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O fado de Coimbra também é fado

Também é património de Portugal e da humanidade!

A elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade constitui um marco assinalável para a nossa cultura, um motivo de orgulho para os portugueses nestes tempos difíceis de crise. É também a ilustração de que um trabalho bem pensado, bem realizado e bem apoiado dá frutos.

No meio destas comemorações e festejos Coimbra constitui, ao estilo ‘Gaulês’, uma irredutível cidade no meio de Portugal que ostenta ‘com orgulho’ o facto de não ter sido enquadrada nesta efeméride.

Será verdade que o Fado de Coimbra não é Património da Humanidade?

Sempre vi o Fado como uma das expressões mais genuínas da cultura do nosso povo e é inquestionável que quem é português ou admire a cultura portuguesa, não deixa de ficar indiferente ao som das suas melodias. O Fado cresce no seio do povo e diferencia-se de acordo com os grupos sociais que o acolhem. Se em Lisboa o Fado passou dos indigentes para a aristocracia e depois para burguesia, em Coimbra o Fado sempre esteve ligado à comunidade universitária. Os diferentes géneros de Fado exaltam as diferenças dos grupos sociais mas comungam a mesma arte, cantar em português, tocar guitarra portuguesa e acompanhar à viola. Se os burgueses, aficionados tauromáquicos, monárquicos e outros demais sectores da nossa sociedade vêem a sua música reconhecida, julgo que não faz sentido deixar os universitários de fora. Portanto o Fado de Coimbra também é Fado, também é património de Portugal e da humanidade!

Ou teremos agora que mudar o nome ao “Fado Hilário”, ao “Fado da Mentira”, ao “Fado dos Olhos Claros”, ao “Fado Corrido de Coimbra” e a tantos tantos mais?

Não me parece que seja esse o caminho, pois faz parte do senso comum português que a música de Coimbra é o Fado. Aliás, de acordo com um estudo recente de notoriedade depois de Universidade a palavra que melhor define Coimbra é Fado.

Este Fado não é regional, aliás muito pelo contrário, basta ver a origem dos nomes mais sonantes: o madeirense Edmundo Bettencourt, o açoriano Fernando Machado Soares, o aveirense Zeca Afonso, o fornense António Menano, o gaiense Nuno Guimarães, o leiriense Afonso de Sousa, o visiense Augusto Hilário ou os conimbricenses Artur e Carlos Paredes ou Luís Goes.

Todos estes grandes nomes da cultura portuguesa emprestaram o seu génio ao Fado de Coimbra tornando-o em mais um símbolo inconfundível da cultura portuguesa e creio que seria muito limitador dizer que o Fado é só de Lisboa ou só de Coimbra.

De qualquer modo, o Fado de Coimbra enquadra agora a candidatura da Universidade de Coimbra a Património da Humanidade, iniciativa que é naturalmente de louvar e de esperar que tenha o mesmo sucesso que a recente candidatura do Fado onde, em meu entender, já deveria ter figurado.

Quer atinja ou não esse tão almejado galardão, uma coisa é certa, esta música tradicional manterá certamente todo o encanto, continuará a fazer sonhar os seus ouvintes e continuará a deixar a sua marca nas gerações futuras tal como o tem feito já hà mais de século e meio.

João Farinha
Membro do Centro Cultural e Artístico Fado ao Centro, em Coimbra

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