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O premiado REFÚGIO DE GIBRALTAR chegou aos leitores

A obra vencedora do Prémio Literário da Cidade do Funchal – Edmundo Bettencourt, REFÚGIO DE GIBRALTAR, de Berta Helena, foi lançada na Feira do Livro do Funchal, em março. É a história dos gibraltinos e gibraltinas que chegaram à Madeira em julho de 1940.
REFÚGIO DE GIBRALTAR, de Berta Helena, editado pelo município do Funchal e pela IMPRENSA ACADÉMICA.

O Prémio Literário da Cidade do Funchal – Edmundo Bettencourt tem como objetivo promover a produção de originais em língua portuguesa, incentivar o gosto pela criação literária e divulgar o nome do autor madeirense Edmundo Bettencourt. Como referiu Berta Helena, «este prémio para mim tem um sabor muito doce porque é um importante reconhecimento da minha obra; é doce também porque me faz lembrar muito o meu marido, recentemente falecido, e que foi a pessoa que me acompanhou sempre e que me deu muita força e incentivo para escrever Refúgio de Gibraltar. Este livro é dedicado a ele».

Segundo Pedro Calado, Presidente da Câmara Municipal do Funchal, “é importante apoiarmos a divulgação de obra ficcionada a partir da história da Madeira, nomeadamente o exílio de duas mil mulheres e crianças gibraltinas que permaneceram na Madeira cerca de dois anos e que trouxeram uma lufada de ar fresco para a economia e sociedade locais”.

A obra é a história dos gibraltinos e gibraltinas que chegaram à Madeira em julho de 1940, mas é sobretudo a história de personagens femininas e, destas, a história de Lilly, a jovem refugiada de guerra como todos os outros que com ela viajaram desde Gibraltar. A inspiração que Berta Helena encontrou para escrever esta obra, «toda ficcionada», vinha já de longe: «Há muitos anos que eu ouvia falar das gibraltinas… Eu ouvia o meu pai falar, ouvia a minha mãe contar algumas histórias. Tenho amigos que são filhos e filhas de gibraltinos e de gibraltinas. E, aos poucos, tudo isto que eu ouvia ia despertando mais a minha curiosidade».

A Madeira estava então estagnada. Sem turistas, sem poder exportar os vinhos, os bordados, os vimes, empobrecera e a vida era triste. Mas a vinda dos gibraltinos trouxe uma reviravolta. Reabriram-se os hotéis, restaurantes, esplanadas, salões de baile. A alegria voltou ao Funchal.

“é importante apoiarmos a divulgação de obra ficcionada” – Pedro Calado

Os primeiros tempos dos gibraltinos na Madeira, sobretudo das gibraltinas, porque a obra está povoada de mulheres e das suas vidas, foi um choque de culturas. A sociedade ilhéu, fechada e conservadora, não aceitou bem os hábitos das senhoras gibraltinas. Os corpos mais despidos, os cabelos com cortes curtos, as idas ao Lido… Tudo considerado pelas senhoras da terra como más influências para as meninas madeirenses.

Berta Helena procurou mostrar a importância do papel da mulher na sociedade: «sobretudo numa sociedade como a nossa, numa ilha – só por ser ilha – condiciona muito, especialmente as mulheres, porque ainda há muito preconceito em relação ao modo como as mulheres vivem, se mostram, se comportam. Eu acho que continua a haver um certo ambiente de preconceito na Madeira em relação à mulheres, embora agora de uma forma muito mais moderada do que naquela altura. As mulheres têm de ser livres na sua maneira de ser e de estar, sem preconceitos».

Com algum sofrimento e cedências de um lado e do outro. As refugiadas acabaram por se ambientar e até por gostar de viver na ilha. Lilly fez amizades, encontrou uma paixão impossível e um amor enorme que transformou a sua vida. Deslumbrou-se pela Madeira, fez do Funchal a sua terra e derramou muitas lágrimas.

Refúgio de Gibraltar, tem a guerra sempre ao longe, mas sempre presente como um pano de fundo, tudo se passa durante e por causa da guerra. E a vida daquelas gibraltinas contada por Berta Helena, vidas transformadas por causa da guerra, estão, no entanto, marcadas por um certo erotismo que a época proporcionou. Como dizia uma das personagens: «o que soltaria assim as mulheres? A guerra, o medo de morrer, o facto de se sentirem, enfim, a salvo? Seria isso que as levaria a querer viver mais e mais, até ao limite?».

A obra, uma edição da Câmara Municipal do Funchal, conta com a IMPRENSA ACADÉMICA com coeditora.

Timóteo Ferreira
ET AL.
Com fotografia da obra REFÚGIO DE GIBRALTAR.

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