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O orgasmo cerebral

As longas horas de trabalho no final de cada semestre para o cumprimento de prazos dão azo ao acumular de stress, com todos os efeitos negativos que ele acarreta para a saúde do estudante. Este padrão de vida frenético é comum a milhões de pessoas em todo o Mundo que têm de dar o melhor de si para assegurarem o seu trabalho. Tal estilo de vida leva as pessoas a procurarem formas de descontracção desde práticas de lazer mais tradicionais até às que a moderna tecnologia pode oferecer.

O maior acesso à informação científica, especialmente nas áreas da saúde, levou a que houvesse um desenvolvimento de novas formas de relaxamento que passam apenas pelo uso dos sentidos e que têm proliferado pela Internet nos últimos dois anos.

A Resposta Sensorial Autónoma do Meridiano (na sigla inglesa ASMR) é uma nova moda virtual de relaxamento por estimulação tida como um orgasmo cerebral. Pouco se sabe da origem do termo, havendo na Internet uma vaga referência a Jenn Allen, trabalhadora numa instituição hospitalar de Nova Iorque, que o terá criado para definir a resposta prazerosa do sistema nervoso a certos estímulos. A ela atribui-se a criação de uma instituição não oficial que se dedica ao estudo do fenómeno, mas ao que a equipa da revista JA pode apurar, tal instituição não possui qualquer alojamento ou referência directa na Internet, nem divulgou qualquer trabalho. O fenómeno, mesmo que não recusado pela ciência formal, também não o é reconhecido oficialmente.

Sabe-se, contudo, numa visão científica freudiana, que um simples tique infantil (como mexer no cabelo por exemplo) pode ser fonte de prazer, mas tal não significa que o é para todos os indivíduos.

Alheias à Ciência, dezenas de pessoas em todo o Mundo assumem como verdadeiro o facto do seu sistema nervoso reagir com prazer a determinados estímulos e que essa resposta pode ser generalizada, partilhando as suas experiências com outros tantos milhares que os seguem nas redes sociais e em blogues.

De entre os exemplos mais comummente encontrados, sugere-se ouvir alguém sussurrar, falar suavemente ou com uma voz gutural, roçar uma superfície ligeiramente áspera (como papel, tecido ou ardósia), tocar superfícies macias, ouvir sons ritmados e suaves e praticar qualquer actividade em que se tenha atenção pessoal exclusiva.

Ao longo de 2013, a plataforma YouTube alojou centenas de vídeos de estimulação da ASMR que contam com centenas de milhar de visualizações, e vários comentários de apoio e classificações positivas. Os proprietários dos vídeos lêem livros em voz baixa, rasgam e amachucam papel, mexem em tecido, fazem simulações sonoras de massagens, de lavagem de cabeça e de corte de cabelo, ou praticam quase todo o género de actividades para o público, falando para ele através de sussurros.

O grau de exploração da ASMR no YouTube leva ao próprio extremo de estimulação de prazer baseada numa falsa intimidade, através da simulação de conversas íntimas, em que o realizador interpreta o papel de melhor amigo ou mesmo de companheiro amoroso do ouvinte.

Carlos Diogo Pereira
Alumni

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