Assessoria Linguística

Assessoria Linguística

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“Usar qualquer língua obriga à reflexão sobre ela. A Assessoria Linguística deveria ser indispensável para evitar usos desadequados.”

Em dois meses, disseminou-se um vocabulário que marca 2020: “Coronavírus”, “pandemia”, “isolamento social” (Pode um isolamento ser social?), “máscara”, “tele-ensino”, “teletrabalho”, “Covid-19”, etc. A lista é longa e observam-se hesitações. Por exemplo, “pandemia” é do género feminino. Porém, “vírus” é masculino, assim como “Coronavírus” ou “Covid-19”. No entanto, ouve-se, e lê-se, este último no feminino. Mesmo influenciado por “pandemia”, não deixa de ser um masculino: “o Covid-19”.

A Assessoria Linguística deveria ser requerida por políticos e outros profissionais, incluindo docentes. Foi alarmante ouvir repetir “OK”, numa aula de Português para o 1.º ano e o 2.º do 1.º Ciclo do Ensino Básico, na televisão nacional. Pode desculpar-se o nervosismo da docente, mas generalizar, em português, este acrónimo inglês (de uso coloquial e popular), numa sala de aula televisiva, destinada a crianças de 6-7 anos, não deixa de ser preocupante.

Recentemente, perguntavam-me se se podia dizer “uma esmagadora maioria” e “uma grande maioria”. Será adequado associar características como “esmagadora” e “grande” a um nome como “maioria”? Embora não fazendo muito sentido, devido à imprecisão daqueles adjectivos, “maioria” pode ser qualificada. Diz-se “maioria absoluta” e “maioria relativa”, em situação de votação. Os adjectivos colocados antes do nome, mas também depois, (como “esmagadora”) vão indicar qualidades pontuais e os colocados após (como “absoluta”) identificam, nestes casos, categorias diferentes de “maioria”.

Aceitam-se ambos: “uma inesquecível maioria absoluta”. Num determinado conjunto de elementos, considerando “maioria” o subconjunto correspondente a “metade mais um”, não seria necessário qualificá-la. Todavia, às vezes, é mais do que isso. Desconhecendo-se a quantidade certa, é possível adicionar qualificativos que introduzam ideias vagas como a de “esmagadora” (que derrota, “esmagando”, o adversário menos votado, se houve votação).

Assim, “maioria” equivale a um número que ultrapassa em muito a linha de “metade mais um”, sem se saber qual é a contagem final. Não se precisando quantos são, apenas se quer realçar que a “maioria é inequívoca”. A Assessoria Linguística profissional deveria ser uma exigência. Vejam-se os casos de “tez” e “rês”.

1. A …………………. da cebola é acastanhada.

Preencher o espaço com a forma certa: tez/ tes/ tês/ têz.

Solução: A tez da cebola é acastanhada.

Explicação: A etimologia de “tez” (“superfície fina de qualquer coisa, incluindo a epiderme do rosto”) é de origem duvidosa. No passado, escreveu-se “tex” e “tês”, fixando-se com “z”, por, segundo Corominas, ter origem em “*atez, por aptez”.

2. O agricultor comprou uma ………………………

Preencher o espaço com a forma certa: rez/ res/ rês/ rêz.

Solução: O agricultor comprou uma rês.

Explicação: Um animal quadrúpede destinado à alimentação humana é uma “rês”. Virá do árabe: “rá,s”, significando “cabeça”. Estão atestadas “rex”, “res” e “rezes”, fixando-se “rês”.

HELENA REBELO
Professora da UMa

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