Um recente relatório apresentado pelo ISCTE, e elaborado por especialistas portugueses e africanos, revela os desafios enfrentados pelos estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) em Portugal, destacando a necessidade urgente de medidas para facilitar a sua integração e sucesso académico.
De acordo com o relatório “Perfil do Estudante dos PALOP nas Instituições do Ensino Superior em Portugal”, apesar de muitos estudantes africanos demonstrarem fortes competências académicas, enfrentam dificuldades significativas na integração devido a diferenças nos sistemas de ensino, barreiras linguísticas e desafios económicos. Clara Carvalho, coordenadora do estudo, enfatizou, na apresentação que estudantes “não têm falta de competências em termos académicos, mas têm muita dificuldade de integração, não conhecem as matérias, não conhecem a forma de ensino e têm, muitas vezes, dificuldades linguísticas”.
Os sistemas de ensino dos PALOP e de Portugal apresentam diferenças significativas que passam, segundo o relatório, pela língua, em que mesmo falando de países em que o Português como língua oficial, existem diferenças dialetais, a dificultar a comunicação dos alunos com os professores e colegas portugueses, e pela falta de familiaridade com a cultura portuguesa, o que pode afetar seu desempenho académico e bem-estar dos estudantes oriundos dos PALOP.
Para mitigar essas dificuldades, o relatório sugere a implementação de um período preparatório, denominado “semestre zero”, em algumas instituições de ensino superior. Este período permite aos alunos adaptarem-se à pedagogia e ao sistema de ensino português, sendo uma medida eficaz para promover a sua integração.
Para os investigadores, este semestre preparatório teria como objetivo fornecer aos alunos dos PALOP: aulas de Português para aperfeiçoar o conhecimento dos alunos da língua, com foco na linguagem académica; aulas de cultura portuguesa com interesse em diversos aspetos, tais como história, arte, literatura e costumes; orientação académica para ajudar os estudantes a escolher um curso e a preparar-se para o ingressarem no ensino superior; apoio psicológico para ajudar a lidar com as dificuldades da adaptação à vida em Portugal.
Instituições que já adotaram estratégias semelhantes reportaram resultados positivos, especialmente universidades privadas e uma pública que implementaram o semestre de preparação, que tem facilitado não só a integração dos alunos, mas também a continuidade dos estudos.
Adicionalmente, o relatório propõe a criação de provas de ingresso adaptadas para estudantes dos regimes especiais provenientes de países sem exames nacionais, bem como o fortalecimento de protocolos entre instituições para agilizar o processo de atribuição de vistos.
O aumento exponencial de estudantes dos PALOP em Portugal ,nos últimos anos, como os guineenses, cujo número aumentou 900% entre 2015 e 2021, tem sido crucial para o sustento de determinados cursos em instituições do interior do país. Clara Carvalho destacou o Instituto Politécnico de Bragança como um exemplo positivo, celebrando os protocolos estabelecidos com autarquias locais e outras entidades para atrair estudantes africanos.
Cabo-Verde é o terceiro país de língua portuguesa que mais tem contribuído com estudantes internacionais no ensino superior português, depois do Brasil e da Guiné-Bissau e superando Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Desde 2018, UMa é uma das instituições que tem acolhido jovens cabo-verdianos, em acordos resultantes do Programa Operacional de Cooperação Territorial Madeira – Açores – Canárias.
Os dados últimos dados publicados pela DGES, embora não discriminem a nacionalidade, indicam que UMa no ano letivo 2022-2023 totalizou 331 estudantes estrangeiros, em cursos de CTeSP, licenciatura e mestrado. Os cursos que mais estudantes estrangeiros tiveram foram as licenciaturas em Gestão (20), em Economia e em Comunicação, Cultura e Organizações (18, em ambas), em Línguas e Relações Empresariais (17) e em Enfermagem (15).
Carlos Diogo Pereira
ET AL.