No que diz respeito ao curso de medicina, e por extensão a todos os desafios enfrentados por esta classe profissional, a quantidade de matérias a abordar é quase diretamente proporcional aos seus problemas, pendentes de resolução. Desde o continente português às ilhas, as soluções disponíveis parecem residir na mesma lógica de “pensos rápidos”, que prometem estancar uma ferida cuja cicatrização não está para breve.
A construção do novo Hospital Central e Universitário do Funchal cria expetativas de que venhamos a ter os seis anos do Mestrado Integrado em Medicina em pleno funcionamento na Região. No entanto, segundo a Presidente da Faculdade de Ciências da Vida da UMa, atualmente nem existem condições para submeter o projeto de alargamento do curso para um 4.º ano, cuja entrega estaria prevista para março de 2025. Parece-me que, na visão de muitos, o investimento para fins formativos nesta infraestrutura é acompanhado por uma resolução milagrosa dos problemas que até agora impediram que o projeto fosse uma realidade. É exemplo desses entraves a escassez de recursos humanos, mais particularmente de docentes de carreira universitária. No presente, o curso de medicina conta com diversos colaboradores externos que asseguram a sua continuidade, sendo a sua maioria médicos especialistas no regime de assistentes convidados. Um dos pontos fulcrais para garantir uma futura operacionalização autónoma e integral do curso na Madeira será a criação de incentivos para a fixação de profissionais de saúde na carreira universitária. Por ora, a docência é tão pouco atrativa que só é escolhida a tempo parcial.

Que Futuro para o desporto em Portugal?
Tiago Sousa e Ricardo Alves foram os convidados do PEÇO A PALAVRA que falou sobre a importância e o papel do desporto na saúde mental e no bem-estar dos estudantes. A produção que passa na antena da TSF, está disponível em podcast.

Desporto, essencial ou acessório?
O Diário de Notícias recebe um espaço de opinião com o painel do PEÇO A PALAVRA, uma produção da ACADÉMICA DA
Do debate crescente, mas não inédito, sobre a retenção de profissionais de saúde no SNS surgem todo o género de ideias mirabolantes. Infelizmente, toda esta criatividade resiste em ser utilizada na elaboração de um plano consensual para uma premente mudança estrutural. Falemos sobre uma proposta, já há muito defendida pelo Partido Socialista, de que os médicos recém-formados cumpram um período de fidelização no sistema público após a conclusão da especialização. No seu cerne está a convicção de que deverá ser exigido aos médicos um retorno do investimento público na sua formação, ignorando convenientemente as causas subjacentes à fuga massiva destes profissionais. A meu ver, abordagens impositivas como esta apenas evidenciam a nossa incapacidade de projetar uma reforma a longo termo que não implique o sacrifício de milhares de profissionais.
Deixo, como sugestão para a formulação de futuras estratégias de combate à crise do nosso sistema de saúde, que os partidos políticos se preocupem em aferir as razões pelas quais em 2024, dos 2432 médicos recém-formados elegíveis para o concurso do Internato Médico apenas 1860 concorreram, deixando 307 das 2167 vagas por ocupar. Suspeito que a desmotivação destes jovens médicos, que os empurra para o estrangeiro e para o privado, possa residir na excessiva carga de trabalho acompanhada por uma desvalorização generalizada e reduzidas perspetivas de um percurso profissional próspero.

Estudantes deslocados: uma realidade anual no curso de Medicina
À semelhança dos anos letivos anteriores, verifica-se, em 2022-2023, há um número considerável de estudantes deslocados no Ciclo Básico em Medicina na UMa.

Conferência proferida por Jaakko Kaprio
Nature vs. nurture: explaining the relationship of physical activity with health – Jaakko Kaprio | 21 de abril de 2022 –
Como estudante de medicina, fico inquieta ao pensar num futuro em que as minhas mais básicas ambições pessoais e profissionais possam estar reféns de um sistema que não oferece condições laborais aceitáveis e cujos detentores do poder decisivo se refugiam cronicamente em medidas descartáveis que adiam uma reestruturação definitiva dos serviços de saúde portugueses.
Mafalda Brazão
Responsável da Secção de Promoção da Saúde da AAUMa
Com fotografia de Hush Naidoo.