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Estaremos preparados para eventuais eventos sismológicos?

Os sismos são processos geológicos que ocorrem naturalmente sobretudo no limite das placas tectónicas. As placas tectónicas estão sempre em movimento, movimentando-se muito lentamente, na ordem dos cm(s)/ano. Esses movimentos não contínuos geram por vezes o aparecimento de zonas de acumulação de tensão e posterior libertação dessa mesma energia (sismo) sobre a forma de ondas sísmicas. Os sismos são o desastre natural mais difícil de prever, diria mesmo que é impossível prever o momento exato da sua ocorrência. Contudo, neste momento já existem sistemas de alerta rápido, ou seja, logo que o sismo ocorra é possível, através de sensores, receber essa informação e transmiti-la rapidamente no sentido de se poderem ganhar segundos importantes que permitam, por exemplo, parar comboios de alta velocidade. Os sismos provocam também mudanças no campo gravítico da terra, essas mudanças levam ao aparecimento de sinais que se deslocam à velocidade da luz (300 000 km por segundo) e, como as ondas sísmicas só se propagam a uma média de 8 km por segundo, o objetivo é registar esses sinais (PGES) antes das ondas sísmicas chegarem e ganhar aí alguns segundos/minutos importantes para que sejam emitidos alertas precoces. A dificuldade é registar esses sinais. A Madeira não está localizada no limite das placas tectónicas, que são zonas de grande intensidade sísmica, estamos numa zona intraplaca onde a sismicidade é muito menor (cerca de 5% de toda a sismicidade). A grande maioria dos sismos que ocorrem perto da ilha da Madeira são de baixa magnitude e nem são sentidos, a exceção foi o sismo de 7 de março (5.2M) e de 15 de março (3.5M). Desde o mês de março de 2020 que há uma concentração de pequenos sismos numa zona a cerca de 50 km a sul do Funchal até às ilhas Desertas. Desde São Martinho (Funchal) até essa zona, existe uma crista (linha), a Funchal Ridge, constituída por cerca de 20 cones vulcânicos. A coincidência da localização dos sismos pode indicar a existência de uma relação entre o alinhamento de cones (crista) e a ocorrência de sismos, nomeadamente por ser uma zona frágil por onde, no passado, o magma conseguiu ascender e formou cones vulcânicos) e agora ocorrem sismos. As medidas que devem ser tomadas no sentido de minimizar o impacto dos sismos, têm a ver com as medidas de proteção pessoal e coletiva, como também o cumprimento de regulamentos de construção antissísmica Domingos Rodrigues Docente da UMa

UMajuda pela sexta vez

Seis anos após o seu nascimento volta o UMajuda, um projecto no qual a AAUMa, por via dos estudantes universitários e restante comunidade, organiza uma recolha de fundos e de material escolar que visa ajudar a equipar de melhor forma duas unidades educativas do 1.º ciclo do ensino básico da Região Autónoma da Madeira. Em 2006, este projecto via nascer a sua primeira edição. Primeiramente as acções de solidariedade dividiam-se em duas partes, sendo uma delas a entrega de livros e de material lúdico para escolas básicas, parte essa na qual agora o projecto se centra na sua totalidade. Os membros da comunidade académica já se têm dirigido ao Secretariado da AAUMa para entregarem os donativos, mas ainda é esperada uma maior adesão até porque ainda podem ser realizadas estas entregas. Pretende-se angariar todo o material lúdico/didáctico e livros infantis possíveis, para assim mostrarmos que todos nós estamos dispostos a dar UMajuda. De facto, é de suma importância para todas as pessoas que se envolveram e se envolvem no projecto colaborar com as ditas instituições. Em tempos onde a palavra de ordem é Crise e as dificuldades económicas são cada vez maiores, este projecto ganha um novo fôlego já que, apesar de se manifestar bem mais difícil ajudar, torna-se também cada vez mais imprescindível tentar colaborar. Mais do que uma iniciativa anual, o UMajuda também apresenta a própria Universidade e a vida académica de uma forma diferente. Na generalidade dos casos o espírito académico é interpretado pela sociedade de forma errada, levando muitos a pensar que ser estudante universitário é estudar, ir às festas académicas, divertir-se na praxe e pouco mais. Certamente ao haver uma reportagem pela comunicação social onde se foca que na Universidade da Madeira se desenvolve anualmente este tipo de iniciativas ou mesmo pela passagem da palavra pelas pessoas, apaga-se, de certa forma, com a máxima na qual se acredita que o se ser universitário é viver uma vida de “loucura, álcool e rock and roll”. Vivenciamos então uma situação onde se junta o útil ao agradável. Para além de colaborarmos e lutarmos por uma causa nobre, estamos a ajudar os possíveis universitários do futuro, passamos uma imagem para o exterior que não só mostra o trabalho da AAUMa mas dignifica, principalmente, a própria Universidade. Nesta edição do projecto UMajuda, as escolas que receberão os donativos que se angariarem até ao final do mês de Novembro são a EB1/PE da Lombada da Ponta de Sol e a Escola EB1/PE do Areeiro. Tal como nas edições anteriores, ambos os estabelecimentos de ensino foram indicados pela Direcção Regional de Educação. Junta-te a nós e participa no UMajuda. Sérgio Rodrigues Estudante de Economia

A visão do Outro

Há séculos que os homens viajam pelo mundo, entrando em contacto com outras sociedades e povos, relatando depois as suas experiências. Ao longo do século XIX, inclusivamente, muitos desses relatos foram acompanhados por apontamentos em desenho e aguarela, alguns depois divulgados em litografia. A partir da segunda metade do século e com a divulgação da fotografia, a situação mudou bastante, perdendo grande parte da sua carga afetiva. A análise das opiniões dos estrangeiros sobre os madeirenses e o seu quotidiano tem sido trabalhada por vários investigadores, como o Dr. António Marques da Silva, para os viajantes de língua inglesa e Eberhard Axel Wilhelm, para os de língua alemã. A opinião destes viajantes não é muito diferente, elogiando quase sempre a classe mais abastada madeirense, mas criticando quase ferozmente as classes mais humildes, que a depois célebre escritora Maria Ridell, ainda nos finais do século XVIII, não se coíbe de apelidar de “indolentes, sujas e propensas ao roubo”. Alguns anos depois, Alfred Lyall, in Rambles in Madeira (1827), só não apoia a última opinião, quando refere a propósito da dificuldade em recrutar criados no Funchal, que são uma “raça desleixada em que só se pode confiar quanto à honestidade”. Nos meados do século a inteligente e atenta inglesa Isabella de França, volta a tecer as piores críticas aos mais desfavorecidos, chegando a escrever “que não serão estúpidos, mas fingem sê-lo, o que aliás acontece com todos os camponeses”. Acrescenta mesmo, que “além da sua desonestidade, os camponeses são muito cobardes” e “são espertíssimos, fingindo sempre extrema ignorância e estupidez, e ao mesmo tempo, como quase todos os velhacos, muito desconfiados, crendo sempre os outros tão maus como eles”. As piores críticas, entretanto, especialmente dos viajantes britânicos, vão para o clero, não conseguindo entender como uma população tão diminuta conseguia suportar economicamente um tão elevado número de religiosos regulares e irregulares. As litografias divulgadas pelas oficinas londrinas são, inclusivamente, de enorme e mordaz crítica, sendo mesmo anedóticas. Resta, no entanto, saber quem foram os autores de alguns dos desenhos que serviram de base a essas litografias, pois, muito provavelmente, algumas partiram de desenhos enviados da Madeira e por autores daqui naturais. Estas e outras opiniões, como as expressas por Isabella de França, quase ofendida com o regresso dos ex-emigrantes endinheirados de Demerara, que levantavam residências que ombreavam com as dos comerciantes ingleses, parece apontar mais para quase “luta de classes” que para outra coisa. Rui Carita Professor da UMa

Um pouco mais acerca do Serviço de Psicologia

Bem-vindo a esta tua nova casa! Que este ano académico seja feito de oportunidades para o teu desenvolvimento pessoal e académico. Este está a ser um ano atípico devido à COVID-19 e aos seus múltiplos desafios. Queremos que saibas que podes contar com a equipa de psicólogos do Serviço de Psicologia, para te ajudar nesta jornada. Como estudante tens acesso gratuito, mediante marcação prévia, a sessões de psicologia destinadas a, por exemplo: melhor gerir a ansiedade, promover o bem-estar psicológico, estudar melhor, aumentar o autoconhecimento, tomar decisões de carreira (…). Tens ainda ao teu dispor workshops de treino de competências pessoais e académicas, no decurso da jornada académica. Podes também encontrar online materiais psicoeducativos, com dicas subordinadas à prevenção e promoção da saúde psicológica e à vida universitária, entre outros tópicos. Podes, inclusive, seguir-nos no Facebook. O Serviço de Psicologia está localizado no Campus da Penteada – gabinete 2.135 (andar 2) e/ou no Colégio dos Jesuítas, de 2.ª a 6.ª feira, das 9 às 12:30 e das 14:00 às 17:30. Contacta-nos através do email servico.psicologica@mail.uma.pt ou dos contactos telefónicos 91 81 59 467 | 291 70 53 40 (direto). No website scp.uma.pt podes encontrar mais informação, e caso tenhas alguma questão, não hesites em nos contactar. Serviço de Psicologia da UMa

Antropologia

“A História sempre mostrou que qualquer ação humana tem consequências.” O Ser humano sempre teve a vontade (necessidade?) de dominar, controlar, se apropriar os espaços mas também as outras espécies (animais) incluindo os elementos da sua própria raça homo sapiens (escravatura, teorias raciais), também os elementos naturais (águas, mares, rios, vento, clima, etc.). A própria invenção das linguagens com vocabulário científico, profissional, etc. (i.e. uma linguagem estatal, linguagem litúrgico com o latim utilizado durante séculos nas igrejas católicas facilitando o controlo dos espíritos dos povos analfabetos) – é uma outra forma de apropriação/dominação. Saber é Poder. O Homem, enquanto animal cultural, tem esse instinto – tanto biológico como cultural – de controlar, enfrentar e superar os seus medos. Quando não consegue explicar, dominar – fisicamente ou intelectualmente –, procura substitutos. Assim nascem as crenças, as lendas, superstições e outras manifestações espirituais, irracionais quando o racional é inacessível. Essas manifestações servem a elucidar o mistério, explanar o inexplorado. Todas formas de culturas, ritos e rituais são soluções alternativas para “dominar”, “controlar” tudo o que escapa ao Homem. Agora, a questão de saber se sempre essas buscas permanentes têm êxito… o filósofo Immanuel Kant levantou essa questão fulcral sobre as funções do Homem: “O que posso conhecer?” (seguida de: “O que devo fazer?” “A que posso aspirar?” “O que é o homem?”) sugerindo a utilização, a extensão e os limites da Razão. A História sempre mostrou que qualquer ação humana tem consequências. A procura e descoberta da vacina contra o Covid-19 (ou quaisquer doenças) terá um custo, não só financeiro, mas também humano, social, cultural até político (anúncio do Putine ontem que poderia declarar uma guerra diplomática, até mais…). Além das consequências negativas que a procura/busca do Conhecimento origina, podemos pensar que o Conhecimento sempre prevalece sobre o obscurantismo. Usando da alegoria da Árvore de conhecimento, o ato de comer (maçã) envolve conhecimento… aqui do bem e do mal, demonstrando a importância deste “pecado”, ato proibido, simbolizando o amadurecimento humano, tanto intelectual como corporal. Sou antropóloga, quer dizer que tenho uma especialização mas não se pode abordar, refletir, analisar “factos” sociais e/ou culturais sem ter, ao seu dispor (vamos dizer) “vários dicionários para traduzir” as ferramentas recolhidas (facto observado, palavras/discursos ouvidos gravados…) sem já ter um cultura geral (leituras diversas principalmente, descobertas individuais, viagens…). Essa cultura geral abarca as outras áreas científicas. Por exemplo, um antropólogo tem uma grande afinidade com a filosofia e a psicologia (hoje podemos acrescentar a sociologia, a geografia humana, etc.). O investigador, além da sua área principal, tem de desenvolver conhecimentos nas ciências afins, ferramentas indispensáveis para chegar ao fim: analisar/compreender os dados, e divulgar/publicar. Outros elementos fundamentais – sobretudo em antropologia – SEMPRE USAR DE COMPARAÇÕES. Só a comparação permite diferenciar os elementos discordantes e/ou notar os semelhantes que serão à origem de definição de regras, leis, normais destacando os elementos culturais identitários do grupo estudado em relação com outros. Direi que as teorias são: o espaço não existe sem OBJETO (no sentido lato incluindo a presença de um corpo humano). É o objeto que dá realidade ao espaço. A partir desta teoria – visão – podemos dizer que isso seria um facto “desde todos os tempos”. O que nos carateriza como sociedade é – além da conquista do espaço e uso (o fato de praticar o espaço: organização, reprodução da espécie, sustentação do grupo (caça etc.), isso como qualquer espécie viva (humano, animal, vegetal), estamos a contextualizar os espaços (noção de territorialidade, espaço masculino/feminino, espaço social, profana/sagrada,…). São os corpos dentro esses espaços, e os ritos/rituais envolvidos, que contextualizam um espaço físico/geográfico. Christine Escallier Docente da UMa

Religião: como e porquê?

A religião e o culto do divino existem desde que o ser humano se apercebeu da sua própria existência no mundo e nascem da necessidade de explicar os eventos que sucedem na sua interação com o mesmo e com os outros elementos da própria espécie. Segundo o antropólogo inglês, Edward Tylor, as primeiras civilizações criam no animismo, ou seja, na existência da alma como um elemento que ultrapassa a morte do corpo. Ainda nesta linha de pensamento, o antropólogo R. R. Marrett observou que as culturas indígenas dos continentes africano e americano acreditavam que existia uma força inerente aos seres vivos e à natureza que inspirava temor e reverência ao ser humano. De facto, o conceito de alma está presente em diversas religiões. Em segundo lugar, uma vez que as religiões partilham diversos elementos, é justo deliberar o contacto entre os indivíduos da mesma religião e a interação com pessoas de outra. Anteriormente ao Iluminismo, a fé era transmitida de pais para filhos e explicava o funcionamento do mundo. Questioná-la era um ato censurável e punível. Com efeito, não é por acaso que a Igreja Católica lutou afincadamente para se preservar como a única detentora do conhecimento, dado que assim se manteria como a autoridade incontestável. Por este mesmo motivo, outras religiões não eram aceites, pois apesar de terem similaridades, as suas diferenças eram o suficiente para abalar o modo de vida da sociedade, em especial se atentarmos que o Homem nem sempre separou a fé dos assuntos políticos. Não obstante, o século XXI oferece uma maior liberdade religiosa. Se antes da globalização muitos indivíduos não conseguiam cogitar a existência de uma religião distinta da sua, nos dias que correm as pessoas encontram-se melhor esclarecidas. Segundo o The World Factbook, em 2012, 28% da população mundial era cristã, 22% professava o islamismo, 15% cria no hinduísmo e 12% não possuía religião. Contrariamente ao passado, o avanço da ciência e a promoção da educação fornecem explicações sobre o funcionamento do mundo e até mesmo sobre a mente humana. Assim sendo, o que leva os contemporâneos a professarem uma determinada religião? Tal como no passado, a transmissão dos valores religiosos de pais para filhos continua a ser um grande fator. Por outro lado, existem pessoas que procuram a religião após um acontecimento traumático ou de extrema importância e a fé torna-se um meio de renovação e cura interior. Terceiramente, uma pessoa pode abdicar ou até mesmo mudar de religião. Isto pode dever-se ao facto dos seus valores deixarem de coincidir com os valores da religião que praticam ou por deixarem de acreditar no divino. Noutros casos, uma pessoa muda de religião para poder casar-se com o seu parceiro, como é o caso de Meghan Markle que se converteu à Igreja Anglicana para contrair matrimónio com o príncipe Harry. Adicionalmente, existem aqueles que recusam a religiosidade como forma de protesto contra o uso desta para justificar atitudes que atentam contra o bem-estar do outro. Um bom exemplo disto aconteceu em 2017, no Tribunal da Relação do Porto: um homem agrediu a ex-mulher com uma moca por esta ter encontrado um novo companheiro e o juiz encarregado do processo defende a sua atitude, recorrendo a citações bíblicas que fazem a apologia da submissão da mulher ao homem. Concluindo, a religião confere alento ao Homem, porém é inadmissível o seu uso para ferir o outro ou legitimar atos que contradigam os direitos humanos. Sofia Gomes Aluna da UMa

Assessoria Linguística

“Usar qualquer língua obriga à reflexão sobre ela. A Assessoria Linguística deveria ser indispensável para evitar usos desadequados.” Em dois meses, disseminou-se um vocabulário que marca 2020: “Coronavírus”, “pandemia”, “isolamento social” (Pode um isolamento ser social?), “máscara”, “tele-ensino”, “teletrabalho”, “Covid-19”, etc. A lista é longa e observam-se hesitações. Por exemplo, “pandemia” é do género feminino. Porém, “vírus” é masculino, assim como “Coronavírus” ou “Covid-19”. No entanto, ouve-se, e lê-se, este último no feminino. Mesmo influenciado por “pandemia”, não deixa de ser um masculino: “o Covid-19”. A Assessoria Linguística deveria ser requerida por políticos e outros profissionais, incluindo docentes. Foi alarmante ouvir repetir “OK”, numa aula de Português para o 1.º ano e o 2.º do 1.º Ciclo do Ensino Básico, na televisão nacional. Pode desculpar-se o nervosismo da docente, mas generalizar, em português, este acrónimo inglês (de uso coloquial e popular), numa sala de aula televisiva, destinada a crianças de 6-7 anos, não deixa de ser preocupante. Recentemente, perguntavam-me se se podia dizer “uma esmagadora maioria” e “uma grande maioria”. Será adequado associar características como “esmagadora” e “grande” a um nome como “maioria”? Embora não fazendo muito sentido, devido à imprecisão daqueles adjectivos, “maioria” pode ser qualificada. Diz-se “maioria absoluta” e “maioria relativa”, em situação de votação. Os adjectivos colocados antes do nome, mas também depois, (como “esmagadora”) vão indicar qualidades pontuais e os colocados após (como “absoluta”) identificam, nestes casos, categorias diferentes de “maioria”. Aceitam-se ambos: “uma inesquecível maioria absoluta”. Num determinado conjunto de elementos, considerando “maioria” o subconjunto correspondente a “metade mais um”, não seria necessário qualificá-la. Todavia, às vezes, é mais do que isso. Desconhecendo-se a quantidade certa, é possível adicionar qualificativos que introduzam ideias vagas como a de “esmagadora” (que derrota, “esmagando”, o adversário menos votado, se houve votação). Assim, “maioria” equivale a um número que ultrapassa em muito a linha de “metade mais um”, sem se saber qual é a contagem final. Não se precisando quantos são, apenas se quer realçar que a “maioria é inequívoca”. A Assessoria Linguística profissional deveria ser uma exigência. Vejam-se os casos de “tez” e “rês”. 1. A …………………. da cebola é acastanhada. Preencher o espaço com a forma certa: tez/ tes/ tês/ têz. Solução: A tez da cebola é acastanhada. Explicação: A etimologia de “tez” (“superfície fina de qualquer coisa, incluindo a epiderme do rosto”) é de origem duvidosa. No passado, escreveu-se “tex” e “tês”, fixando-se com “z”, por, segundo Corominas, ter origem em “*atez, por aptez”. 2. O agricultor comprou uma ……………………… Preencher o espaço com a forma certa: rez/ res/ rês/ rêz. Solução: O agricultor comprou uma rês. Explicação: Um animal quadrúpede destinado à alimentação humana é uma “rês”. Virá do árabe: “rá,s”, significando “cabeça”. Estão atestadas “rex”, “res” e “rezes”, fixando-se “rês”. HELENA REBELO Professora da UMa

Académicas

“O movimento associativo nacional “Académicas.” composto pelas Associações Académicas das Universidades de Aveiro, do Algarve, da Beira Interior, de Coimbra, de Évora, da Madeira, do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro, foi formado em Junho de 2020. A Académica da Madeira integrou o movimento em Outubro deste ano.” O movimento associativo Académicas., composto pelas associações académicas de oito universidades – Aveiro, Algarve, Beira Interior, Coimbra, Évora, Madeira, Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro – surge para promover a discussão sobre o futuro do ensino superior em Portugal. Tendo em consideração o contexto que atravessamos, entendem ser necessária uma reflexão profunda e urgente sobre o futuro do Ensino Superior em Portugal, com balanço nas respostas de emergência que as suas Instituições de Ensino Superior propuseram, mas, acima de tudo, promover a discussão numa ótica de oportunidade de mudança e evolução para o futuro. Quando questionado sobre as razões que levaram a Académica da Madeira a integrar este movimento associativo nacional, o Presidente da Direção, Eng. Carlos Abreu, responde que “as decisões sobre o ensino superior devem também ser tomadas auscultando os estudantes, independentemente da região do país onde estudam. Isso é fundamental. Além disso, e no nosso caso enquanto estudantes da mais nova instituição de ensino superior público português, localizada numa região insular e com estatuto de ultraperiférica, vivemos desafios e constrangimentos específicos que precisam ser minimizados. A insularidade constitui-se como um grande desafio do ensino superior português”. O movimento associativo pretende juntar as vozes dos estudantes das diversas instituições e ajudar o Governo na tomada de medidas para o futuro ao apresentar aquilo que consideram, na visão dos estudantes, preocupações e reformas fundamentais para o Ensino Superior e para o país. Por considerarem que o futuro de Portugal depende do ensino superior o movimento “Académicas.” lançou agora uma nova campanha com o objetivo de reivindicar o aumento do financiamento para o Ensino Superior no Orçamento de Estado. A campanha tem por base as principais preocupações dos estudantes que as estruturas estudantis representam e ouviram, nomeadamente no que diz respeito aos problemas relacionados com o financiamento, a qualidade da educação, o alojamento, o impacto da pandemia na saúde mental dos estudantes, o transporte, a resposta das Academias à situação pandémica e a oferta formativa. Não quero depender de quanto a minha família ganha para continuar a estudar! Quero escolher onde e o que estudo! Preciso que a bolsa não seja para a propina! Preciso de apoio e soluções para me deslocar, porque a minha cidade não tem Metro! O Plano de Alojamento também tem de ser para mim! Quero ter onde dormir! Quero dormir num quarto que tenha mais que quatro paredes e uma cama! Já não cabemos nas salas! Quero sair das aulas e ter onde estudar! Quero ir para mestrado e doutoramento sem ter que vender um rim! Quero aprender de uma forma diferente dos meus pais! Gostava de não ter de tomar um ansiolítico para me conseguir sentar a fazer um teste. Andreia Micaela Nascimento Alumnus

Classes (mais) jovens e o caminho da(s) sustentabilidade(s)

Na perspectiva dos grupos mais jovens e, sobretudo, ao nível académico, a sustentabilidade económica surge como preocupação crescente. Em tempos de crise, essa questão é um problema que se intensifica. Porém, outras soluções poderão ser reequacionadas nessa direcção e, tendo em conta a actual situação pandémica, a maior procura pelos meios digitais pode resultar precisamente numa eficaz e ponderada gestão dos recursos económicos. Outrossim, o trabalho das Nações Unidas tem visado um desenvolvimento sustentável, no âmbito da Agenda 2030. Veremos se, à velocidade frenética advinda de um progresso científico e tecnológico diário, a sociedade não se descaracterize em termos do seu ethos cultural ou se, porventura, possa potencializar o crescimento do sistema económico ao nível global, de modo a garantir um caminho sustentável. Certamente que, as classes mais jovens em questão, já tiveram a oportunidade de utilizar um cartão de débito ou, até mesmo, outra modalidade afim, que as permitisse efectuar operações sobretudo de transferência ou de levantamento. Caso ainda não tenha acontecido, em princípio, os pais e outros familiares decerto já usaram determinados cartões bancários. Quero dizer com isto que, desde muito cedo, apesar de não se manifestar directamente na prática, lidamos com métodos de sustentabilidade económica, no caso, em ambiente familiar. Contudo, em que medida utilizamos ferramentas de sustentabilidade económica, em fases da vida, como por exemplo, a que se sente actualmente? Efectivamente, a resposta encontra-se nos meios digitais. A título exemplificativo, a criação de plataformas dedicadas ao mercado livreiro introduz-se como uma alternativa sustentável, visto que permite aos leitores na sua generalidade e, neste contexto, aos mais jovens, efectuarem uma selecção dos vários e-books, entrevistas e outras informações que se encontram disponíveis, dos(as) quais lhes suscite mais interesse, bem como encomendar algum livro e, neste sentido, dispondo daqueles que forem os métodos de pagamento mais convenientes: PayPal, MB Way, cartão de crédito, entre outros. Deste modo, a área do livro também recuperará nos vários sectores que dinamizam e contribuem para o seu crescimento económico, desde os agentes editoriais até aos autores. Relativamente à Agenda 2030, esta pode servir como porta-estandarte para que os jovens se guiem numa linha de pensamento mais comunitária e associada aos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se estabeleceram em 2015. A base para uma sustentabilidade global não só está presente economicamente, mas também social e ambientalmente. Por outras palavras, são esses três pilares que funcionam articuladamente e permitem às gerações jovens actuais não comprometerem o futuro daquelas que lhes sucederão. Por isso, quando pensamos numa sociedade mais desenvolvida tecnologicamente em paralelo com o progresso científico, não há certezas que a questão da sustentabilidade esteja resolvida. Como poderemos explicar essa evidência que nos conduz a uma reflexão? Significa que ao caminharmos cada vez mais para uma óptica de manipulação do ser humano e, consequentemente, para uma substituição pelas máquinas robotizadas, estaremos inevitavelmente a associar-nos a uma corrente pós-humanista alicerçada a um transhumanismo, que apodera-se de uma sensibilidade humana entorpecida. Os riscos de que incorremos serão: em relação à sustentabilidade económica, com a redução das horas de trabalho e com uma redefinição dos contratos laborais, que pode resultar em mais despedimentos; no domínio social, a descrença nas capacidades práticas que, naturalmente, o ser humano por ele próprio fazia, o que resulta num afastamento social em relação a algumas actividades em grupo e, por fim; no domínio ambiental, a presença de armas completamente autónomas é um dos exemplos, que pode proliferar maior destruição dos habitats naturais. Cabe ao ser humano e, neste sentido, as classes mais jovens desempenham um papel fundamental, prever os prós e os contras destas alterações significativas ao nível da(s) sustentabilidade(s), programando as inteligências artificiais de forma segura e com uma distribuição equitativa por cada sector empresarial ou unidades de emprego. Em conclusão, o caminho da sustentabilidade económica é desenvolvimento de uma estrutura holística, que trabalha quotidianamente para assegurar os recursos indispensáveis ao seu funcionamento. Em tempos de crise, as classes mais jovens representam a força motriz de uma economia mais digital, mas também mais social e ambiental. Assim, esperemos que essa dicotomia pós-humana e transhumana se mobilize como raiz ética para reflectirmos sempre em sustentabilidade(s). Guilherme Vieira Aluno da UMa

A responsabilidade da escolha

“Todos usufruímos dessa liberdade e, por essa democracia conquistada, todos temos a responsabilidade de participar, de decidir, de dar a cara. Esse é o valor da democracia.” Num estudo do V-DEM Institute, da Universidade de Gothenburg, divulgado em março deste ano, Portugal surge com a 7.ª melhor democracia do mundo. Apresenta-se como um exemplo de evolução positiva quando se consideram as últimas décadas, mas peca pela fraca participação política dos cidadãos. Uma sondagem produzida para a Representação da Comissão Europeia em Portugal — Opinião pública na União Europeia demonstrou que houve uma quebra de confiança, por parte dos portugueses, nos partidos políticos e na satisfação com a democracia. Posição corroborada por vários outros estudos, que concluem que as instituições políticas são, definitivamente, aquelas em que é depositada menos confiança. É portanto fácil de questionar, perante os dados expostos, se a fraca participação política, o desinteresse da população e até a abstenção nos vários atos eleitorais não são senão espelho da falta de confiança dos portugueses nos partidos. Eu diria que sim! Mas o que tem falhado? E que preço se paga por viver em democracia? O 25 de Abril de 1974 deu azo ao nascimento da democracia depois de anos de ditadura e foi ela que nos deu a oportunidade de ter opinião, de votar de forma livre, de escolher quem nos governa. Hoje, dizem que Portugal vive uma crise de confiança política, mas, muitas vezes, esquecemos que todos estamos no mesmo barco. Que a democracia nos serve no auge, mas que também deve ser arma para os tempos mais difíceis. Todos usufruímos dessa liberdade e, por essa democracia conquistada, todos temos a responsabilidade de participar, de decidir, de dar a cara. Esse é o valor da democracia. A realidade que atravessamos, com a pandemia da COVID-19, deixou-nos nas mãos dos políticos que nos representam. Sem escolha, confiantes ou não, foi essa democracia que mostrou, uma vez mais, que as nossas decisões se refletem, sempre, no percurso da nossa Região e do nosso País. Um estudo recente, realizado pelo ICS e pelo ISCTE, revelou que 51% dos portugueses considera que as medidas tomadas, em resposta à pandemia, foram adequadas, mas outros 44% defendeu que eram necessárias outras mais restritivas. Gostava de saber a percentagem de votantes entre estes inquiridos, o que nos traria mais uma oportunidade de reflexão e mais uma forma de entendermos que não basta reivindicar. Hoje, o papel da política é, também, o de nos salvar a vida. O de impor para nos proteger, o de alterar a realidade para que ela surja melhor, mais tarde. Na nossa Região, a estratégia política resultou. Não se registaram óbitos e, em relação ao resto do território, têm sido menos as linhas de contágio ativas. Afirmo, até porque escrevo um artigo de opinião num tempo de liberdade, de que acertámos no líder e na audácia de quem nos governa. Mas, nas últimas eleições, ainda faltou votar quase 45% da população. Que as novas circunstâncias, a que nos estamos a adaptar e a que o nosso Governo está a responder, possa mudar a opinião das pessoas e fazer com que, pelo menos aqui, a política esteja mais apta a ter a confiança da população. Vera Duarte Alumnus da UMa