A entrevista de Eduardo Marçal Grilo ao Público, conduzida por Bárbara Wong, revela reflexões profundas sobre a educação em Portugal, destacando o papel transformador de figuras como Veiga Simão e Sottomayor Cardia. Marçal Grilo afirma que “um curso superior é apenas um diploma para se começar a aprender”, sublinhando a necessidade de continuar a investir na formação humanista e na leitura, aspectos que considera cruciais para a compreensão do mundo e para a preparação de profissionais mais completos.
Marçal Grilo revisita a história da educação portuguesa, nomeadamente o período entre a Primavera marcelista e 1978, tema central do seu mais recente livro, Educação e Liberdade. O autor refere que este trabalho é “um misto” de história e memória, destacando o impacto das reformas implementadas por Veiga Simão, que “mobilizou uma parte significativa da sociedade portuguesa” com a criação de novas universidades e institutos superiores, e por Sottomayor Cardia, que normalizou o sistema educativo após os “saneamentos selvagens” do PREC.

Ensino Superior na lógica do Estado Novo
Na edição anterior, o “Academia”, sobre a origem do Dia Nacional do Estudante, referiu a natureza repressiva do Estado Novo no que toca aos estudantes universitários de então. Depois de abril, mês em que se comemora a Revolução dos Cravos de 1974, o JA aproveita para dissecar a evolução do Ensino Superior Português sob a égide do governo de Salazar.
A carência de formação humanista nos currículos escolares e universitários é outro tema abordado. Marçal Grilo lamenta a falta de disciplinas que permitam aos estudantes compreender melhor as questões humanas e sociais, defendendo que esta lacuna se reflete na falta de sensibilidade em várias profissões. O antigo governante recorda a célebre frase, “os médicos que só sabem de Medicina, nem de Medicina sabem”, um argumento, entende, é extensível a todas as áreas de formação.
Por fim, o ex-ministro da Educação reflete sobre os desafios atuais, como a falta de professores e a ascensão de discursos extremistas. Marçal Grilo critica a falta de estratégias educativas que preparem os cidadãos para a cidadania ativa, embora ressalve que “a subida da extrema-direita não é um fenómeno português”, revela na entrevista. Defende uma educação que promova o pensamento crítico, a leitura e a liderança, elementos fundamentais para formar uma sociedade mais preparada e tolerante.
Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Philippe Bout.