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“A bolsa de mérito reforçou a minha vontade de continuar a investir na minha formação”

“A bolsa de mérito reforçou a minha vontade de continuar a investir na minha formação”

Rubina Nascimento foi uma das oito estudantes distinguidas com a bolsa de mérito da Universidade da Madeira, referente ao ano letivo de 2022-2023. Com uma média de 19 valores, a estudante da licenciatura em Enfermagem apresenta a mais alta da instituição.
Rubina Nascimento, estudante de Enfermagem, foi uma das distinguidas com a Bolsa de Mérito, em dezembro de 2024.

Rubina Nascimento destacou-se na lista dos estudantes distinguidos com uma bolsa de mérito da Universidade da Madeira. A jovem estudante, natural do Arco da Calheta, terminou o ano letivo de 2022-2023 com uma média de 19 valores.

Está no quarto ano da licenciatura em Enfermagem, curso que escolheu por sentir “uma grande vontade em ajudar os outros e de fazer a diferença na vida das pessoas”. 

Porque é que escolheste Enfermagem?

R.N.: Ao terminar o ensino secundário, optei por ingressar no curso de Ciências Biomédicas Laboratoriais, no Porto, acreditando que seria a escolha certa para a minha realização pessoal e profissional. Infelizmente, essa experiência revelou-se uma desilusão, pois não me identifiquei com o curso. Foi então que decidi regressar à Madeira e tirar um gap year, o que se revelou uma das melhores decisões da minha vida. 

No ano letivo seguinte, em 2021, ingressei na licenciatura em Enfermagem na Universidade da Madeira, cheia de entusiasmo e convicção de que estava no caminho certo. Apesar de não ter recebido o apoio inicial das pessoas à minha volta, sempre acreditei na minha escolha, pois sinto que ser enfermeira é a profissão que me permite realizar o que mais desejo: ajudar as pessoas nos momentos de maior fragilidade.

Qual seria a tua definição de um bom estudante?

R.N.: Para mim, ser um bom estudante ultrapassa o domínio das boas notas ou ter um vasto conhecimento teórico. Embora as competências teóricas e práticas sejam imprescindíveis na licenciatura de Enfermagem, a construção de competências relacionais é fundamental. O relacionamento interpessoal, a empatia, a comunicação, a teoria e a prática, são essenciais para a prestação de cuidados de qualidade e para criar um ambiente seguro e de confiança para o utente. Além disso, considero que um bom estudante é alguém que constrói um pensamento crítico, capaz de relacionar os conteúdos teóricos, fundamentados em evidência científica, com a prática. Decorar conteúdos, sem compreender a sua aplicabilidade e o seu impacto prático, dificilmente contribui para um desempenho de excelência a longo prazo.

Quais as maiores dificuldades que encontraste até agora na tua licenciatura?

R.N.: A conciliação entre o estudo, os estágios e os momentos de lazer foi um dos desafios mais difíceis da licenciatura. Efetivamente, os estágios exigem uma grande responsabilidade, pois lidamos com a saúde e a vida de pessoas, e o nosso papel é prestar cuidados holísticos, seguros e de qualidade aos utentes. Esta responsabilidade implica dedicar horas adicionais, após os turnos de oito horas, para estudar patologias, procedimentos, terapêuticas, e desenvolver os trabalhos académicos exigidos. Isto limita o tempo livre para o descanso e o lazer.

O facto de existir uma bolsa de mérito foi um incentivo para o teu estudo? Sabias da sua existência?

R.N.: Sim, sabia da bolsa de mérito. Contudo, nunca pensei na distinção. Isto porque o meu foco foi sempre desenvolver e aprimorar competências para conseguir ser uma boa enfermeira e prestar cuidados de excelência aos meus utentes.

Evidentemente que receber uma bolsa de mérito é um reconhecimento que valoriza o esforço e foi uma grande satisfação saber que o meu empenho foi distinguido. Este reconhecimento não só reforça o meu compromisso com a profissão, como também é um incentivo para progredir com a formação após a licenciatura.

Quanto tempo por semana dedicas ao estudo?

R.N.: Não contabilizo as horas exatas, mas sei que o tempo dedicado ao estudo é substancial. Costumo estudar diariamente, ajustando a carga conforme a complexidade das matérias ou a proximidade de avaliações. Nos dias úteis, o estudo é mais intensivo, enquanto ao domingo reduzo a carga para cerca de uma a duas horas, aproveitando o resto do dia para estar com a família e recarregar energias. Manter uma rotina de estudo e ser disciplinada permite ter um equilíbrio entre o estudo e a minha vida pessoal.

Quais as técnicas de estudo que utilizas?

R.N.: A minha metodologia baseia-se num sistema combinado. Primeiro, realizo os meus próprios resumos, pois considero a escrita uma forma eficaz e eficiente de consolidar o conhecimento. Em seguida, leio em voz alta para interiorizar melhor a matéria. Depois procuro explicar estes conceitos a outras pessoas, o que me ajuda a perceber se realmente compreendi a matéria. Esta técnica de ensinar aos outros é uma boa estratégia para mim, pois é ao transmitir a informação que me apercebo das áreas que necessitam de uma revisão.

Quais os fatores que, durante as aulas, fazem a diferença nas tuas notas?

R.N.: O envolvimento e a proximidade dos docentes com os alunos, no curso de Enfermagem, foram determinantes para o meu desenvolvimento académico. Durante estes quatro anos, senti que havia um espaço seguro para esclarecer dúvidas, debater casos práticos e pedir conselhos em situações mais complexas. Esta relação foi especialmente importante para lidar com o sofrimento moral que por vezes sentimos em situações mais desafiantes nos estágios, permitindo desabafar e refletir sobre as experiências de forma construtiva.

Quais foram os maiores obstáculos para manter uma rotina de estudos eficiente?

R.N.: Embora seja muito disciplinada, o cansaço foi, sem dúvida, o maior desafio. Havia dias em que o esforço físico e emocional que despendia no estágio comprometia a minha capacidade de concentração e percebi que era necessário ouvir o meu corpo e respeitar esses momentos de cansaço. Aprendi que, nesses dias, o descanso é indispensável para a recuperação e para retomar o estudo com uma maior clareza no dia seguinte.

Após o curso, quais são os teus objetivos futuros a nível académico? 

R.N.: Encontro-me no último ano do curso e, ao olhar para o meu percurso, sinto um profundo orgulho e gratidão. Todo o esforço e dedicação valeram a pena, especialmente ao ser distinguida com uma bolsa de mérito pelo desempenho no segundo ano do curso, conhecido por ser o mais exigente, tanto a nível físico quanto psicológico. Este reconhecimento foi uma motivação adicional para continuar a superar-me, tanto a nível académico quanto pessoal.

Evidentemente, receber esta bolsa reforçou a minha vontade de continuar a investir na minha formação. Pretendo, após a licenciatura, ingressar numa especialidade/mestrado e, futuramente, quem sabe, até num doutoramento. Paralelamente, sinto uma grande vontade de começar a trabalhar e colocar em prática tudo o que aprendi, ajudando as pessoas através da profissão que tanto amo.

E a nível profissional, gostarias de exercer aqui na Região ou de ir para fora? 

R.N.: Adoro viver na ilha da Madeira e tenho um forte apego às minhas raízes e ao que construí aqui. Por isso, o meu objetivo é permanecer na Madeira e exercer a profissão na minha região, apesar dos desafios que a enfermagem enfrenta em Portugal, como a falta de valorização profissional. Contudo, acredito que “quem corre por gosto não cansa”, e sei que com empenho e paixão poderei fazer a diferença.

O que levarás das tuas rotinas de estudante para o mundo profissional?

R.N.: Este percurso de quatro anos ensinou-me diversos aspetos, sendo os principais a disciplina, a resiliência e o equilíbrio. A habilidade de gerir o tempo, a importância de adaptação perante as dificuldades e a capacidade de conciliar a vida profissional e pessoal são qualidades que pretendo levar para o meu futuro profissional. Compreendo, hoje, que o autocuidado é essencial para ser uma profissional dedicada. Acredito que esta rotina e valores serão fundamentais para manter a qualidade dos cuidados e o respeito pelo bem-estar dos outros e de mim mesma ao longo da vida.

Entrevista realizada por Rúben Castro.
ET AL.
Com fotografia de Pedro Pessoa.

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