João Gonçalves estuda na Faculdade de Ciências Exatas e da Engenharia e Joana Fernandes é licenciada em Design, pela Faculdade de Artes e Humanidades da UMa. Ele encontrou expressão através da poesia e, com o apoio de amigos, decidiu publicar De mim para ti, uma coletânea de poemas inéditos e originais seus. Ela é apaixonada por ilustração digital, tipo de trabalho que aplicou na obra de João.
A obra será apresentada no Colégio dos Jesuítas do Funchal no domingo, 11 de fevereiro, a partir das 17.00. A entrada é livre.
João, conte-nos o que fez/faz um engenheiro civil escrever poesia?
J.G.: É engraçado que muitas pessoas fazem a mesma questão.
Realmente, uma pessoa que estuda ciências exatas dedicar parte do seu tempo à poesia parece um pouco contraditório, mas a poesia, no meu caso em particular, foi um estudo profundo ao meu próprio ser, onde questionei a minha própria existência e de uma forma muito perspicaz escrevi para compreender a forma para a qual eu me apaixono pela vida.
Gosto de dedicar o pouco tempo que me sobra a ler livros ou pequenas citações de literatura sobre amor.
Pelo impacto que o tema tem na minha vida pessoal e na do resto da vida das pessoas, e pelo meu gosto pela escrita, comecei a produzir e a consumir a minha própria poesia, e à medida que fui partilhando com as pessoas, o feedback recebido foi ostensivo e foi aí que pensei, “tenho de fazer chegar isto às pessoas”.
Na engenharia civil coloco poesia, desde os alicerces à cobertura, por isso, é que eu agarro nestas duas paixões e faço delas uma só.
Joana, fale-nos um pouco sobre a sua formação e sobre a sua atuação artística.
J.F.: A minha formação esteve ligada à área da criatividade desde o secundário, iniciando-me assim em artes visuais na escola Francisco Franco.
Após o término do ensino obrigatório, realizei uma formação em web design que me levou a estagiar numa empresa de publicidade, sítio onde despontou o meu grande interesse em design gráfico, área em que trabalho atualmente. Entretanto licenciei-me em design pela Universidade da Madeira e foi durante a licenciatura que me apaixonei pela ilustração digital.
Dedico-me mais à ilustração nos meus tempos livres essencialmente em projetos pessoais.
Para o João é interessante a ligação que faz, no prefácio, entre a escrita, o amor e a saúde/cura. Fale-nos um pouco desta relação.
J.G.: Houve uma fase da minha vida onde sentia que tudo à minha volta estava a desmoronar-se. Tudo começou quando perdi o amor da minha vida e com o passar do tempo, os meus dias tornaram-se uma bola de neve, que ficava cada fez maior com angústia, raiva e frustração que carregava. Durante esta fase, utilizava o papel para escrever, rasgar, queimar, amassar, jogar, riscar e chorar. Era o meu melhor amigo nessa fase porque independentemente do que escrevesse ele estava comigo em silêncio, e isso sabia-me tão bem.
A dor que transportava diariamente fez-me pensar nas coisas mais feias que podia fazer comigo e com os outros. Quando ganhei consciência do desamor e desprezo que sentia pela vida, procurei ajuda.
Em abril de 2023, participei na edição n.º 11 do treino MAP. O MAP, método ação e poder, é um treino de inteligência emocional, onde são trabalhadas as nossas emoções básicas, o medo, a raiva, a tristeza e a alegria, de forma a saber gerir, usar e potencializá-las a nosso favor.
São utilizadas abordagens avançadas de maestria humana, neurociência, programação neurolinguística, inteligência emocional, coaching, fisiologia e psicologia positiva, numa imersão de três dias para identificar a origem dos nossos bloqueios emocionais, destravar o nosso potencial e aprender como superar desafios, conquistar os nossos sonhos e alcançar o sucesso na nossa vida, através do autoconhecimento e autorregulação do inconsciente, embora sejamos pessoas conscientes.
Após o treino, tenho utilizado as ferramentas adquiridas de forma a aplicar, em tudo o que eu faço, o sentimento mais importante da vida, pelo menos para mim, o amor.
O que foi desafiante e interessante para a Joana na ilustração desta obra?
J.F.: Inicialmente o mais assustador foi o pequeno espaço de tempo que me foi dado para a realização de todas as ilustrações que surgem no livro. A nível do estilo de ilustração escolhido, escolhi-o não só por gostar muito, mas também por ser o meu estilo característico, razão pelo qual o João selecionou-o para ter na sua primeira obra. Desta maneira também senti-me mais à vontade para conseguir realizar todo o trabalho no tempo impingido.
Processo geral à parte, a Ilustração mais desafiante foi sem dúvida a da capa, pois enquanto as outras foram baseadas em fotografias que o autor tinha tirado e se inspirado para escrever os textos, ou seja tinha uma boa base para trabalhar, na capa o desafio fui transpor no desenho os pensamentos e a mensagem que o autor queria transmitir através do título da própria obra, ou seja um cenário bem mais abstrato, no final acho que ficou bem e cumpriu com o objetivo pretendido.
Concluindo, gostei de todo o processo de trabalho, pois apesar de ter havido alguns picos de stress, como é normal e faz parte, foi um trabalho realizado com total liberdade e fluidez, o que trouxe alguma leveza que creio estar transposta na obra.
O João tem outros projetos literários ou os próximos serão de construção civil?
J.G.: Para ser franco, neste momento, estou muito focado e entusiasmado com o lançamento do meu primeiro livro, “De mim para Ti”, que ainda não pensei num segundo livro. Acho que a possibilidade de surgir um segundo livro vai depender do impacto que “De mim para Ti” vai ter depois de publicado. Não me faltam ideias sobre o que posso escrever mas por enquanto, quero viver e sentir toda esta experiência de publicar o livro “De mim para Ti”.
Tenho projetos na área da construção civil que em breve serão realizados, desde a publicação de um artigo científico à implementação de um novo sistema construtivo na Região Autónoma da Madeira e dos Açores, entre outros projetos.
E a Joana, que outros projetos tem para um futuro próximo?
J.F.: A nível de projetos para o futuro pretendo continuar a trabalhar na área do design gráfico e gostaria de continuar com os estudos, evoluindo a minha formação ao realizar um mestrado em design de comunicação.
Continuarei a realizar trabalhos de ilustração digital, de forma a melhorar a qualidade do meu trabalho e continuar a espalhar o meu nome nesse registo.
Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.
Com fotografia de Álvaro Serrano.