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É urgente combater o tráfico de seres humanos

Já todos terão ouvido histórias de amigos que, nos meses de Verão, ganharam dinheiro na apanha do morango, em França. Outros contam histórias das férias que tiveram enquanto faziam de au pair a umas crianças na Alemanha. Exemplos de trabalhos que muitas vezes são um chamariz para traficar seres humanos. “Toda a profissão pode ter vítimas de tráfico, mas há algumas identificadas como sendo mais problemáticas, porque são intensivo-laborais, pouco reguladas e de grande rotação”, refere Cláudia Pedra, Coordenadora Executiva do Projecto de Combate ao Tráfico de Seres Humanos do IEEI. Pelo sim, pelo não, a especialista aconselha: antes de sair do país para trabalhar, visita sempre a Embaixada do local de destino e mostra o contrato de trabalho, para perceber a sua veracidade.

Para muitos especialistas, o tráfico de seres humanos é a forma moderna de escravatura. Não se pense, no entanto, que apenas acontece aos mais ingénuos. Com o passar dos anos, as “técnicas de recrutamento” de pessoas foram-se aperfeiçoando e hoje os traficantes recorrem a empresas fictícias, contratos de trabalho falsificados e até a entrevistas de emprego em tudo semelhantes às verdadeiras. Desengane-se também quem pensa que apenas são traficadas mulheres, pois o tráfico de seres humanos não tem como único intuito a exploração sexual. Em quintas escondidas em vários países, incluindo Portugal, há homens e mulheres a trabalharem na agricultura de sol a sol, sem salário e vivendo em condições desumanas. A isto se chama tráfico para exploração laboral, cujos números têm aumentado.

Para além de tudo isto, há ainda as pessoas que são “roubadas” para tráfico de órgãos, para servidão doméstica, para serem utilizadas em roubos e outros crimes, entre outros. A tudo isto se chama tráfico de seres humanos e é um negócio que tem vindo a crescer. Porquê? Basta ler o que Joana Daniel-Wrabetz, Chefe de Equipa do Observatório do Tráfico de Seres Humanos, referiu na publicação Tráfico Desumano, do Ministério da Administração Interna: “nas palavras de um traficante: «Podes comprar uma mulher por 10 mil escudos (50 euros) e podes ter o teu dinheiro de volta numa semana se ela for bonita e jovem. Depois, tudo o resto é lucro”». Contas que fazem do tráfico de seres humanos a segunda actividade criminal mais lucrativa do mundo, só precedida pelas drogas ilegais e superando o comércio de armas.

O que pode travar este negócio? Eu, tu, todos nós juntos. Como? Primeiro, tendo cuidado com os empregos no estrangeiro. Em segundo lugar, estando atentos e denunciando situações suspeitas (pela Linha Nacional de Emergência Social, 114, ou para a SOS Imigrante, de segunda a sexta-feira, entre as 8:30 e as 20:30, pelos 808 257 257 / 218 106 191). Em terceiro lugar, fazendo escolhas responsáveis no momento das compras, pois o tráfico de pessoas para fins laborais só existe porque a todos nós interessa pagar por uns ténis menos de 10 euros ou 3 euros por uns óculos escuros. Por último, façam o mais simples: divulguem este assunto pelos vossos familiares e amigos. Para isso, aproveitem o Dia Europeu contra o Tráfico de Seres Humanos, que se assinala a 18 de Outubro, e sejam a voz das cerca de 2,4 milhões de pessoas que se sabe serem todos os anos traficadas.

Cátia Silva
Coordenadora Editorial da Amnistia Internacional Portugal

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