O povo, quando existia, costumava dizer que nunca devemos duvidar que as coisas podem ficar ainda piores. Pois parece que 2012 será um ano exemplar para comprovar a aplicabilidade desse ditado popular. Começamos o ano com uma mensagem do reitor a anunciar que poderão faltar verbas para o pagamento de ordenados dos funcionários docentes e não docentes.
Em 2012 serão necessários cerca de 940 mil euros por mês para o pagamento de ordenados na UMa. O montante mensal disponível do Orçamento de Estado é de cerca de 728 mil euros, o que indica um défice de 212 mil euros todos os meses. Esse valor em falta deverá ser obtido através do recurso às receitas próprias da Universidade. A dúvida apresentada é assenta sobre a capacidade que a Instituição terá em recolher e gerar essa receita.
Além dessa questão vamos ser confrontados com a dúvida sobre o número de estudantes que conseguiremos captar. Provavelmente beneficiaremos do retorno de estudantes madeirenses do continente. Mas a criação de cursos não bastará num ambiente que será marcado pela dificuldade das famílias, especialmente numa região que se prepara para medidas adicionais de austeridade.
Ao nível nacional agravar-se-á o problema relacionado com o abandono de docentes e investigadores do país. O problema que se coloca na UMa sobre o atraso no pagamento de ordenados ou a falta de verbas para que se honrem tais compromissos é incomportável e inaceitável para os profissionais. Mais grave quando comparado com outros servidores do Estado que não estão sujeitos a tamanha dúvida ou angústia.
Resta-nos ficar com os professores que não recebem propostas aliciantes do estrangeiro, com os que nunca irão receber propostas em qualquer lado sem ser aqui, com os que estão já estabelecidos e não querem sair sujeitando-se às condições actuais ou com aqueles que ainda acreditam no país, pois parece que deixámos de acreditar nos nossos líderes e a crença nessa entidade intitulada nação parece ser um conforto similar ao acreditar que existe um povo.
E com os estudantes a tentação pela diáspora não é diferente. Acresce a vantagem etária e social que o jovem licenciado ou mestre possui quando comparada a um profissional estabelecido e com dependentes. E todo o investimento que o Estado despendeu na educação desse cidadão transita para outro país com menos possibilidades de retorno ou remessas financeiras como era comum, na emigração portuguesa do passado.
Os próximos meses mostrarão se a tendência de fuga será acentuada ou se nós conseguiremos retomar alguma recuperação. Quem sobrará na UMa?
Luis Eduardo Nicolau
Alumnus