As investigadoras Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya Tom publicaram “The walls spoke when no one else would: Autoethnographic notes on sexual-power gatekeeping within avant-garde academia” e, com a notícia sobre o artigo publicado pela Routledge, relançaram o debate sobre o assédio e a violência nas Instituições de Ensino Superior.

“Trata-se de mais uma mentira do governo”. Desde outubro, o Programa de Acolhimento e Integração não teve resposta
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior anunciou, em outubro de 2022, um programa que pretendia “promover o desenvolvimento de atividades culturais e artísticas diversificadas” nas universidades e nos politécnicos. Em abril, o programa continua por realizar, sem qualquer resposta da tutela.

Casos de violência continuam a preocupar estudantes
Esta semana um estudante relatou que teve a sua viatura alvo de um ataque ao sair do Campus Universitário durante a
Há vários dias, Boaventura Sousa Santos e Bruno Sena Martins, investigadores no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), têm sido alvo de notícias sobre suspeitas de casos de má conduta sexual e de abuso de poder.
Os “encobrimentos institucionais para proteger «Star Professors» que favorecem abusos de poder em relação a jovens investigadoras que dependem da aprovação académica desses indivíduos para construir suas carreiras” são analisados pelas três investigadoras no seu artigo, sendo apontados como um modo de funcionamento comum nas comunidades académicas.
Inês Ferreira Leite, professora na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, referiu, em declarações à SIC Notícias, que o descrito no artigo das investigadoras “é absolutamente factual e preciso na descrição do tipo de ambiente e da forma como funcionam as instituições académicas e as relações entre os professores mais velhos e os investigadores ou professores mais novos”. A investigadora destaca a necessidade sobre a “importância de haver um clima de tranquilidade, de igualdade, de igualdade de oportunidades, de verdadeira meritocracia que não existe no nosso meio académico”.
Sobre a sucessão no meio académico: “escolhem como seus sucessores, normalmente porque são pessoas mais apagadas, sem grande pensamento próprio e que vão repetir as opiniões desses professores mais velhos” – Inês Ferreira Leite
Susana Peralta, professora de Economia na Nova SBE, referiu, na sua crónica do Público, que a sua universidade “também não tem procedimentos para prevenir o assédio, nem para receber denúncias e dar-lhes o devido seguimento”.
Sexta-feira, a deputada estadual brasileira Bella Gonçalves colocou fim a anos de silêncio e tornou público episódios de assédio que sofreu em Coimbra, acusando o Boaventura Sousa Santos. Na época dos acontecimentos, a doutoranda não encontrou acolhimento e apoio para tratar das denúncias de assédio.
Agradeço imensamente a todas as mensagens de apoio e carinho que tenho recebido. Não é fácil expor um assédio, nunca será. Mas alivia poder colocar pra fora. E graças ao acolhimento que tenho recebido, principalmente das mulheres, me sinto fortalecida. Seguimos!
— Bella Gonçalves (@bellagoncalvs) April 14, 2023
A ministra Élvira Fortunato recordou sábado, em Esposende, que “há uma série de entidades dentro das instituições que podem ajudar e receber todas essas denúncias”. Para a governante, que afirma que o ministério “ainda não recebeu qualquer denúncia”, “está de portas abertas para ajudar naquilo que for necessário”.
Na sequência da publicação do artigo das três investigadoras pela Routledge, a Direção e a Presidência do Conselho Científico do CES emitiram um comunicado a anunciar a criação de “uma comissão independente à qual caberá a identificação de eventuais falhas institucionais e a averiguação da ocorrência das eventuais condutas anti-éticas referidas naquele capítulo”.
Na UMa, em 2022, dos 591 estudantes inquiridos, 11,3%, ou seja 85 pessoas que aceitaram responder ao questionário, indicaram que foram vítimas de algum tipo de assédio ou de violência na Instituição.
“Entre a bafienta inexistência de instrumentos e a bafienta criação de instrumentos ineficazes só para fingir que se faz alguma coisa, fico com a primeira alternativa. Bafienta por bafienta, sempre é mais honesta” – Susana Peralta
Como noticiado pela ET AL., dos 85 inquiridos que indicaram as situações, 29 estudantes responderam terem sofrido de violência verbal, e cinco de violência física. Foram 19 estudantes que indicaram como vítimas de assédio moral, e 27 identificaram como de natureza sexual o assédio de que foram vítimas. Cinco alunos responderam terem sofrido de outro tipo de assédio ou violência.
Nos últimos dias, a instituição madeirense revelou que, desde o final de 2022, recebeu duas denúncias. No inquérito promovido em 2022 e respondido por quase seis centenas de estudantes, a ET AL. revelou que cerca de 10% respondeu “sim” à pergunta “Reportaste a situação a alguma entidade?”. Dos 85 estudantes, 52,3% não reportaram a situação por vergonha ou por desconhecimento, e outros 41,5% preferiram não dizer se chegaram reportar a alguém competente. Apenas 6,2% dos estudantes que sofreram assédio ou violência reportaram a uma entidade.

Vice-reitora acredita “que o Portal do Denunciante pode facilitar a denúncia pelo facto de permitir o anonimato”
A ET AL. entrevistou Catarina Fernando, vice-reitora da UMa. A universidade disponibilizou o Portal do Denunciante, um canal que permite realizar “denúncias relativas a Assédio e também as relativas a Infrações”, segundo a reitoria.

Assédio(s) no Ensino Superior: Políticas e práticas de intervenção nas comunidades educativas
A 5 de dezembro de 2022, em formato remoto, a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra promove o seminário comemorativo do
O Inquérito anual aos estudantes da Universidade da Madeira, na sua edição de 2021-2022, foi promovido pelo OBSERVATÓRIO DA VIDA ESTUDANTIL da ACADÉMICA DA MADEIRA, no período compreendido entre os dias 27 de abril e 2 de junho de 2022.
Luís Eduardo Nicolau
ET AL.
Com fotografia de Erwan Hesry.