A FIANDEIRA é o 4.º volume de uma coleção que Rafaela Rodrigues tem realizado sobre as profissões tradicionais da Madeira, na sequência de O PESCADOR, A BORDADEIRA e O LEVADEIRO, todos editados pela CADMUS.
A obra será apresentada no dia 31 de outubro, pelas 17:30, no Museu Etnográfico da Madeira, na Ribeira Brava, pelo Secretário Regional de Economia, Turismo e Cultura, Eduardo Jesus.
Uma das profissões das mais esquecidas ou invisíveis atualmente, resultante da industrialização da produção dos fios de lã, a fiandeira é tradicional produtora do barrete de orelhas, por exemplo, símbolo por excelência do vilão, o camponês da Madeira, é um importante património cultural ligado a vários saberes tradicionais, desde a criação e a tosquia da ovelha, passando pela produção do fio até ao manusear das agulhas para o fazer.
A autora, Rafaela Rodrigues conta-nos agora uma história da ovelha ao barrete de lã.
Nas suas publicações com a CADMUS – A Bordadeira, O Pescador, O Levadeiro e, agora, A Fiandeira – vê, pensa e ilustra profissões tradicionais da Madeira, hoje já pouco visíveis ou pouco pensadas. Porquê A Fiandeira?
R.R.: A Fiandeira é a pessoa responsável por transformar a lã, matéria-prima, em fio. E este fio, que provém de um ser vivo que anda livre, depois transforma-se no barrete, que é um símbolo madeirense. Foi este processo de transformação que me interessou.
Este conjunto de obras sobre as profissões foi pensado como conjunto temático ou foi sendo criado com o tempo?
R.R.: Quando construí O Pescador não o fiz a pensar num conjunto/coleção, mas quando acabei, apercebi-me que havia, e ainda há, muitas histórias relacionadas com profissões típicas da ilha por contar.
O tema parece ser propício à produção de várias obras. Tem uma listagem das profissões? Que tipo de apoio histórico utiliza?
R.R.: Sim, tenho uma lista de profissões e um “alinhamento” das que vou ilustrar a seguir.
Cada vez que apresento um novo livro da coleção, recebo mensagens com sugestões para possíveis profissões a ilustrar. Sempre que isso acontece, fico muito contente porque vejo que há interesse nestes temas ligados às típicas profissões da ilha.
Faço pesquisa no arquivo, e converso com pessoas que viveram de perto, trabalhando ou convivendo com quem trabalhou nas profissões que estou a ilustrar, obtendo assim histórias autênticas.
A Fiandeira tornou-se parte integrante de um projeto maior que começou com o Projeto Velo, criado em 2023, em parceria com o Coletivo Enfia o Barrete.
Teve o apoio do Museu Etnográfico da Madeira e consistiu numa semana de trabalhos em que a lã regional esteve sempre no centro das conversas. Visitamos tosquias, pastores e fiandeiras. Realizamos oficinas e uma conversa com a investigadora Rosa Pomar que veio até à ilha para estudar o que se faz por aqui.
O projeto Velo foi o arranque de um projeto maior que tem como objetivo estudar, divulgar, partilhar, inovar, informar e incentivar para o uso da lã regional e foi criado para servir a comunidade. Tem um valor cultural, científico, social, económico e ambiental.
O Coletivo Enfia o Barrete é um projeto informal e autofinanciado, criado por Irina Andrusko (Oh Lã Lã Fiber Lab) em colaboração com Luz Ornelas (artesã na área de tricot e embutidos), que procura manter viva a tradição do barrete de orelhas, dando-lhe novas funcionalidades. O projeto ocupa-se com o estudo e recolha de dados sobre a tradição de trabalhar a lã na Região. Partilha os resultados da sua pesquisa com a comunidade organizando anualmente uma exposição dedicada a lã regional, ferramentas utilizadas para trabalhar lã e fazer tricot e as próprias peças.
Que outros projetos pretende desenvolver nos próximos tempos?
R.R.: Tenho alguns projetos de livros em mãos, relacionados com histórias que estão à minha volta, retratos e um bocadinho de animação.
Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.