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Autismo lidando com o preconceito

A Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo da Madeira tem como objetivo promover a qualidade de vida das pessoas colaborando com outras instituições, portuguesas ou estrangeiras, e com organizações ou instituições internacionais, na defesa dos direitos das pessoas com Autismo, Asperger e Perturbações do Desenvolvimento estando associado à Federação Portuguesa de Autismo.

Através das suas diversas atividades e iniciativas a Appda-Madeira almeja sensibilizar o público em geral para a realidade do autismo, assim como vir a capacitar pessoas da nossa sociedade para auxiliar na realização dos seus objetivos.

Neste momento temos em curso a criação de um Centro de Apoio, onde pensamos vir a congregar diversas áreas, como a Psicologia, o Serviço social, a Terapia da fala, a Psicomotricidade, a Musicoterapia, a Hipoterapia, de modo a facilitar o acesso a todas as crianças e jovens e especializar os técnicos envolvidos.

Ainda que cada caso seja um caso, todas as crianças e jovens deste espectro, têm necessidades semelhantes e específicas da problemática, pelo que só através do associativismo conseguiremos juntar recursos para garantir o acesso à panóplia de terapias que os ajudam e logicamente garantir o seu futuro, independentemente dos recursos dos pais. Para que, quem lê estas linhas, possa sentir o que é viver com o autismo, deixamos aqui um testemunho de um pai:

“Para quem não sabe o que é o autismo – um distúrbio comportamental de espectro muito variado – podemos dizer que, trocando em miúdos, trata-se de um certo grau de dificuldade nata que um indivíduo possa ter no relacionamento emocional com outras pessoas, assim como de interagir socialmente, dificultando, consequentemente, o aprendizado que poderia ser adquirido com o meio social em que vive e que pode prejudicar seu desenvolvimento pessoal.

Isso não significa que essas pessoas não tenham capacidades inatas ou que não as possam desenvolver tão-somente, não conseguem exteriorizar e desenvolver essas mesmas capacidades, que se encontram presas dentro dos seus cérebros devido a uma falha fisiológica da natureza. De certo modo, é como se fossem como uma lâmpada cuja luz não pode ser vista por se encontrar debaixo de uma redoma opaca. A luz está lá, mas carece de alguma ajuda para que se limpe a sujidade da redoma, ou a retire de cima, a fim de que ela possa brilhar. Algumas dessas pessoas são mesmo muito inteligentes, embora em apenas determinadas áreas de atividade e há quem diga que deveríamos, aí, concentrar o foco da nossa ajuda para o seu desenvolvimento, desprezando as áreas em que os autistas têm dificuldades, o que varia de pessoa para pessoa.

Voltando à analogia da lâmpada, nós que somos neuro-típicos (os ditos normais), em contraposição com os autistas que são neuro-atípicos, deveríamos ser aqueles a limpar ou levantar a redoma de cima, procurando entender como funciona a mente dessas pessoas e de como poderíamos nos comunicar com elas, da mesma forma como nos comunicamos com um cego utilizando o método “Braille”, ou a linguagem gestual com os surdos.

Uma vez conseguido isso, veremos como esses indivíduos têm muito para dar, ou melhor, para nos dar. Bastava que lhes dessemos uma oportunidade e saíssemos dos dentro de nossos próprios armários de egoísmo e preconceito e constataríamos que a maior barreira para o desenvolvimento dessas pessoas, para além das atuais limitações da ciência a esse respeito, é a própria sociedade, ou seja, é a nossa falta de comprometimento, o nosso egocentrismo. Afinal não seria isso uma limitação maior ainda do que o autismo em si, uma vez que nos impede de crescer plenamente enquanto seres pensantes e espirituais? Se entendermos a sociedade como um organismo, um corpo, o mesmo não se poderá considerar saudável se todos os seus membros não estiverem igualmente saudáveis. Somos todos “flores de um mesmo jardim, folhas de um mesmo ramo, ondas de um mesmo mar.”*. O Jardineiro Supremo é um só e Ele com certeza não ama as flores de grande exuberância mais do que ama “aquela florinha, que, a muito custo, se esforça por brotar sorridente na fenda da calçada”**. Cabe a nós tentar imitá-Lo e, com grande carinho e paciência, trazê-la para dentro do jardim, junto com as demais flores.”

Cori correa

*dos Ensinamentos Bahá’ís.
** Frase de D. Hélder Câmara, antigo arcebispo de Recife e Olinda.

A Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo da Madeira

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