Arquivo

A doença mental – uma preocupação pós-pandemia?

A Organização Mundial de Saúde define a doença mental como uma distorção do pensamento e das emoções que decorre devido a uma deterioração do funcionamento psicossocial que depende de fatores biológicos, psicológicos e sociais. De acordo com as Nações Unidas, desde o início da pandemia, já é evidente um aumento dos sintomas depressivos e de ansiedade na população em geral. Quem já sofria de algum tipo de perturbação psicológica tem uma maior probabilidade de agravar ou agudizar os sintomas pré-existentes. Para os restantes indivíduos, devido ao isolamento e à alteração inesperada da rotina, existe uma maior probabilidade de surgirem perturbações como a depressão, ansiedade, perturbações obsessivo-compulsivas e perturbações do sono. Estas poderão evidenciar-se através da alteração do sono, maior irritabilidade, stress, desesperança e incerteza face ao futuro, tristeza, apatia, angústia, entre outros. Existem fatores que podem desencadear estas reações, nomeadamente, a instabilidade a nível laboral e a nível financeiro, a alteração da dinâmica familiar, a mudança abrupta da rotina ou até a obrigatoriedade do confinamento. Existem grupos específicos de risco para o desenvolvimento de perturbações psicológicas, nomeadamente os profissionais de saúde que intervêm diretamente com doentes de COVID-19, devido a fatores como a sobrecarga laboral, decisões determinantes e risco de contágio; as crianças que apresentam necessidades especiais, crianças que vivem num espaço limitado e as que, com o confinamento ou suspensão das aulas presenciais, ficam mais expostas a assistir ou vivenciar situações de violência e abuso; e, por fim, os idosos que, muitas das vezes, e devido às medidas, veem as suas visitas limitadas, aumentando a sensação de solidão e tristeza. Para combater estes sentimentos é importante manter a rotina e os horários habituais das refeições e de acordar; fazer uma alimentação equilibrada e exercício físico; estabelecer um contacto frequente com aqueles que nos são próximos; manter-se informado através de fontes de informação fidedignas como a DGS, a OMS ou a SRS24; ter em mente que já passou por situações difíceis e recordar-se das estratégias que o ajudaram a superá-las; evitar recorrer a substâncias psicoativas para lidar com os problemas; pensar de forma positiva e ter em conta que esta é uma situação temporária; e, acima de tudo, desabafar com alguém de confiança sempre que sentir dificuldade em regular as suas emoções. Todas as pessoas têm problemas e podem, numa determinada altura de vida, ter alguma dificuldade em geri-los, que, quando agravada, origine um quadro de perturbação mental. Qualquer um de nós pode sentir necessidade de receber acompanhamento psicológico e o apoio de um profissional pode conduzir ao regresso de um funcionamento saudável. É essencial termos o conhecimento de que a doença mental pode afetar qualquer pessoa e fazermos um esforço para sermos uma sociedade livre de julgamento e com capacidade de entender o outro. Joana Dória Fernandes Psicóloga Clínica e da Saúde

Os impactos do COVID-19 nas viagens aéreas

Desde o surgimento da Pandemia, passámos a conhecer uma realidade nova, à qual consumidores, empresas e cidadãos em geral tiveram de se adaptar: uma verdadeira realidade de exceção, que alterou, de modo substancial, as circunstâncias existentes até então, e que obrigou a redefinir estratégias de reação, num cenário tão incerto. Da alteração desse estado normal em que vivíamos, resultaram inevitáveis consequências negativas nos mais variados domínios e setores de atividade. A inexistência de “culpados”, face ao carácter extraordinário e inesperado desta situação, conduziu à impossibilidade de se imputar responsabilidades pelos impactos negativos causados pela propagação da doença CODIV-19, sendo que, essa circunstância excecional obrigou à necessidade de se implementarem medidas, também elas de exceção, nos diferentes setores de atividade, onde se inclui, nomeadamente, o setor do turismo, fortemente afetado. Neste contexto e numa perspetiva de equilíbrio entre a sustentabilidade financeira das empresas, por um lado, e a defesa dos direitos dos consumidores, por outro, cuja salvaguarda importava acautelar, foi aprovado, neste domínio, o Decreto-Lei n.º 17/2020 de 23 de abril, que passou a estabelecer regras excecionais e de caráter temporário relativas ao setor do turismo, no âmbito da pandemia da doença COVID-19. Entre outras coisas, este regime jurídico prevê, de modo específico, novas regras relativas a viagens organizadas (combinação de dois ou mais serviços, designadamente, uma viagem aérea e estadia) por agências de viagens e turismo, onde se incluem as viagens de finalistas. Assim, estabeleceu-se que as viagens organizadas por agências de viagens e turismo, com data prevista de realização entre 13 de março de 2020 e 30 de setembro de 2020, que não fossem efetuadas ou que fossem canceladas devido ao surto da pandemia da doença COVID-19, conferem, excepcional e temporariamente, o direito aos viajantes de escolher entre: a) a emissão de um vale de igual valor ao pagamento efetuado pelo viajante, com validade até 31 de dezembro de 2021; e b) o reagendamento da viagem, até 31 de dezembro de 2021. Se o vale (voucher) não for utilizado até 31 de dezembro de 2021, ou o reagendamento da viagem não ocorrer até esta data, o viajante tem direito ao reembolso do valor pago, a efetuar no prazo de 14 dias. O mesmo sucede em relação às viagens de finalistas ou similares, já que este regime veio permitir aos viajantes a possibilidade de optar por qualquer uma das modalidades atrás enunciadas. Foi, ainda, salvaguardada a possibilidade de os viajantes em situação de desemprego solicitarem, até ao dia 30 de setembro de 2020, o reembolso da totalidade do valor que pagaram, o qual deve ser realizado, também, no prazo de 14 dias. Importa realçar que as viagens aéreas simples (diferentes das viagens organizadas, já que abrangem, apenas, o transporte aéreo) não estão incluídas neste normativo. No entanto, o Consumidor, perante o cancelamento da viagem aérea pela transportadora, independentemente do motivo desse cancelamento, já tinha o direito de optar entre o reembolso do valor pago e o reencaminhamento, nos termos do Regulamento (CE) n.º 261/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de fevereiro. Não dispõe, porém, do direito à indemnização prevista neste normativo comunitário, face ao COVID-19 constituir uma circunstância extraordinária.  

… para um melhor sistema imunológico.

O sistema imunológico tem como missão proteger o corpo humano e capacitá-lo para lutar contra as infeções causada por vírus ou bactérias, sendo certo que um sistema imunológico saudável, consegue eliminar mais facilmente o indesejável. Desenvolve inúmeras reações que invariavelmente necessitam de energia e da presença de diversos nutrientes, pelo que, em primeiro lugar é fundamental ter uma ingestão energética adequada, isto é, de uma quantidade de comida ajustada às necessidades individuais de cada um, evitando situações de desnutrição ou de excesso de peso, que podem originar alterações imunológicas. As reações deste sistema necessitam ainda de um aporte adequado de nutrientes, potenciando desta forma as defesas do nosso organismo, dos quais, há a destacar os ácidos gordos ómega 3 e 6, as vitaminas A, B6, C, E e ácido fólico, e ainda o selénio, o ferro, o cobre e o zinco. Para satisfazer estas necessidades nutricionais, há que escolher uma alimentação diversificada, e onde estejam presentes diariamente os hortícolas, as frutas, as leguminosas, os cereais integrais, o peixe, os frutos secos, as sementes e o azeite, sempre com peso e medida! Os iogurtes e os leites fermentados contêm também compostos ativos importantes na imunidade. Aqui, não é particularizado, por exemplo, nos hortícolas, um alimento em particular, pois é mais importante variar o consumo dentro dos alimentos de cada grupo, do que estar sempre a consumir o mesmo alimento, mesmo que tenha grandes propriedades. Há também que realçar que é útil escolher, os alimentos da época, locais, e com um elevado grau de frescura. Assim, potenciamos todos os seu componentes. Atenção deve igualmente ser dada à confeção dos alimentos, para que não se exceda as perdas nutricionais. Cozinhar a vapor ou em pouca água, evitar os fritos e nos grelhados as partes carbonizadas, pode ajudar. É também importante destacar que se deve providenciar uma boa hidratação, escolhendo a água como bebida de eleição, podendo também optar pelas infusões ou tisanas, ou ainda pelos sumos de fruta naturais. Contudo, há ainda de enaltecer o papel da sopa. Hidrata e é um excelente fornecedor de imunonutrientes. Realça-se assim a importância de uma alimentação adequada e diversificada para proteger o nosso organismo, não havendo necessidade de consumir suplementos nutricionais para o efeito. Opte sim… por uma alimentação muito nutritiva! Bruno Sousa Nutricionista

Pragas e pestilências ou o desespero do ser humano perante um inimigo invisível

A ideia de que vivemos tempos inéditos, de que nunca nada disto antes se viu, aliada às imagens de ruas desertas, de cadáveres e caixões amontoados em igrejas ou armazéns, de unidades de cuidados intensivos em que nada mais se ouve que não o estertor da morte e os sons impiedosos das máquinas, tem-nos sido trazida pelos meios de comunicação social nestes que foram meses de apreensão e inquietude. É, porém, um grave erro histórico pensarmos que a ameaça de um inimigo invisível, mas omnipresente, tem algo de novo. Ao longo da sua história a humanidade enfrentou surtos epidémicos de causas, origens e características diversas, mas que tiveram em comum precisamente esta sensação de impotência e de incapacidade que tem o condão de nos reduzir, enquanto seres humanos, à nossa reconhecida e por vezes bem lembrada impotência. Para cumprirmos o objectivo desta secção – Memorandum, isto é, “o que deve ser lembrado” – queremos lembrar neste número alguns dos tópicos mais frequentes nos textos gregos e romanos sobre surtos de doenças contagiosas. O que propomos é um desafio do tipo “descubra as diferenças” entre o que nos legou a cultura clássica e o que enfrentamos na actualidade. Ao leitor deixamos toda a liberdade para estabelecer as ligações que e como quiser. Baseamo-nos em textos de épocas diversas, desde Homero a Galeno, e de géneros literários distintos relacionados com a épica, a tragédia, a historiografia, a medicina… Um dos elementos mais significativos nestes textos e, em especial, naquele que constituiu, pelos séculos fora, uma espécie de modelo para a descrição de pestilências – referimo-nos à obra de Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, que descreve a peste de Atenas de 430-426 a. C. – é o relato vivo e complexo das consequências de ordem social e moral deste tipo de enfermidades. A inexistência de distinções de ordem social, baseadas na idade, no sexo, na riqueza, no estatuto, é reconhecida como uma inversão das normas. O contágio que se espalha sem fazer distinção entre o jovem e o idoso, a mulher e o homem, o pobre e o rico, o escravo e o cidadão livre representa a destruição da ordem social numa comunidade que tem os seus fundamentos precisamente na diferença. Nas cidades que se apresentam aos olhos do leitor vêem-se moribundos e cadáveres, tanto espalhados e insepultos pelas ruas, como no interior dos edifícios públicos e privados. O abandono dos rituais fúnebres – que aumenta, como os autores reconhecem, o perigo de contágio – é também um sinal da decadência moral que se identifica em sociedades em que o desespero e a certeza de uma morte próxima tornam irrelevante o cumprimento da lei. A estrutura das sociedades antigas, fortemente enraizada nas relações familiares, é arruinada pelo medo do contágio. Os doentes vêem-se abandonados e os poucos que deles se aproximam são, muitas vezes, cremados na mesma pira, diz-nos Tácito. Por fim, um esclarecimento. Ainda que se diga que os antigos não tinham conhecimento correcto das formas de contágio, é preciso ter em consideração que: 1) sabiam que algumas doenças afectavam apenas grupos ou comunidades; 2) que estas doenças passavam de um indivíduo para outro. A explicação mais frequente para este tipo de doenças baseava-se na existência de miasmata no ar, que teriam origem em vapores insalubres, como os exalados pelos cadáveres num campo de batalha ou pelas águas estagnadas e fétidas. Esta explicação manteve-se durante séculos, por vezes aliada à vontade e à ira divinas, pelo menos até que, na sua obra De contagione et contagiosis morbis, publicada em 1546, Girolamo Fracastoro apresentou a teoria de que as doenças epidémicas são causadas por partículas minúsculas que são transmitidas por um indivíduo doente para um indivíduo em contacto com ele. Nihil novi, nada de novo, portanto, e, também como no passado, aprenderemos e avançaremos, recordados mais do que nunca de omnia mors aequat, a morte nivela tudo. Cristina Santos Pinheiro Professora da UMa

Bolsas de estudo – quais as principais (des)vantagens?

É do conhecimento geral, as vantagens das bolsas de estudo para os estudantes, tanto as atribuídas no Ensino Superior, como no ensino secundário ou equivalente. Os estudantes locais e estrangeiros podem ser beneficiados, ao abrigo de programas que complementem incentivos de ordem financeira, profissional, educativa – como são exemplos disso: o Programa+Superior – redefinido no ano letivo 2019-2020, constituindo um aumento efetivo do número de bolsas; bem como relativamente ao programa Erasmus+, cuja premissa fundamental destaca-se na mobilidade da vida académica entre estudantes e professores universitários a nível global. Desta forma, o intercâmbio com o exterior e a experiência internacional têm como objetivos: fornecer ao estudante competências socias, de interação e partilha em comunidade, o que permite potencializar uma maior rede de contactos e, consequentemente abrir espaços ao futuro no mercado de trabalho. No entanto, a questão-problema que se coloca corrobora em parte com a aposta na educação e formação, mas também com o incentivo às gerações mais jovens e aos grupos vulneráveis. Aliás, a avaliação por parte dos países que integram um dos programas internacionais – neste caso, o Erasmus+, vem precisamente apontar essa necessidade conjunta. Por isso, interessa à sociedade civil e ao Estado, em parceria com as instituições de ensino, perceber as melhores soluções aos programas, nos quais se viabilize uma maior ação no ensino e na formação – com a implementação de cursos livres, em que se associe instrumentos de avaliação capazes de responder às premissas fundamentais no ensino do curso de cada estudante e, desse modo, perspetivando o futuro no mercado de trabalho e, integramente algumas atividades complementares; bem como que se assegure as reais necessidades das faixas etárias menores e respetivos grupos vulneráveis acima mencionados. Nesse sentido, requer-se uma maior dinâmica nos protocolos regulados pelas instituições, a fim de que os processos de candidaturas aos programas, nos casos específicos de cada estudante, e respetivas bolsas atribuídas, se encaminhem e decorram celeremente. Em primeiro plano, o Ensino Superior Público deveria ser gratuito para todos os estudantes. Sendo assim, como já veio a público ser defendido por alguns partidos em Portugal, a redução progressiva do valor das propinas até o valor zero, representa uma proposta que deve ser ponderada e executada nestes próximos anos. Que vantagens servirá nas bolsas de estudo para os estudantes? Claramente, um maior aproveitamento do montante da bolsa, seja para despesas universitárias ou outros gastos mais pessoais. Ao nível da autoridade tributária, o processo de candidatura para a bolsa da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) não assumiria critérios tão meticulosos acerca de dados concretos do agregado familiar, o que se refletiria numa menor morosidade da análise das candidaturas. De modo a equilibrar a balança de rendimentos das diferentes famílias, poder-se-ia aplicar taxas anuais em cada situação de estudante, dependendo dos agregados familiares comportarem rendimentos mais elevados ou mais baixos. Neste caso, as Finanças poderiam atuar na ajuda a este sistema, fornecendo automaticamente os dados acerca dos rendimentos dos estudantes para os sistemas informáticos das universidades – visto que, como se tem conhecimento, as Finanças são uma das entidades cuja informação é dependente no processo de candidaturas para as universidades. No entanto, esta é apenas uma proposta de colmatar eventuais injustiças financeiras na atribuição de bolsas aos estudantes. Certamente que, na prática, requerer-se-ia uma proposta reformulada para que o sistema funcionasse na sua globalidade entre as entidades competentes no processo: Serviços de Ação Social da Universidade, Serviços Académicos correspondentes, Finanças e Segurança Social. E que eventuais desvantagens poderiam advir, tendo em conta esta medida? Falta de maior financiamento às universidades com o fim das propinas e quebra significativa no funcionamento da ação social nas universidades. Contudo, a investigação especializada em cada curso por parte dos estudantes poderia ser solucionada para o financiamento nas instituições de ensino e entre as mesmas, comparticipando esse trabalho em equipa com o Estado. A revisão da tabela dos diversos escalões da Segurança Social sugestiona-se também ela fundamental. Em segundo lugar, revela-se um exercício preponderante olhar para os dados estatísticos disponibilizados pela DGES, principalmente nestes dois últimos anos letivos, acerca das bolsas de estudos no Ensino Superior Público. Porquê? No sentido de compreender melhor a realidade nacional que influencia a vida dos estudantes que pretendem ingressar no Ensino Superior Público, mas também daqueles que continuam nas universidades. No ano letivo 2018-2019, foram submetidos 84 715 requerimentos, dos quais 64 897 deferidos e 19 459 indeferidos. Foram arquivados 151 processos de candidaturas às bolsas. No que diz respeito ao ano letivo vigente, 2019-2020, o número de requerimentos no Ensino Superior Público sofreu um decréscimo para 82 876. Apresentaram-se deferidas 55 611 candidaturas e indeferidas 15 649, com 124 processos arquivados. Para além dos processos que são indeferidos por não responderem aos requisitos para atribuição das bolsas de estudo, ainda são arquivados muitos processos que não obtiveram resposta da instituição de ensino e encontram-se pendentes nos Gabinetes de Apoio ao Estudante das Universidades. Como se não bastasse, o número de requerimentos ao Ensino Superior Público diminuiu em relação há um ano letivo. De que forma então pretendemos apoiar os estudantes locais e estrangeiros que escolhem o Ensino Superior Público? Invariavelmente, recorrendo a soluções que combatam o abandono escolar e incentivando à entrada no universo académico, com programas cada vez mais reorganizados de bolsas de estudo – não esquecendo os estudantes com mérito e bons resultados nas suas universidades, beneficiando-os com bolsas de investigação e levando-os também a outras instituições de ensino internacionais, de modo a adquirirem experiência no estrangeiro e contactarem com novas pessoas das suas áreas. Isto porque as universidades fazem-se desta mobilização e ação para o exterior, bem como reconhecimento internacional dos seus recursos humanos e capacidades de gerar emprego e melhores condições aos seus estudantes. Para isso, é necessário foco e discernimento no momento de atuar em prol de uma melhor universidade. Existem, portanto, alguns pontos-chave a ter em conta numa bolsa de estudo que seja beneficiadora para estudantes locais e estrangeiros: um subsídio de alimentação, de alojamento na residência, despesas comuns do dia-a-dia nas universidades – como fotocópias, material requerido para as

Projeto Greening the Curriculum: metade do lixo são beatas de cigarro

No âmbito do projeto Greening the Curriculum da ACADÉMICA DA MADEIRA, financiado pelo Programa de Inovação e Transformação Social (PRINT) da Direção Regional da Juventude (DRJ), e em cooperação com o Programa Eco-Escolas do Politécnico da Universidade da Madeira e contando com o apoio logístico do Departamento de Ambiente da Câmara Municipal do Funchal, decorreram, nos dias 13 e 14 de outubro de 2020, com a participação de 224 voluntários, ações de limpeza no Campus da Penteada e sua envolvente. Com o objetivo de sensibilizar a Comunidade Académica para a deposição correta dos resíduos, e procurando recolher dados sobre a sua caracterização, as ações de limpeza resultaram na recolha de 138 quilos de lixo, não deixando de ser um valor surpreendente na medida em que, na sua grande maioria, estivemos perante resíduos leves e de pequena dimensão, como são as beatas de cigarro, lenços de papel e plásticos diversos. Efetivamente, foram recolhidos mais de 12 mil itens (resíduos individualizados), resultando que, em média, cada resíduo recolhido possuía menos de 12 gramas, sendo que mais de metade desses itens foram beatas de cigarro (6274 beatas). Embora o aspeto mais importante desta iniciativa tenha sido a elevada participação dos alunos e a forma como se empenharam, já que a recolha destes resíduos minúsculos constitui um desafio de difícil execução, revelando-se uma atividade extenuante, os dados revelados pela caracterização efetuada pelos participantes demonstram uma realidade para a qual é necessário alertar a sociedade: a forma como os pequenos fragmentos de materiais não biodegradáveis estão a se entranhar no ambiente que nos circunda. À semelhança do que se passa no meio marinho, os ecossistemas terrestres também se vêm ameaçados por fragmentos de plástico cada vez mais pequenos, originários de resíduos abandonados ao longo do tempo, os quais, pela sua dimensão, são de difícil remoção e começam a ser demasiado frequentes na camada superior do solo e nos cursos de água. Por isso, limpar é apenas uma tentativa de minimizar e alertar para o problema, sendo o mais importante educar para não sujar; o apelo que fica desta iniciativa. Hélder Spínola Docente da UMa

O impacto da pandemia na educação

No passado mês de Março, um bilião de alunos foram surpreendidos em todo o mundo pelo encerramento abrupto dos seus estabelecimentos de ensino, desde as creches até ao ensino superior. Nesta crise, sem precedentes e de proporção global, todos tivemos que nos adaptar às contingências e directrizes a que esta pandemia obrigou, pois todas as indústrias e todas a áreas foram atingidas de uma forma quase obscena. Esta crise pandémica revolucionou a forma de aprender e o isolamento acabou por criar vários hábitos e comportamentos, quer nas famílias, quer nas instituições de ensino, que englobam uma panóplia de recursos humanos, desde os alunos aos professores, mas também passando por todos os funcionários, que se foram obrigados a adaptar a um conjunto de novas metodologias. Todas as crises são uma oportunidade de crescimento, quer a nível individual, quer em sociedade e esta não é excepção. Que depois desta pandemia, a educação venha fortalecida, pois a única forma de mudar o paradigma de uma sociedade é investindo no seu sistema educativo, que ninguém tenha dúvidas sobre esta matéria. O desempenho do Governo nesta crise Como sempre, todos os estigmas e novas eras, trazem consigo um conjunto de obstáculos, que cabe a todos nós enquanto sociedade (em especial às instâncias governativas) resolver. Nas denominadas escolas públicas, 28% dos alunos do ensino básico não têm acesso a computadores. Depois, ainda temos os alunos que, embora tenham computador, não têm acesso à internet. Existe ainda outro estudo que conclui que 23% dos alunos do 12.º ano não possuem computador ou não têm acesso à internet em casa. Estes números, se pudessem ser directamente extrapolados à população do nosso país, seriam qualquer coisa como 300 mil alunos sem os meios necessários para poderem aceder às suas aulas. O nosso Ministro da Educação já elogiou (e bem) o espírito de missão, o compromisso e seriedade dos nossos professores, alunos e funcionários, contudo, o seu grande desafio (seu e do seu governo) é combater as desigualdades que patenteiam este número desolador de alunos carenciados de equipamentos. As autarquias têm desempenhado um papel importante, mas não chega. A única forma de minimizar o impacto e os constrangimentos deste vírus, é fazer o ensino chegar a todos. António Costa já se comprometeu a fazê-lo e resta-nos esperar que cumpra com os seus desígnios dentro da máxima celeridade possível. Como será o próximo ano lectivo? António Costa deixou nas entrelinhas bem explícito que o retomar do ensino secundário, na próxima semana, será uma espécie de tubo de ensaio para o próximo ano lectivo. Esperemos que decorra tudo dentro da normalidade, permitindo abrir boas perspectivas para os próximos meses de Setembro e Outubro. Não existindo vacina em menos de um ano, resta-nos adaptarmo-nos aos novos tempos, aprendendo a lidar com o vírus e cumprindo as premissas da Direcção-Geral de Saúde. Se cada um fizer a sua parte, será meio caminho andado para um regresso gradual à normalidade. Mas que ninguém se iluda, o mundo e o ensino nunca mais serão os mesmos. Emanuel Camacho Aluno da UMa

A Evolução de IT/Tecnologia na Madeira

Até ao final da década de 90, a IT na Madeira foi vista principalmente como uma área de suporte para outras três grandes áreas, nomeadamente, o Turismo, a Construção e a Zona Franca da Madeira (ZFM). Isto era particularmente notável observando o mercado regional e o tipo de empresas de IT que nele existiam, verificando-se que a sua maioria focava a área de serviços e de comércio. Este paradigma sofreu alterações no início da década de 2000, altura em que a Universidade da Madeira (UMa) dividiu o curso de Engenharia de Redes e Sistemas Informáticos, até então concebido para dar resposta às necessidades do mercado onde se inseria, em três cursos distintos e mais especializados, nomeadamente Engenharia de Informática, Engenharia de Telecomunicações e Redes e Engenharia de Instrumentação e Eletrónica. Isto assume particular relevo se considerarmos que foi parte de uma estratégia da UMa e da Região para angariar empresas tecnológicas a se instalarem na Madeira, com potencial recurso a apoios angariados à União Europeia. Para tal, faltava somente a produção de mão de obra especializada na área de desenvolvimento de software, para que a Região tivesse os recursos necessários para aliciar este novo mercado. Infelizmente, a estratégia não obteve o resultado esperado pois, no final da década de 2000, altura em que saiu a maior força de trabalho especializada no desenvolvimento de software pela UMa, não existiam suficientes ofertas de emprego com condições adequadas a esta nova realidade, apesar de algumas das empresas tecnológicas da ilha terem iniciado o seu reajuste face a esta nova oportunidade. A agravar a situação, surge a crise económica que culminaria com o reajustamento económico e financeiro da União Europeia, de Portugal e, consequentemente, da Madeira e da sua Zona Franca, o que culminou em que, até à primeira metade da década de 2010, a área de IT fosse seriamente afetada não só pela falta de oferta de emprego, como também pelo encerramento de diversas empresas de serviços de IT devido à crise. O panorama alterou-se a partir de 2014, altura em que sai a Troika de Portugal e se inicia o novo quadro de apoios da União Europeia (2014-2020) para a Madeira, que se focou na inovação e na tecnologia. Isto, aliado à reestruturação da Startup Madeira e ao novo alento encontrado pela Região, levou a um crescimento na área tecnológica em duas frentes, uma associada ao crescimento das empresas regionais que já apostavam na área, tais como o caso da Asseco PST, da ACIN e da NOS-Madeira, outra associada à angariação de novas empresas tecnológicas tais como a TV App Agency e a Unipartner, o que aumentou a oferta de emprego na área de desenvolvimento de software, bem como potenciou a qualidade do emprego já existente devido ao aumento da competitividade salarial. Agora, no início da década de 2020, com a nova crise provocada pelo SARS-COV-2, verificamos que a Madeira volta novamente a ser afetada de forma negativa na sua competitividade, com exceção da área de desenvolvimento de software que, devido à sua natureza e capacidade de ser realizada tanto em teletrabalho como em regime de remote working, veio demonstrar que o potencial futuro e sucesso do mercado de trabalho da Região poderá passar por uma aposta mais forte na área de desenvolvimento de software e na criação de condições que facilitem o remote working, tanto para empresas na Madeira como para empresas estrangeiras que pretendam contratar mão de obra especializada mas que não possuam condições para cá se sediarem. Hélder Pestana Software Developer – Asseco PST

Gosto de bibliotecas

Sinto-me indissoluvelmente ligada a elas. A memória da primeira que frequentei desde a primeira infância quase supera afectivamente os outros dois espaços de vivência – a casa e a escola. Porque a ida à biblioteca era sempre acto festivo, fosse qual fosse a sua regularidade. Não me recordo de outros leitores. Talvez me cruzasse com eles, mas nesse espaço apenas contavam os livros e o bibliotecário, por quem eu tinha um misto de respeito e receio, por nele ver o guardião e censor. Havia três espécies de interditos: a inadequação à faixa etária do leitor, o tamanho exagerado do livro, e o calendário escolar. Mais entendível o primeiro, os dois outros eram motivo para o meu questionamento. Não podia a dimensão do livro interferir no número de exemplares requisitados, julgava eu, ao preencher o minúsculo formulário, salvo-conduto para a saída dos preciosos exemplares. Afinal havia dúvidas quanto à minha voracidade e velocidade de leitura? E ainda tinha que ouvir no acto de devolução a pergunta vexatória: “Leste tudo? Tenho dúvidas…” Vencida a resistência quanto ao número de exemplares a requisitar, a minha estratégia era escolher livros volumosos para que demorasse mais a acabar a leitura, sobretudo quando se avizinhava o calendário proibido – e esse era o escolar. Se acontecesse de ser eu a distrair-me, como foi o caso uma vez, tentando abastecer-me de livros, na véspera do começo das aulas, lá estava atento o bibliotecário, a dizer não. É que ele seguia à risca as instruções da minha mãe e não se distraía com as datas. Era como se, afinal, a biblioteca tivesse um regulamento geral, o do seu funcionamento, e um outro específico adaptado às singularidades de alguns leitores. Depois deste preâmbulo, as sugestões de leitura que vos faço só poderiam ter como tema as bibliotecas. Escolhi autores e géneros diversos, e por entre a talvez esperada ficção, tive que conferir um lugar especial à não-ficção de Alberto Manguel. Alberto Manguel (Buenos Aires, 1948 – ) A Biblioteca à Noite. (2016). (Rita Almeida Simões, Trad.). Lisboa: Edições Tinta da China. Título original: The Library at Night (2008) “Um livro chama outro, inesperadamente, e cria alianças entre diferentes culturas e séculos. Uma frase semirecordada ecoa noutra por razões que, à luz do dia, permanecem obscuras. Se a biblioteca de manhã sugere um eco da severa e razoavelmente ilusória ordem do mundo, a biblioteca à noite parece rejubilar na essencial e alegre desordem do mundo.” A Biblioteca de Manguel começa por ser a dele mesmo e a dos milhares de livros por desencaixotar, à espera do lugar que os albergará mas já com o destino certo, num espaço secular ao sul do Loire. É esse o pretexto para uma deambulação do bibliófilo-leitor e daqueles que com ele viajam desde a biblioteca mítica de Alexandria às da contemporaneidade. Pensar a biblioteca é acompanhar a sua criação, alcance e significado, é deter-se no livro e questionar a sua ordenação, o seu lugar no espaço, no tempo, nas emoções e afectos. Pensar a biblioteca passa também por nos posicionarmos face ao seu conteúdo e à sua identidade que é, muitas vezes, também, a de quem concebeu ou planeou a forma e o lugar, fez escolhas e exclusões. Cada título de capítulo é uma promessa que não engana. Em cada um deles, como leit-motiv, achamos A Biblioteca: A Biblioteca como Mito; Podemos começar a leitura por onde quisermos, indo de imediato ao capítulo cujo título nos parecer mais estimulante. Acho que vou começar pela Biblioteca como Sobrevivência. Foi a partir da leitura deste capítulo de Manguel que Antonio G. Iturbe pesquisou a matéria que ficcionalizaria em A Bibliotecária de Auschwitz. Antonio G. Iturbe Saragoça, (1967 -) (Título original): La biblioteca de Auschwitz (2012) A Bibliotecária de Auschwitz. (2013). (Mário Dias Correia, Trad.) Lisboa: Planeta. “Dita pega no livro com amor, acomoda as pregas soltas e ajeita as páginas tortas. Demora tanto quanto necessário … a bibliotecária passa os dedos pelas páginas para as alisar com o mesmo mimo com que uma mãe pentearia a filha.” Auschwitz continua a ser lugar de inspiração fecunda para a criação romanesca, seduzindo leitores, movidos e comiserados por relatos que se avolumam enquanto memorial de atrocidades que o tempo não quererá esquecer, como forma de prevenir a repetibilidade. A Bibliotecária de Auschwitz (Prémio Troa a Novelas com Valores, 2013) é uma história de sobrevivência pelos livros. No pavilhão 31, cenário da maior parte da narrativa, nasce uma improvável biblioteca. São oito livros, apenas, também eles sobreviventes de magros despojos de pertences clandestinos, tesouro incomensurável, de cuja guarda ficará incumbida a jovem Dita. Além dos livros vivos, em que se metamorfoseiam alguns dos prisioneiros, chamando a si o reconto de leituras passadas que evocam, os prisioneiros do pavilhão poderão agora contar com Dita que terá que guardar e gerir, arriscando a própria vida, alguns poucos livros mutilados. Os livros são perigosos. Permitem sonhar e aceder ao saber e são alimento esperançoso do porvir, mas estão vedados aos prisioneiros de Auschwitz. Umberto Eco Alexandria (1932 – 2016) (Título original): Il Nome della Rosa (1980) O Nome da Rosa. (1983). (Jorge Vaz de Carvalho, Trad.). Lisboa: Gradiva. “Mas a construção labiríntica deste edifício nega uma verdadeira função da biblioteca, pois é elaborada para prevenir a disseminação do conhecimento, ao invés de facilitá-lo. “ Recuemos alguns séculos, até 1327, ano em que decorre O Nome da Rosa, tendo como pano de fundo as querelas político-religiosas sob o papado de João XXII. E é ainda sob o signo da interdição que penetramos na maior biblioteca da cristandade, sita numa abadia beneditina, do norte de Itália. Uma biblioteca à qual só o bibliotecário pode aceder, ele, também, o único com autoridade para facultar ou não a leitura de determinados livros aos monges que trabalham no scriptorium. Guillaume de Baskerville – que leitor não se lembrará de Sherlok Holmes? – acompanhado do secretário Adso, é chamado a desvendar uma série de mortes inexplicáveis na abadia. Contra algumas das hipóteses que apontavam para a possibilidade de

A responsabilidade da escolha

Num estudo do V-DEM Institute, da Universidade de Gothenburg, divulgado em março deste ano, Portugal surge com a 7.ª melhor democracia do mundo. Apresenta-se como um exemplo de evolução positiva quando se consideram as últimas décadas, mas peca pela fraca participação política dos cidadãos. Uma sondagem produzida para a Representação da Comissão Europeia em Portugal — Opinião pública na União Europeia demonstrou que houve uma quebra de confiança, por parte dos portugueses, nos partidos políticos e na satisfação com a democracia. Posição corroborada por vários outros estudos, que concluem que as instituições políticas são, definitivamente, aquelas em que é depositada menos confiança. É portanto fácil de questionar, perante os dados expostos, se a fraca participação política, o desinteresse da população e até a abstenção nos vários atos eleitorais não são senão espelho da falta de confiança dos portugueses nos partidos. Eu diria que sim! Mas o que tem falhado? E que preço se paga por viver em democracia? O 25 de Abril de 1974 deu azo ao nascimento da democracia depois de anos de ditadura e foi ela que nos deu a oportunidade de ter opinião, de votar de forma livre, de escolher quem nos governa. Hoje, dizem que Portugal vive uma crise de confiança política, mas, muitas vezes, esquecemos que todos estamos no mesmo barco. Que a democracia nos serve no auge, mas que também deve ser arma para os tempos mais difíceis. Todos usufruímos dessa liberdade e, por essa democracia conquistada, todos temos a responsabilidade de participar, de decidir, de dar a cara. Esse é o valor da democracia. A realidade que atravessamos, com a pandemia da COVID-19, deixou-nos nas mãos dos políticos que nos representam. Sem escolha, confiantes ou não, foi essa democracia que mostrou, uma vez mais, que as nossas decisões se refletem, sempre, no percurso da nossa Região e do nosso País. Um estudo recente, realizado pelo ICS e pelo ISCTE, revelou que 51% dos portugueses considera que as medidas tomadas, em resposta à pandemia, foram adequadas, mas outros 44% defendeu que eram necessárias outras mais restritivas. Gostava de saber a percentagem de votantes entre estes inquiridos, o que nos traria mais uma oportunidade de reflexão e mais uma forma de entendermos que não basta reivindicar. Hoje, o papel da política é, também, o de nos salvar a vida. O de impor para nos proteger, o de alterar a realidade para que ela surja melhor, mais tarde. Na nossa Região, a estratégia política resultou. Não se registaram óbitos e, em relação ao resto do território, têm sido menos as linhas de contágio ativas. Afirmo, até porque escrevo um artigo de opinião num tempo de liberdade, de que acertámos no líder e na audácia de quem nos governa. Mas, nas últimas eleições, ainda faltou votar quase 45% da população. Que as novas circunstâncias, a que nos estamos a adaptar e a que o nosso Governo está a responder, possa mudar a opinião das pessoas e fazer com que, pelo menos aqui, a política esteja mais apta a ter a confiança da população. Vera Duarte Alumnus da UMa