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O regresso às origens do convento de São Bernardino de Câmara de Lobos

O antigo convento de São Bernardino de Câmara de Lobos foi objeto de uma ampla campanha de obras nos dois últimos anos, voltando assim às origens e a ser novamente ocupado por franciscanos.

O primeiro convento franciscano fora do Funchal teve por titular São Bernardino de Sena e foi fundado em Câmara de Lobos, por volta de 1459 a 1460, em lugar ermo e solitário. O convento teve uma humilde origem, mas tornou-se depois célebre e afamado por ter ali vivido e falecido frei Pedro da Guarda (1435-1505), a que o povo chamou, e chama, o Santo Servo de Deus. Crescendo o número de religiosos, também cresceu o conjunto de edifícios, sucessivamente ampliado e reconstruído.

A capela-mor da igreja foi fundada por Rui Mendes de Vasconcelos (c. 1460-c. 1520), neto de Zarco, e sua mulher Isabel Correia, filha dos doadores do terreno. A capela teria sido reconstruída por 1533 e a lápide em causa, transferida para o adro da igreja, onde se encontra. Data de cerca de 1633 a construção de três pequenas capelas na cerca, levantadas em homenagem a frei Pedro da Guarda e por esses anos igualmente fizeram-se obras nos claustros e na casa do capítulo. Voltaram a ocorrer obras em 1735, que ficaram registadas na cruz do frontispício da igreja, após o que foram dotados os claustros de azulejos dos meados do século XVIII.

As receitas do convento provinham essencialmente de foros e de missas, sermões na colegiada de Câmara de Lobos, tal como da venda de túnicas, hábitos de saial e de burel para mortalhas, aspeto que igualmente era praticado nos restantes conventos franciscanos masculinos da ilha. O convento vivia ainda dos peditórios periódicos e da venda dos produtos agrícolas das suas propriedades.

O convento voltou a ter obras após o terramoto de 1748, que afetou bastante toda esta área e, então quase uma nova reconstrução, após a terrível aluvião de 9 de outubro de 1803. Os estragos foram imensos, registando-se então que a ribeira da Saraiva ou ribeiro dos Frades levara “a cerca, claustros, cozinha, refeitório e adega” do convento, de que só ficara a igreja e a casa dos romeiros.

O convento foi extinto em 1834, na reforma eclesiástica empreendida pelo governo liberal, sendo o edifício vendido em hasta pública, em 1872. Em 1898, os proprietários venderam-no ao bispo do Funchal, no que foi mais uma doação do que uma venda. As ruinas do velho convento vieram a ser recuperadas por iniciativa da madre Mary Jane Wilson (1840-1916) e depois, do pároco de Câmara de Lobos, padre João Joaquim de Carvalho (1865-1942), entre 1924 e 1928.

A igreja seria de novo benzida em 1926 e o conjunto voltou a ter obras para a instalação da nova paróquia de Santa Cecília, a partir de 1960, decorrendo em 2014 novas obras de reabilitação, segundo projeto de 2006 dos arquitetos Victor Mestre e Sofia Aleixo, que fizeram o acompanhamento da obra para voltar a ser ocupado por franciscanos.

Rui Carita
Professor da UMa

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