Uma viagem à Madeira de 1840

Uma viagem à Madeira de 1840

Giuseppe Abate, mestre em Linguística na UMa, traduziu e reviu, para o português moderno, obras sobre a Madeira do século XIX da autoria de visitantes estrangeiros. Uma delas foi editada em 2023 pela IMPRENSA ACADÉMICA, uma das editoras da ACADÉMICA DA MADEIRA.

Madeira: Illustrated foi editada em 2023 pela IMPRENSA ACADÉMICA, uma das editoras da ACADÉMICA DA MADEIRA.” rel=”noopener” target=”_blank”>diário de viagem de Andrew Picken publicado no ano de 1840. Este oferece um relato das suas experiências na Ilha da Madeira a outros viajantes estrangeiros interessados em visitá-la, assim como numerosas diretrizes e curiosidades a seu respeito, utilizando um tipo de escrita técnico.

A tradução deste diário foi uma das várias atividades de revisão e tradução desenvolvidas durante o estágio na ACADÉMICA DA MADEIRA, no âmbito do mestrado em Linguística: Sociedades e Culturas.

Os desafios na tradução deste diário tiveram a ver principalmente com vocábulos específicos da Ilha da Madeira, tais como “quinta” (country house), “solar” (villa), “casebre” (cottage) e “ribeiro” (river).

Esta tradução espera ajudar a compreender a forma como a Ilha da Madeira foi encarada, no século XIX, por este visitante inglês, podendo tornar-se num útil objeto de análise para historiadores e linguistas portugueses.

Estamos no ano de 1840, em meados do século XIX, numa época em que prosperava o turismo na Madeira, proveniente, especialmente, de classes privilegiadas do Reino Unido que, tal como o próprio autor indica, apresentavam problemas de saúde, esperando encontrar, nesta ilha, uma cura ou tratamento. Além disso, sendo visitantes cultos, também tinham interesse em questões culturais, daí o diário começar com uma abordagem histórica e cultural da ilha, adotando, seguidamente, um ponto de vista mais prático.

O esboço histórico presente no início do diário oferece múltiplos contos de como a ilha foi descoberta, com especial destaque à desafortunada história de amor de Roberto Machim e Ana D’Arfet, ao desenvolvimento da arte marítima proveniente das inovações introduzidas pelo infante D. Henrique.

Ao longo do diário, o autor descreve as localidades e o clima da ilha, os trajes e os costumes das classes sociais, os peculiares meios de transporte (como o palanquim e a rede), as atividades musicais organizadas pelo Clube Funchalense, descrevendo os portugueses como “dançarinos deveras infatigáveis” e apontando que os bailes “são mantidos com espírito até ao final da manhã”, e a “grande e variada escolha” de excursões que o autor teve a oportunidade de experienciar.

Estas levaram o autor rumo a Câmara de Lobos, ao Cabo Girão, ao Curral das Freiras, a São Vicente e a Santana, entre outras localidades da ilha. As estampas que acompanham estes relatos mostram os diferentes locais por onde o autor passou, descrevendo-os com minucioso detalhe, caracterizando o relevo, os meios de transporte empregados, os membros do seu grupo e a paisagem com que se depararam.

Além disso, durante uma destas excursões, o autor teve a oportunidade de constatar e elogiar a obra no Rabaçal levada a cabo pelo capitão Vicente de Paula Teixeira: “Mesmo aqueles que não visitaram o Rabaçal formarão a mais alta opinião do extraordinário mérito e capacidade do engenheiro sob cuja direção foi planeada a obra, o capitão Vicente de Paula Teixeira, natural da ilha, a partir de uma simples descrição do local”.

O diário termina com informações úteis para aqueles interessados em visitar a ilha, tais como o melhor tipo de embarcação a empregar, o vestuário e mobiliário que deveriam trazer consigo, os vários tipos de alojamento disponíveis, o preço dos alimentos e as moedas que circulavam na ilha, utilizando uma “moeda imaginária” chamada de “Réis”.

Giuseppe Abate
Mestre em Linguística: Sociedades e Culturas
Com fotografia de Mick Haupt.

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