Num dilema. É neste estado que vivem os enfermeiros portugueses. Licenciados há muito ou acabados de sair das universidades, são bastantes os que convivem diariamente com a triste realidade portuguesa: num país onde os enfermeiros escasseiam (pelo menos nos serviços de saúde), a maioria não consegue trabalho e tem de ultrapassar fronteiras para alcançar este feito. De forma paralela, são, também, numerosos aqueles que, mesmo empregados, procuram novos rumos e um futuro mais desafiante.
Desde 2011, foram solicitados quase oito mil «Declarações das Diretivas Comunitárias» à Ordem dos Enfermeiros, para posteriores idas para o estrangeiro. Embora seja certo que nem todos os que formalizam este pedido saem do país, é evidente que, desde esta altura, há uma tendência para a emigração. Estes pedidos estão inerentes a uma mobilização dentro da União Europeia, sendo que não estão contabilizados neste indicador os que procuram trabalho fora dela.
A principal razão para a saída de Portugal, deve-se ao desemprego. Reino Unido, Bélgica, França e Noruega são, segundo um inquérito realizado pela Ordem dos Enfermeiros, os destinos mais procurados.
Saem, todos, para países que reconhecem a qualidade da sua formação e que, em variados casos, lhes pagam quatro ou cinco vezes mais do que em solo português.
Um inquérito do portal Diáspora dos Enfermeiros declara que a grande maioria dos enfermeiros portugueses a trabalhar no Reino Unido, por exemplo, não pensa em regressar.
Nem para usufruir da reforma! Sentiram dificuldades na adaptação, mas hoje, o estrangeiro é já a sua casa.
Como se o desemprego não perfizesse já um panorama deprimente, a Ordem que representa esta classe em Portugal, atesta que o país dos descobrimentos ainda não encontrou uma linha orientadora que sustente os recursos humanos na saúde. Adivinha até que, daqui a uma década, os portugueses poderão não ter quem deles cuide.
Perante esta realidade, são tantas as questões para reflectir: valerá a pena apostar nesta carreira? Saberá Portugal aproveitar os seus recursos? Terá o nosso país consciência do desperdício humano, profissional e económico afecto a esta situação? Terão os enfermeiros portugueses, um futuro português?
Sabe-se que, pelo menos no estrangeiro, vale a pena apostar na enfermagem. Que eles aproveitam os recursos portugueses (com os quais nem um cêntimo gastaram na formação), jamais desperdiçando o seu qualidade humana e profissional e, ainda, lhes recompensando de uma forma justa. Lá longe, há mesmo um futuro de e para portugueses!
De Portugal, do ninho que os devia proteger, aguardam-se as respostas.
Vera Duarte
Alumnus