Ana Costa Freitas, presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas (AMONET), destacou na entrevista ao Vozes ao Minuto a discrepância de género nos níveis superiores da carreira científica em Portugal. Apesar de as mulheres representarem “52% dos cientistas e constituírem a maioria no Ensino Superior e entre os doutorados”, há uma significativa sub-representação nos cargos de liderança. Segundo ela, “apenas 13% das reitorias são ocupadas por mulheres”, embora reconheça uma tendência de aumento com exemplos recentes em instituições como o ISCTE, a Universidade de Évora e a Universidade dos Açores.
A líder da AMONET apontou ainda os efeitos da pandemia na produção científica liderada por mulheres, que sofreu uma queda considerável. “Durante o confinamento, as responsabilidades domésticas recaíram predominantemente sobre as mulheres”, afirmou, sublinhando que este fenómeno comprometeu a produtividade académica feminina. Para Ana Costa Freitas, isto ilustra como “o equilíbrio de género na ciência é frágil e pode retroceder” sem esforços contínuos para promover a igualdade.

Apenas 18% das queixas de assédio no ensino superior resultaram em sanção
Apenas 18% das 218 queixas de assédio registadas no ensino superior entre 2019 e 2023 resultaram em sanções, revelando falhas nos mecanismos de denúncia e apoio às vítimas.

Vice-reitora acredita “que o Portal do Denunciante pode facilitar a denúncia pelo facto de permitir o anonimato”
A ET AL. entrevistou Catarina Fernando, vice-reitora da UMa. A universidade disponibilizou o Portal do Denunciante, um canal que permite realizar
Outro tema abordado foi o assédio na academia, que Ana Costa Freitas considera ser “um sítio propício porque há relações de poder”. De acordo com a antiga Reitora da Universidade de Évora, é fundamental discutir este problema abertamente e implementar medidas para garantir “um ambiente académico seguro e equitativo para todos”. Esta questão, segundo a presidente da AMONET, está diretamente ligada à necessidade de uma mudança cultural que enfrente os desequilíbrios de poder na ciência.
Para acelerar a igualdade de género nos cargos de liderança, Ana Costa Freitas defendeu a implementação de quotas como medida temporária. “As quotas não são uma solução definitiva, mas podem ser um impulso necessário para corrigir desequilíbrios históricos e culturais”, explicou. Esta abordagem, na sua visão, é essencial para alcançar uma representação mais justa das mulheres em posições de destaque na academia.
Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Miguel Figueiredo Lopes/Presidência da República.