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Em português escorreito

1. Estes valores são …………………!

ezorbitantes / exorbitantes / izorbitantes / esorbitantes

Solução:
Estes valores são exorbitantes!

Explicação:
Como para “desleixei”, a ocorrência de “x” em “exorbitante” é etimológica porque se encontra na forma latina “exorbitans,antis”, o particípio presente de “exorbitare”, de onde é originária. O verbo “exorbitar” formou-se a partir de “orb(i)-“ , “órbita”, o que explica as acepções de “exorbitante”: “Que sai da órbita; que passa muito acima do que é normal”, dando “excessivo, exagerado, demasiado”. Estas reencontram-se em qualquer dicionário de Língua Portuguesa, incluindo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenado por José Pedro Machado.

A pronúncia ortoépica – dita normativa ou correcta – de “x” em “exorbitante” é “z”. Por facilitismo, no registo escrito, se ocorrer grafada assim ou com “s” será errado. Os contextos, ou seja, as posições que “x” ocupa, poderão ser importantes e ajudar na escrita. Por exemplo, em “exorbitante”, as duas letras, “ex”, em início de palavra pertencem a sílabas diferentes. Isto explicará, em parte, as especificidades articulatórias de “ex” numa única sílaba (ex-pe-ri-men-tal) e em duas silábicas (e-xor-bi-tan-te). Contudo, estas particularidades silábicas não impedem que se escreva com “x” porque este é etimológico. Na grande maioria das línguas escritas, não há correspondências perfeitas entre a grafia e a fonia. Se houvesse, a representação gráfica seria fonética e caracterizar-se-ia por uma certa instabilidade. Sucede em Português e, nomeadamente, com “exorbitante”, em que a pronúncia do grafema “e” inicial pode corresponder a “i” (vogal anterior fechada) ou a “e” (vogal central semifechada), devido a várias razões.

2. …………………-me e não fiz o trabalho que devia.

Deslechei / Desleixei / Desleichei / Deslexei

Solução:
Desleixei-me e não fiz o trabalho que devia.

Explicação
Na frase facultada, o verbo “desleixar” ocorre como construção pronominal: “desleixar-se”. Sem considerar o pronome, constituiu-se a partir do sufixo “des” e do verbo “leixar”, proveniente do Latim “laxare”. No decorrer da Idade Média, caiu em desuso, sendo substituído por “deixar”. Deu-se uma alteração da consoante inicial: “l” passou a “d”. Com o ditongo “ei”, leixar” conservou o “x” de “laxare”, por razões etimológicas, e ficou no uso quotidiano, em alguns vocábulos, como “desleixado” ou “desleixo”.

No registo oral, actualmente, poderá haver alguma tendência para monotongar “ei” (fenómeno inverso do que aconteceu na evolução do Latim para o Português), o que se pode reflectir na escrita, a par da substituição de “x” por “ch”. O dígrafo “ch” – duas letras que correspondem a um fonema – representa maioritariamente, no registo escrito, a chiante surda de “desleixei”. A opção por “ch” em detrimento de “x” leva ao erro, na escrita de “desleixei”.

Helena Rebelo
Línguista e Docente da UMa

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