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Quando D. Quixote afrontou a cultura nazi: Carlos Martins

MADEIRA MAR DE NUVENS, da autoria de Carlos Martins, é o n.º 12 da coleção ILUSTRES (DES)CONHECIDOS, editada pela IMPRENSA ACADÉMICA e já disponível nas principais livrarias do país.

A IMPRENSA ACADÉMICA descreve a obra como “uma sofrida aventura que prende o leitor até à última página”. MADEIRA MAR DE NUVENS é um dos seis lançamentos da editora da ACADÉMICA DA MADEIRA para o verão de 2022.

“Não me arrependo de nada do que fiz na vida. Amei, comi, bebi, diverti-me, estou satisfeito”. Foi dessa forma que Carlos Martins era citado pelo jornalista Luís Calisto, do Diário de Notícias, na reportagem “Cavalgadas Boémias em mar de nuvens: a vida fascinante do estroina mais famoso da Madeira: o escritor Carlos Martins”, publicada a 15 de maio de 1983, menos de dois anos antes da morte do autor.

Carlos de Freitas Martins, que seria descrito como um bon vivant, nasceu em 7 de abril de 1909, na freguesia da Sé. Aos 12 anos foi institucionalizado num colégio interno, na Figueira da Foz, passando depois por outros em Lisboa, Londres, Manchester, Berlim e Hamburgo, apenas regressando aos 17 anos. Algum tempo depois, ruma para Angola. Foi nessa colónia que casou, logo aos 19 anos, tendo-se divorciado em pouco tempo. Serão cinco os casamentos da sua vida.

Na reportagem de Luís Calisto foi relatado o episódio “Zaragata Monumental”, ocorrido em 1938, quando Carlos Martins voltara à Madeira. Foi a revista londrina Cavalcade (1936-1950) que noticiou um incidente que ilustrou o “cavalheiro português” como um herói contra os nazis, “os bárbaros do norte”.

Quando a Segunda Guerra Mundial teve início, Carlos Martins vivia no antigo hotel Savoy, numa vida boémia que iria marcar as décadas seguintes. Como explicou a IMPRENSA ACADÉMICA, seria “preso dezenas de vezes por se mostrar publicamente embriagado e por ser desordeiro, chegando a ser internado no manicómio do Trapiche durante dois anos. De lá se evadiu para acabar novamente capturado e preso mais um mês”.

Carlos Martins passaria vários anos no Monte, na Quinta Monteverde. Foi esse o local da sua entrevista ao Diário de Notícias e onde viria a falecer, a 25 de janeiro de 1985.

MADEIRA MAR DE NUVENS, editado em 2022 pela IMPRENSA ACADÉMICA, conta com o prefácio de Thierry Proença dos Santos, intitulado “Carlos Martins, o escritor esquecido de uma literatura de entretenimento e transgressão”. O posfácio, “Língua, natureza, sociedade e cultura em MadeiraMar de Nuvens de Carlos Martins” é assinado por Helena Rebelo.

De acordo com nota da IMPRENSA ACADÉMICA, a obra “mistura a ficção com recordações da atribulada juventude de Carlos Martins: a família rica e de prestígio, os desnorteios e as suas andanças de um lado para o outro, as experiências que teve e as paixões exacerbadas, que lhe valeram uma mão cheia de casamentos, todos de curta duração”. O protagonista, Fernando Porto Moniz, “é um homem de paixões fortes que se envolve com uma estrangeira chamada Ramona. Ambos são jovens, elegantes e de fortuna e vivem um romance idílico entre valsas em salões e cavalgadas em paisagens de cortar a respiração”. Fernando mostrará “à namorada o seu outro grande amor, a Ilha da Madeira. Este paraíso atlântico, além de hotéis de luxo e champanhe, é uma terra de vilarejos pacatos, florestas verdejantes, majestosas montanhas e mares de nuvens a perder de vista”. Contudo, uma manhã, o protagonista “acorda do seu sonho dourado, longe de casa e casado com outra mulher”. Fica a pergunta da editora: o que aconteceu? Terá que descobrir.

Como escreveu Helena Rebelo, “a linguagem de Carlos Martins é um testemunho de um presente social e cultural que é passado e pode contribuir para a História da Língua Portuguesa, como o exemplo da Madeira do século XX, em particular pela altura da designada Segunda Guerra Mundial”. Fica o convite aos leitores para (re)descobrir o trabalho Carlos Martins, numa edição inédita da IMPRENSA ACADÉMICA, sob a coordenação literária de Thierry Proença dos Santos, revista a partir das edições anteriores, de 1945 e 1972.

Luís Eduardo Nicolau
ET AL.

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