gonçalves Zarco, o primeiro capitão do donatário do arquipélago da Madeira, na capitania do Funchal. De início, o seu orago era São Pedro.

Junto à capela, foi instituído um hospital, o primeiro do Funchal, edificado em terreno doado por Zarco no ano de 1454. Funcionou durante quinze anos.

Na escritura de terras, que o primeiro capitão tomou para si, sua mulher e descendentes, feita em 1454, aparece-nos São Pedro, entre outras confrontações. Topónimo que se mantém em 1559, quando o corregedor Jácome Dias ordenou a Gonçalo de Marchena que pagasse 71 000 réis ao síndico das freiras do Convento de Santa Clara, pela dívida do foro da várzea do capitão João Gonçalves Zarco que «está à Carreira a S. Pedro».

Nos acórdãos da vereação da edilidade funchalense, de 27 de Julho de 1471, regista-se uma referência a este local, designado apenas por São Pedro.

O cronista madeirense, Jerónimo Dias Leite, pelo ano de 1579, ao descrever o saque dos corsários ao Funchal em Outubro de 1566, referiu também o topónimo São Pedro, para assinalar o local da morte do capitão Bertrand de Montluc.

Por volta de 1584, Gaspar Frutuoso, escreveu: «Do meio desta rua de São Francisco se aparta outra, também principal, de homens mui honrados, que vai ter a São Pedro; chama-se a Carreira dos Cavalos, pelos costumarem correr nela.»

No entanto, alguns documentos aludem à Igreja de São Paulo. Em 1540, por exemplo, Pedro Rodrigues, numa carta de aforamento, foi identificado como «mordomo da Igreja de São Pedro que hoje é a Igreja de São Paulo».

A Capela de São Pedro ficava no «cabo da cidade», ou seja, no extremo poente da vila e depois cidade do Funchal, próximo da ribeira, também chamada pelo nome do mesmo apóstolo. Miguel Cabral da Câmara morava «além da Ponte de São Pedro», em 1574, de acordo com o termo de óbito de sua esposa.

Na visitação de 1675 à freguesia de São Pedro, determinou-se a celebração de missa todos os dias santos nesta capela, situada no «fim da cidade», para os fregueses e vizinhos que, «por mal vestidos», não se podiam deslocar à sede da paróquia.

A freguesia de São Pedro, instituída em 1566, extinta em 1579 e restabelecida em 1587, teve a sua primeira sede na capela com a mesma invocação, e aí se manteve até à edificação da nova igreja, concluída pelos finais do século XVI.

Nos nossos dias, a Capela de São Paulo está encerrada ao culto, devido ao seu estado de degradação. Deixou de celebrar-se missa neste templo, em Junho de 2014. O edifício, que lhe está adossado do lado nascente, também se encontra em ruína, desde a abertura da circular à cota 40. Apesar de classificada como imóvel de interesse público do património cultural da Região Autónoma da Madeira, a capela vai arruinando-se, bem como a memória do primeiro hospital do Funchal.

Neste Largo de São Paulo, já na continuação da Rua da Carreira, uma outra referência impõe-se no n.º 284: a casa onde nasceu o poeta Herberto Helder, em 23 de Novembro de 1930. Filho de Romano Carlos de Oliveira e Maria Ester Bernardes de Oliveira, morreu em Cascais no dia 23 de Março de 2015. Uma singela lápide assinala a efeméride.

Refira-se ainda o imóvel com o n.º 278 da Rua da Carreira, onde funcionou o Lar Madeirense, fundado nos anos sessenta. Ali actuava o trio de Rui Afonso. Lugar de convívio e divertimento, constituiu pólo de atracção do Largo de São Paulo. No Diário de Notícias, da Madeira, de 23 de Outubro de 1965, p. 2, publicitavam-se as «matinés dançantes» do Lar Madeirense, a partir das 15:00 h, com entradas a 15$00, incluindo o serviço de chá.

Por fim, registe-se que, na Travessa de São Paulo n.º 1, esteve a sede do Grupo Folclórico de Danças Estilizadas «Os Ilhéus», que actuava no Casino da Madeira e em diversas unidades hoteleiras.

Nelson Veríssimo
Professor da UMa

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