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O arrastão de Carcavelos

Em política são três os principais poderes: legislativo, o executivo e o judicial. Desde o início do séc. XI assistimos, continuamente, à emersão progressiva de um quarto poder, o da comunicação social.

Este consegue para manipular, invadir, adulterar, esconder, convencer, persuadir e, no fundo, fazer a notícia acontecer. Hoje em dia, somos sobrecarregados com quantidades excessivas de informação e se não aprendermos a filtrá-la podemos entrar em múltiplas contradições ou ficar na ignorância e aceitar tudo aquilo que nos dão.

Essa informação excessiva é absorvida inconscientemente pelas pessoas, seja através do diálogo, da televisão, da internet, do rádio, até à leitura de revistas.

Um dos maiores exemplos de manipulação de massas em Portugal ocorreu em 2005, no dia 10 de Junho, dia de Camões, Portugal e das Comunidades Portuguesas, na praia de Carcavelos. Sem uma explicação plausível, um grupo de jovens negros começa a correr na praia e enquanto corriam, pegavam nas suas coisas. Começou a gerar-se o pânico na praia, devido à quantidade de negros, e todas as pessoas naquela zona começaram também a correr. Foi chamada a polícia que chegou a agredir algumas pessoas que estavam na praia. O problema local, com a chegada dos órgãos de comunicação social, passou a ser nacional. Após alguns depoimentos de fontes comprometedoras e de um comunicado pouco reflectido da parte da polícia, os jornais abriram com a notícia bombástica de um arrastão na praia de Carcavelos planeado por cerca de quinhentas pessoas vindas de bairros sociais ali perto. Pelos ecrãs passavam fotografias de fraca qualidade onde vários jovens corriam pelo areal, enquanto em ‘voz-off’ se descreviam os ataques aos banhistas desprevenidos. Defendeu-se um reforço imediato nas praias, vários políticos culpavam o governo pela falta de policiamento nas praias. Nos dias seguintes, liam-se manchetes como “Terror na praia” ou “Arrastão à brasileira chega a Carcavelos”. Realizaram-se várias manifestações em Lisboa, contra as minorias éticas. A bomba estava lançada.

Na semana seguinte, com o pensamento clarificado, foram observando-se vários factos que tinham passado ao lado. Apenas uma queixa de roubo foi apresentada à PSP e o crime tinha ocorrido fora da praia. As pessoas que estavam na praia, inclusive figuras públicas, começaram a manifestar-se dizendo que não se tinham dado conta de nada do que a comunicação social havia relatado vários dias antes. O erro começava a aparecer.

Uma briga entre algumas pessoas levou que outras começassem a correr. Ao verem cerca de trinta pessoas a correrem numa determinada direcção, as pessoas se encontravam na praia fizeram o mesmo. O que nas fotos pareciam roubos, eram precisamente pessoas com os seus pertences que corriam sem razão aparente.

Hoje em dia, muitos são aqueles que ainda pensam que o “arrastão” de Carcavelos realmente aconteceu, não tendo qualquer informação contrária. Os media podem influenciar o nosso modo de ser, agir e até de pensar. Seja através de imagens fora do contexto, vídeos retocados ou depoimentos de credibilidade nula, tentam pela estratégia da diversão, desviar a atenção do público dos problemas importantes. Depois de descoberta a manobra, pode levar à falta de confiança que um determinado leitor ou espectador tem no jornalismo.

Citando Isabel Férin, Professora da Universidade do Coimbra “O poder da televisão é terrível em construir ou destruir a realidade que interessa”.

Rúben Castro
Alumnus

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