“Nós não temos muitos outros instrumentos para dar oportunidades às pessoas”

“Nós não temos muitos outros instrumentos para dar oportunidades às pessoas”

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Numa co-produção da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a RTP, narrado pelo jornalista Carlos Daniel, o novo documentário “O Desafio do Superior em Portugal” apresenta um retrato atualizado do ensino universitário e politécnico no país, além da sua evolução ao longo das últimas décadas.

“Nós não temos muitos outros instrumentos para dar oportunidades às pessoas, para elas terem uma vida melhor, terem melhores oportunidades, do que àquelas que tiveram os seus pais e os seus avós, do que a formação e o ensino”. Na introdução do documentário, Pedro N. Teixeira, professor de economia da Universidade do Porto e diretor do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), apresenta a sua visão sobre a importância que os estudos superiores têm na vida do cidadão.

Entre vários dados e informações, o jornalista Carlos Daniel começa por esclarecer que, em 2019, cerca de 83 mil alunos foram licenciados no Ensino Superior em Portugal, sendo que 53 mil dos novos diplomados conseguiram emprego nas empresas. É nesse cenário de qualificação nacional sem paralelo, com a geração com a maior escolaridade da história nacional, que os novos graduados se apresentam num mercado laboral dinâmico que, contudo, não absorve, por completo, a produção de diplomados das instituições de ensino.

Portugal partiu, em 1974, de um cenário primitivo, com quase ausência de atividade científica e com apenas quatro universidades. O número de mulheres doutoradas e investigadoras era quase residual, como refere Pedro N. Teixeira. Assistimos a um crescimento, em democracia, de mais de dez vezes o número de alunos do ensino superior com, atualmente, 14 universidades e 15 institutos politécnicos em Portugal. Ainda assim, no quadro da União Europeia (UE27), 16,4% dos empregadores não possuem ensino secundário ou superior, enquanto que o valor nacional é de 47,5%.

O abandono escolar e as dificuldades no acesso continuam a representar grandes desafios para as instituições. “Atualmente, grande parte dos alunos que frequentam o ensino superior são a primeira geração nas suas suas famílias a frequentar” esse grau, conforme observa Maria de Lourdes Rodrigues, antiga ministra da Educação e atual reitora do ISCTE-IUL. Num país com uma população muito dependente dos apoios sociais, para mais de metade dos alunos que recebem bolsa de estudo do Estado, esse apoio significa apenas o pagamento das propinas, conforme observa a antiga governante.

Apesar dos avanços, as famílias com maiores recursos continuam a beneficiar de melhores oportunidades para o acesso, frequência e sucesso. A volatilidade e a dinâmica dos mercados, o envelhecimento da população, a crise energética e climática, a democraticidade no acesso e na frequência e a competição com outros territórios são alguns dos maiores desafios com que o ensino superior português se depara.

Durante 52 minutos, vários dados, informações e testemunhos são apresentados ao público, com as intervenções de vários estudiosos do ensino superior português. São “os grandes desafios do futuro, [que] exigem do país uma resposta coletiva”, como conclui o jornalista Carlos Daniel. Com a realização de Pedro Clérigo, entrevistas e textos de Ana Rita Madruga e direção de produção de Ricardo Pinto, a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a RTP apresentam um documentário fundamental para conhecer o estado e os desafios que as instituições e o país enfrentam.

Luís Eduardo Nicolau
ET AL.
Com fotografia de Tim Gouw.

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