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O retrato preocupante da avaliação pedagógica em Portugal

O retrato preocupante da avaliação pedagógica em Portugal

Carlos Ceia critica, no Público, o modelo de avaliação pedagógica português, apontando falhas na abordagem por competências e defendendo um retorno ao ensino centrado em conteúdos para melhorar a qualidade educativa.

No artigo de opinião do Público, Carlos Ceia analisa criticamente o impacto do modelo de avaliação pedagógica adotado em Portugal desde 2016. Este modelo, baseado na avaliação por competências, tem conduzido o país a um desempenho insatisfatório em estudos internacionais como o PISA, TIMSS e PIACC. O autor alerta que, com esta abordagem, “é lamentável estarmos a falhar na capacidade em compreender textos simples, realizar cálculos básicos e interpretar gráficos elementares”. Para Ceia, o atual sistema “mudou radicalmente em todos os níveis de escolaridade” e não acompanha as exigências contemporâneas.

A transição para uma avaliação por domínios e competências, ao invés de fortalecer a educação, resultou numa perda de equilíbrio curricular. Segundo Carlos Ceia, “o foco em áreas específicas (e apenas ‘essenciais’) do conhecimento” comprometeu a “visão holística do aluno”, prejudicando competências transversais como o pensamento crítico e o trabalho colaborativo. Além disso, a complexidade dos instrumentos de avaliação introduziu opacidade no sistema: “Ninguém entende a maior parte das grelhas, quadros e esquemas mistificados que se criaram ao serviço da ilusão de que avaliamos melhor e com mais clareza”.

Outro aspeto preocupante destacado pelo autor é a tentativa de quantificar comportamentos e valores, tarefa que considera impossível e contraproducente. Carlos Ceia critica a ideia de que “um professor também tem de ser um psicólogo ou mesmo um juiz de família” e observa que, no atual sistema, a avaliação tornou-se “susceptível de interpretações pessoais dos professores”. Paralelamente, a ascensão da Inteligência Artificial (IA) na educação trouxe novos desafios, com estudos recentes a revelarem que “94% dos trabalhos académicos nas universidades foi produzido por AI generativa e não foi detectado pelos professores”. O autor lamenta que a formação docente ignore a ética e as competências necessárias para integrar estas ferramentas de forma construtiva.

Para Carlos Ceia, é urgente reverter este paradigma e resgatar um modelo de ensino centrado em conteúdos como alicerce para o desenvolvimento de competências. O autor defende que “um retorno […] ao ensino de conteúdos tendo em vista o desenvolvimento de um conjunto fundamental de competências” eliminaria a arbitrariedade presente no quadro curricular atual. Além disso, propõe maior destaque a disciplinas experimentais, como Física e Química, e às interações orais em áreas de humanidades. Conclui, com um aviso enfático: “se não alterarmos o actual quadro curricular e o sistema de avaliação pedagógica que praticamos nas nossas escolas desde 2016, o ensino superior terá de começar a ser menos superior e mais inferior”.

Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Jason Goodman.

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