Cadmus apresentou novo trabalho de Andreia Baptista e Teresa Vieira

Cadmus apresentou novo trabalho de Andreia Baptista e Teresa Vieira

Chama-se A MENINA QUE DESAPRENDEU A SORRIR. Um livro para crianças que é uma lição de superação psicológica de uma situação vivida traumaticamente – a separação dos pais.
Andreia Baptista, autora de A MENINA QUE DESAPRENDEU A SORRIR, LUNA! OUTRA VEZ NA LUA?! e AI! SE EU FOSSE ZEUS..., obras editadas pela CADMUS.

Esta é a história de uma menina normal, como tantas outras, que vive numa família que passa por uma experiência de mudança, o divórcio dos pais. As autoras, pelo texto e pelas imagens, conseguem transmitir ao leitor as emoções que a menina sentiu e porquê. O desafio colocado aos leitores é o de identificar estes sentimentos, nesta história e nas suas próprias vidas, ou de pessoas próximas, no sentido de os ajudar a gerir este tipo de acontecimentos da vida atual da melhor maneira possível.

 A MENINA QUE DESAPRENDEU A SORRIR, editada pela Cadmus, é a mais recente colaboração entre a escritora Andreia Baptista e a ilustradora Teresa Vieira.

Lançamento da obra será realizado na III Feira do Livro de Santa Cruz, na Praia dos Reis Magos, sábado, 27 de abril, pelas 16.00.

Depois de Luna! Outra vez na lua?! e de Ai! Se eu fosse Zeus… aparece A menina que desaprendeu a sorrir. Há alguma ligação entre estas narrativas, Andreia?

A.B.: Na verdade, a única ligação que existe entre as três narrativas é a minha crença no poder de um livro e a presença de pedacinhos da minha própria história. Tirando isso, são completamente diferentes. Luna! Outra vez na lua?! é uma história que nos remete para o mundo da imaginação. Ai! Se eu fosse Zeus… para o mundo das fábulas e dos valores.

A menina que desaprendeu a sorrir é para o mundo interior. No entanto, apesar de bem diferentes, todas elas têm o mesmo propósito: partilhar com quem me ouve ou lê o que tenho aprendido ao longo da minha caminhada. Isto não quer dizer que julgue que a minha forma de olhar o mundo seja a única correta. Muito pelo contrário.

O que pretendo realmente com aquilo que escrevo é que cada leitor/ouvinte possa usufruir de uma viagem ao mundo da fantasia e que essa viagem faça aquilo que tem a fazer nas suas vidas.

E a Teresa, que diferenças pode apontar às ilustrações que criou para cada uma destas narrativas?

T.V. Para mim cada projeto é único e a história é a que me orienta a criar as ilustrações. No da Luna! Outra vez na lua?!, era uma história de uma menina que adorava livros, e o texto transmitia um ar muito inocente e doce, o que me fez optar por uma ilustração com traços infantis, usando formas básicas e cores muito vibrantes.

Já o do projeto de Ai! Se eu fosse Zeus…, era uma história com uma forte lição moral e que estava constituída por elementos que relembravam a mitologia grega, por isso quis representar as personagens dos animais com rasgos mais realistas, apoiando-me numa pesquisa da morfologia destes animais (lebre, ratos, cigarras, formigas, abelhas, golfinhos, etc.) e além disso, procurando inspiração também na características das pinturas decorativas dos vasos de cerâmica da antiga Grécia. Optei também por reduzir a paleta de cores e escolhi umas menos brilhantes em contraste com o projeto da Luna por exemplo.

No último livro, A menina que desaprendeu a sorrir, a própria história mostra uma forte ligação entre os sentimentos da Naierda com as cores, e portanto para mim foi óbvio passar esta ideia para o universo das imagens, e por isso o livro começa com cores monocromáticas, (a própria personagem de Naierda é representada toda de cinzento), até que no fim aparecem novamente as cores.

Andreia, em A menina que desaprendeu a sorrir há uma dimensão de superação psicológica de um trauma – a separação dos pais. Acha que a literatura infantojuvenil pode contribuir para isso?

A.B.: Sem dúvida alguma. Eu acredito que, lendo e ouvindo histórias, podemos “viver” a vida das personagens, “sentir” as suas emoções, “experienciar” as suas peripécias, “ultrapassar” os seus obstáculos, “refletir” sobre as suas decisões… Fazemos tudo isto com a nossa imaginação e, muitas vezes, sem darmos conta. Essa é a verdadeira magia dos livros. Por isso, acredito que o livro certo na hora certa pode mudar uma vida (para melhor, claro). Mas também admito que nem sempre o resultado de uma leitura é imediato. Por vezes, uma leitura pode ser uma semente que fica armazenada no nosso coração. Quando chegar o momento, ela germinará e os seus rebentos brotarão.

Sendo assim, olho para a literatura infantojuvenil como uma porta para um mundo onde podemos explorar levemente assuntos verdadeiramente pesados, fazendo com que seja mais simples lidar com situações realmente complicadas. Acrescento também que, por vezes, os adultos são aqueles que mais “crescem” ao folhear os livros infantojuvenis. É uma forma de não esquecermos de alimentar a criança que vive em cada um de nós e de sermos capazes de nos deixar contagiar com a beleza das pequenas coisas.

Teresa, das três obras, qual foi mais desafiante ou difícil?

T. V.: Para mim o mais complexo de ilustrar foi o livro da A Menina que desaprendeu a sorrir. Isto deveu-se a que a própria história é de por si muito descritiva e pormenorizada, e por conseguinte foi desafiante para mim ver de que maneira as minhas ilustrações poderiam aportar a este mundo da Naierda, sem cair em repetir o que dizia o texto.

Todas estas obras parecem conter uma espécie de lição ou ensinamento, como as fábulas. Como é que a Andreia decide compor estes enredos?

A.B.: Os enredos das minhas histórias parecem um jogo. Primeiro, ando perdida num labirinto à procura de uma saída. Depois, como por magia, as peças acabam por se encaixar tal e qual um puzzle. A fonte de inspiração normalmente são as minhas preocupações. Aqueles macaquinhos que me tiram o sono. Regra geral, mal a minha cabeça desce para a almofada, o meu cérebro voa para o mundo dos sonhos. Mas, quando algo me preocupa, tudo muda de figura. Como tenho dificuldade em expressar o que penso e sinto, encontro na escrita o ombro perfeito para desabafar.

Falando concretamente do livro A menina que desaprendeu a sorrir, o enredo nasce de uma preocupação que me acompanha há algum tempo: a falta de tempo e jeito para escutar. Cada vez mais, sinto que a maioria das pessoas tem medo do silêncio. Conclusão: tentam preenchê-lo constantemente. Seja de que forma for. Consequência: não pensam antes de falar e as pessoas mais “fechadas” não encontram espaço para exprimir os seus receios. Na minha opinião, é importante que sejamos capazes de nos ouvir verdadeiramente uns aos outros. É escutando que nos compreendemos melhor. Não só aos outros, mas também a nós próprios.

Mas volto a realçar: o que escrevo é apenas aquilo em que acredito. Não é, nem pretende ser, uma verdade universal!
O que ambiciono mesmo é que cada leitor/ouvinte com a sua bagagem leia/ouça as minhas histórias e faça as suas próprias reflexões, chegando às suas próprias conclusões. Esta sim é uma verdadeira liberdade: o escritor poder partilhar as suas ideias e pensamentos e o leitor poder concordar ou discordar! Se conseguirem trocar pontos de vista (sem se ofenderem, claro) é sinal que caminhamos para um mundo melhor.

Como a Teresa está a prosseguir os seus estudos fora da Madeira, parece uma parceria para durar…, agora que já partilham três livros publicados. Como vê o desenrolar desses vossos trabalhos?

T.V.: Eu acho que a Andreia é uma escritora com um mundo interior tão rico e maravilhoso que faz com que as suas histórias sejam tão únicas e honestas , surpreende-me como ela consegue abordar temas às vezes complicados de explicar a uma criança e como o faz de uma maneira simples e clara.

Não sei o que vai trazer o futuro, mas para mim seria um enorme privilégio ter a oportunidade de dar-lhe forma a outras das histórias da Andreia.

Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.
Com fotografia de Pedro Pessoa.