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Vicente Jorge Silva, um madeirense que “tentou encontrar um rumo para a sua vida”

Vicente Jorge Silva, herdeiro da conhecida Photographia  Vicente's, foi um dos mais notáveis jornalistas de origem madeirenses. Esteve no desenvolvimento de vários periódicos nacionais e foi deputado à Assembleia da República, marcando a história da democracia e da liberdade de expressão no nosso país.
Ilustração da obra VIDAS (DES)CONHECIDAS: VICENTE JORGE SILVA de Rúben Castro e Manuel Salvador Roldán, editado pela CADMUS.

Depois da artista plástica Lourdes Castro e da escritora Luzia, a Cadmus apresenta o terceiro volume da coleção VIDAS (DES)CONHECIDAS: VICENTE JORGE SILVA de Rúben Castro e Manuel Salvador Roldán.

A ET AL. entrevistou o autor do texto desta obra, Rúben Castro, antigo editor desta mesma revista.

Rúben, estudaste na UMa, continuas a colaborar com a ACADÉMICA DA MADEIRA e já dirigiste esta mesma publicação, além de ter escrito nela. Fala-nos da tua carreira desde então?

Se me permitires a ousadia, porque é isso que digo a muita gente, a minha carreira profissional começou na ACADÉMICA DA MADEIRA. Na altura, sem saber. Tive a sorte e o privilégio de estar integrado num grupo de estudantes cheio de energia, com vontade de fazer coisas, e orientado não só para o futuro académico, como também para o profissional. Acho que essa foi a base ideal para lançar os alicerces da minha carreira, porque aprendi e cresci muito no tempo em que estive na UMa e como voluntário da ACADÉMICA DA MADEIRA. Estarei para sempre grato para com todos os que contribuíram para isso.

Depois da passagem como editor da Revista JA (Jornal Académico) e da ET AL., desempenhei funções como redator, produtor e jornalista em vários órgãos de comunicação social e entidades na Madeira, Lisboa e em Bruxelas. Fui também Assistente Parlamentar Acreditado, no Parlamento Europeu, onde tinha a responsabilidade de coordenar a comunicação e seguir a Comissão de Cultura e Educação do Parlamento Europeu. Desde 2020, encontro-me a colaborar com a Federação Europeia de Academias de Medicina, em Bruxelas, como responsável pela política científica e pela comunicação. Até ao ano passado, como voluntário, colaborava também com a ONE, uma organização não-governamental focada no combate às desigualdades sociais e à pobreza extrema.

A nível académico, depois de terminar a licenciatura em Estudos de Cultura na Universidade da Madeira, concluí um mestrado em Jornalismo na Universidade Nova de Lisboa. Neste momento, estou a terminar um mestrado avançado em Integração Europeia, no Instituto de Estudos Europeus da Universidade Livre de Bruxelas (VUB).

Entre tudo isto, nunca faltou espaço para uma das minhas grandes paixões, o andebol. Na Madeira, passei por vários clubes, incluindo o Marítimo, e em Bruxelas continuo a desfrutar deste desporto no United Brussels.

A vida de Vicente Jorge Silva foi longa e repleta de atividades. Como foi o desafio de condensar o essencial de uma vida profissional multifacetada?

Acho que desafio é a melhor palavra para essa tarefa, a de condensar uma vida tão rica como a de Vicente Jorge Silva. O que tentei fazer foi realçar os momentos que considerei mais marcantes na sua história profissional. Desde quando começou a escrever rubricas sobre cinema, passando pela carreira como jornalista, até à sua eterna paixão pelo mundo cinematográfico.

A maior dificuldade surgiu na necessidade de filtrar as histórias que fui desvendando, retirando os meus interesses da narrativa – ou passagens que a mim diziam-me muito –, e pensar nos pontos mais cativantes para um leitor mais jovem que não conheça Vicente Jorge Silva. Porque esse é o objetivo desta pequena obra: dar a conhecer a vida de um grande madeirense, do qual nos devemos orgulhar. Espero que tenha conseguido honrar o legado que ele deixou porque é, sem dúvida, uma das maiores referências do jornalismo português. O que enaltece o trabalho da ACADÉMICA DA MADEIRA em divulgar a sua vida.

O livro conta episódios bastante pessoais e antigos da vida de Vicente Jorge Silva. Onde foste buscar estes relatos?

O Vicente Jorge Silva deixou-nos em 2020. Teria sido muito bom poder ter tido a felicidade de falar com ele e de desbravar estes episódios. Nessa impossibilidade, tentei basear-me numa longa conversa que ele teve com a jornalista Isabel Lucas, publicada em livro, e em entrevistas dadas a vários órgãos de comunicação social, como a RTP 1, a RTP-Madeira, o Público, o Expresso, entre outros. Esse foi um exercício enriquecedor que me ajudou a estabelecer uma linha cronográfica dos acontecimentos mais relevantes da sua vida.

A questão da investigação passou também pela leitura de vários artigos que o Vicente Jorge Silva escreveu ao longo da sua vida, bem como pela visualização de algumas das suas contribuições cinematográficas. Procurei ainda falar com pessoas que privaram com ele.

O texto é como uma breve biografia. Já tinhas tido este tipo de experiência de escrita antes?

Na verdade, esta é a primeira vez que escrevo algo deste género – e espero ter conseguido fazê-lo bem. Por conta do trabalho jornalístico, já me tinha aventurado pela arte do perfil, mas nunca neste estilo.

Para além da escrita de base profissional, tenho-me focado em escrever poesia e pequenos contos, pelo que tentar desenvolver a biografia de alguém tão relevante, com uma história tão rica, foi um excelente desafio. Até porque me retirou da minha zona de conforto. A preparação para algo deste género foi enriquecedora, porque durante este tempo aprendi muito sobre e com o Vicente Jorge Silva. Deixo aqui o meu agradecimento à ACADÉMICA DA MADEIRA e à sua editora por esta oportunidade.

Tal como Vicente Jorge Silva, o Rúben és um madeirense que tem desenvolvido a sua carreira longe da Região. Aos futuros graduados que pensem migrar, que conselhos darias?

Acho que um dos pontos importantes, desta tarefa que é viver, é encontrar um sentido para a vida. E isso nem sempre é possível. Existem momentos na nossa existência em que as coisas não parecem ser tão claras. Uma das maneiras de encontrar esse sentido é através da curiosidade. E esse é talvez o meu primeiro conselho. Que explorem as suas possibilidades. Que vão além dos seus interesses e do que aprenderam nos seus cursos. Que tenham a abertura para descobrir e conhecer outros campos de saber. Que não olhem apenas para si, mas também para o mundo que os rodeia.

Na sequência da última frase, vem o segundo ponto. Cultivem empatia. Aprendam a ver o mundo para além dos seus próprios olhos. Quando aprendemos a entender o que os outros estão a sentir, acabamos por relativizar muita coisa. Tanto na vida profissional como na privada, acho que essa é uma das características fundamentais.

O terceiro ponto é que tenham calma. Que não cedam à tentação de se compararem com os outros. Cada um de nós tem o seu ritmo e o mais importante é confiar naquilo que estamos a fazer. Se formos disciplinados, se houver perseverança, esse é já um passo em frente para alcançar aquilo que queremos. Mesmo assim, o sucesso não é garantido. Aí, é outra vez importante manter a calma e, por mais que custe, recomeçar. E quando estamos fora do nosso país, longe da família e de alguns dos amigos mais próximos, ser resiliente e ter calma é fundamental. Penso que este deverá ter sido um ponto importante para o próprio Vicente Jorge Silva, que esteve em Paris sem familiares, e depois em Inglaterra – aí já com algum apoio familiar –, e que, dentro do seu próprio ritmo, tentou encontrar um rumo para a sua vida.

De outro ponto de vista, se calhar mais pragmático, é que se tencionam migrar têm de aprender línguas. A nível profissional o inglês é prioritário. Obrigatório, até. No entanto, os empregadores veem como uma mais valia o facto de alguém ir além da língua inglesa. Dependendo do país que escolham para dar esse passo, aprender a língua local é também importante na perspetiva da integração.

Existem imensas oportunidades para quem quer ter uma primeira experiência fora do país. Para além do programa Erasmus+, existem outras entidades – incluindo as instituições europeias – que proporcionam a possibilidade de um estágio profissional noutro país da União Europeia. Essa poderá ser uma porta de entrada para estabilizarem-se noutro país.

Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.
Com ilustração de Manuel Salvador Roldán.

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