Licenciada em Bioquímica e mestre em Bioquímica Aplicada pela Universidade do Minho, Sara Bettencourt foi bolseira de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e é investigadora do CENSE – Center for Environmental and Sustainability Research, centro FCT NOVA, e do MARE – Centro de Investigação em Ciências do Mar e do Ambiente, cujo polo, na Região, está sediado no Madeira Tecnopolo e é apoiado pela agência ARDITI.
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Novo Laboratório Nanova permitirá alavancar a investigação em materiais avançados sustentáveis
O novo Laboratório de Nano Caracterização e Materiais Avançados Nanova da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
Sara Bettencourt, segundo a Universidade Aberta no início de agosto, “defendeu a sua tese de doutoramento sobre lixo marinho […] e obteve 19 valores”, além de que o “trabalho desenvolvido valeu-lhe, ainda, uma distinção.”
Ao que pode apurar, no estudo realizado, que quantidade de lixo acaba nas praias do Funchal anualmente?
O estudo foi realizado em duas praias do concelho do Funchal (Praia Formosa e Praia Almirante Reis) durante dois anos. Neste período, foram feitas oito amostragens em cada uma das praias e no total recolheram-se 14 265 itens, perfazendo mais de 185 kg de lixo.
Em entrevista à RTP-Madeira, indicou que, com a mudança das estações, há diferenças nos lixos largados. Como variaram os resíduos que amostrou com a sazonalidade?
Durante os dois anos, foram feitas amostragens nas quatro estações do ano, de acordo com as diretrizes da OSPAR (que estabelece uma metodologia de monitorização de macro-lixo e que é comumente usada a nível internacional), e observaram-se algumas diferenças nas categorias de lixo recolhido.
As beatas e filtros de cigarro, por exemplo, encontravam-se em maior quantidade nos meses de verão-outono nas praias amostradas. Já para os itens de plástico não foi possível estabelecer uma relação com a estação do ano em que eram recolhidos, variando a sua quantidade nos diferentes meses e praias analisadas.
Do ponto de vista do produtor de lixo, quando se fala em plástico, metal ou papel encontrados nas nossas praias, conseguiu determinar a tipologia dos objetos aos quais pertenciam estes materiais?
Os objetos recolhidos foram todos eles separados de acordo com o material. Isto é, os itens de plástico foram separados dos de papel, por exemplo, e todos contados. O que se fez foi fazer subgrupos dentro de cada categoria.
Nos plásticos existiam muitas categorias: sacos, garrafas, embalagens de alimentos, invólucros de snacks, cápsulas/argolas das tampas, copos, palhinhas, entre outras, que nos permitiram perceber que objetos são mais comuns dentro de cada grupo.
No grupo dos plásticos, nas praias que foram analisadas encontraram-se, a título de exemplo, vários invólucros de snacks, esponja de espuma e pedaços de PVC. Já embalagens de cigarros, invólucros de chicletes e rótulos foram alguns dos itens de papel encontrados.
No seu estudo indicou que muito lixo encontrado nas praias do Funchal é despejado nas ribeiras. Que medidas considera importantes para que os funchalenses em particular, e madeirenses em geral, mudem de comportamento?
Após recolher o lixo tentou-se perceber as suas possíveis origens e vias até às praias. Considerando a orografia da ilha e alguns dos objetos encontrados, as ribeiras surgem como uma provável via de transporte de lixo. Assim, torna-se necessário sensibilizar a população para a questão do lixo marinho, informando que o lixo incorretamente depositado pode ser transportado e terminar no mar, mesmo que esteja muito longe dele (como é o caso de alguns objetos abandonadas nas zonas mais altas da ilha).
A população tem de compreender que o lixo marinho é uma realidade no local onde habita e que impacta de muitas formas o desenvolvimento sustentável da sua região. Esta é outra forma importante de veicular a mensagem de que é necessário mudar comportamentos.
Uma parte do trabalho de doutoramento “foi publicado no seguinte artigo científico: https://doi.org/10.1016/j.rsma.2023.102991 (Bettencourt et al. 2023)”, como referiu a investigadora. Segundo o artigo, na Madeira, “uma região premiada várias vezes como ‘Destino de Ilha Líder na Europa’ e com uma orografia particular, existe um entendimento escasso da situação dos resíduos marinhos”.
Das amostragens realizadas nas praias do Funchal, identificaram-se como principais resíduos “pontas de cigarro (30,9%) e objetos de plástico (30,7%) […], seguidos por papel/papelão (9,2%) e objetos de metal (8,3%)”.
Entrevista conduzida por Carlos Diogo Pereira.
ET AL.
Com fotografia de Narja Berlot.