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memórias

Percurso académico

Quando me lançaram o desafio de escrever esta crónica, e de falar sobre o meu percurso académico ao longo dos últimos 3 anos, tantas memórias e pensamentos me ocorreram num turbilhão. A praxe, a Associação Académica, as cadeiras, os colegas, tudo. Foi uma jornada e tanto, e parece que ainda ontem cá cheguei. A Universidade da Madeira e o curso de Psicologia foram as minhas únicas opções preenchidas na folha de ingresso, por isso, posso dizer que realmente fiquei onde e como queria, porém sem certezas para além de querer terminar curso. Em retrospectiva, recordo que, no dia da matrícula, dirigi-me ao Campus da Penteada e, sem conhecer os cantos à casa, esperei 2 horas para fazer a minha inscrição sem saber que estava no piso errado. Maus inícios, bons acabamentos, pensei, quando apareceu uma alma generosa que me levou à fila interminável de alunos que também esperavam pacientemente pela sua vez. Concluída a dita burocracia, fui lançada aos lobos que me esperavam do outro lado do corredor com: ‘’Qual é o curso?!’’, ‘’Qual é o curso deste bicho?!’’. Acabei o meu primeiro dia toda pintada e com uma lista de tarefas a executar para o primeiro dia de aulas. Durante semanas a fio do primeiro ano andei com uma espiral hipnótica na cabeça, tive que cuidar de um aparente cão velho e feio chamado ‘Pavlov’, sem falar naquele peluche imundo e todo torcido em forma de Ψ (psi) que tinha que levar ao pescoço enquanto gritava em defesa do meu curso, até que, enfim tudo acalmou semanas depois, com o baptismo na marina do Funchal. Não trocava estes momentos por nada, pois foi no contexto da praxe que conheci colegas que posteriormente se tornaram amigos. No ano seguinte experimentei a honra de vestir o traje académico e de trocar de lugar com os então caloiros recém-chegados à UMa, assistindo às actividades das quartas-feiras académicas e dizendo-lhes para cuidarem do tal cão moribundo, cada vez pior. Esse ano passou depressa e parece que caí de paraquedas no 3.º e último ano do meu percurso académico na UMa: num pestanejar, sou finalista! O tempo passa a correr e a nostalgia surge. Ao olhar para os caloiros pensava que num passado não muito distante estava eu a usar aquelas insígnias e que, provavelmente, seria a última vez que teria a oportunidade de participar neste culto de integração que é a praxe. E foi assim, “com pujança, cagança e muita cerveja na pança,” que tive o orgulho de exibir as cores do meu curso na cerimónia do Corte das Fitas, marcando assim o fim do meu vínculo a esta mui nobre Academia. Passados 3 anos de muitas vivências, batalhas, desafios, sabores e dissabores, cá estamos nós, finalistas, a comemorar esta vitória bem merecida. Porém, concluída esta etapa é necessário lembrar que a nossa aprendizagem está longe de terminar aqui, pois havemos de ser eternos estudantes para que sejamos excelentes profissionais. Estes são, sem dúvida, os anos de ouro das nossas vidas, que todos os momentos que aqui vivemos perdurem nas nossas memórias e no tempo! Enya Escórcio Aluna da UMa

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Quando os grandes eram pequenos

(…) O lençol de buganvílias roxas cobria a ribeira. As ruas que a ladeavam eram cheias de árvores, tanto que as chamávamos rua das árvores, e desciam junto com a ribeira até ao mar. A determinada altura da subida, estão estacionados grandes carros carregados de canas à espera da sua vez de ser descarregada, pesada e moída nas máquinas da enorme fábrica que as transformavam em açúcar. O prazer único de se chupar uma daquelas canas só era permitido se um dos homens que as guardavam, tinha a simpatia de, com algum esforço, tirar uma do molhe onde vinha amarrada para nos oferecer, ou se algum dos “garotos”, como a minha mãe os chamava, que corriam atrás dos carros para roubá–las, deixava cair alguma. Canas-de-açúcar, havia sempre muitas, mas aquelas eram sempre mais apetecíveis. (…) Na casa da minha avó, havia um grande alguidar de madeira. Servia para amassar pão e bolos. Nos dias que antecediam o Natal, a cozinha fazia parte do dia a dia de toda a gente. Ponham-se os miúdos todos à volta do alguidar, enquanto a minha mãe punha lá dentro os ingredientes: especiarias que vinham da “venda” embrulhadas cada uma no seu papelinho e que ela dava a cheirar antes de as deitar no alguidar, a farinha, as passas, os frutos secos a margarina e finalmente o mel, espesso e escuro e que tinha um cheiro adocicado. Aquilo era tudo misturado com muito cuidado, devagarinho e amassado pelas mãos de uma mulher que conhecia como ninguém aquela arte e que ficava com os dedos todos sujos daquela mistura. No final da função de amassar, era–nos permitido lamber-lhe os dedos doces daquela massa maravilhosa. Depois, a minha avó fazia uma cruz na massa enquanto dizia uma reza (São Vicente te acrescente, São Mamede te levede) como se este último procedimento fosse fundamental para que nos três dias seguintes aquela massa desafiasse as leis da natureza e crescesse ainda mais. (…) Da janela da cozinha ouvia-se e adivinhava- -se a chegada dos navios. Era uma festa quando os navios chegavam. Eram monstros enormes que se deslocavam silenciosamente no mar e que traziam e levavam imensa gente. Traziam turistas que movimentavam a cidade e nesse tempo eram designados globalmente e independentemente da sua nacionalidade por “ingleses”. Quando iam embora, partiam com apitos e com a ajuda duns pequenos barcos que se chamavam pilotos e, apesar de serem infinitamente mais pequenos, arrastavam aqueles enormes monstros até ao alto-mar. Os navios também levavam as pessoas. Uns iam para Lisboa, outros emigravam para os Brasis, Venezuelas, Américas, e em tempos bem piores levaram os meus tios para a guerra do ultramar, deixando as pessoas no molhe, de lenço branco na mão e com as caras banhadas em lágrimas no desespero duma despedida que podia ser a última…Para nós, os miúdos, este movimento do Porto, era sobretudo uma oportunidade de olhar de perto aquele mar, que nos mantinha prisioneiros e ao mesmo tempo nos fascinava. (…) A camioneta ou “horário” parou num larguinho que tinha uma “venda” onde os homens bebiam vinho e uma fonte onde alguns matavam a sede. Cansada da subida e dos anos de trabalho, a camioneta bafeja um fumo negro do cano de escape e outro esbranquiçado do interior do seu focinho arredondado. O “chaufer” deixa-a descansar, enquanto o “bilheteiro” retira do seu interior um recipiente de borracha em forma de bota que enche na fonte para saciar a sede do velho motor que nos irá permitir continuar o percurso. Três aceleradelas, como que a dar balanço, e a velha camioneta geme arrastando-se pela encosta acima, serpenteando por um caminho com uma lomba muito alta a meio. O caminho é tão estreito que, embora o Verão escalde e os odores humanos dos outros passageiros que enchem aquele cubículo não seja o mais agradável, não nos atrevemos a abrir as janelas sob risco de sermos arranhados violentamente pelo silvado que o rodeia. A meia encosta, saltamos na paragem habitual deixando o cheiro a fumo, a gasóleo e dos humanos, companheiros desta “viagem aventura” e deparamo–nos com o silêncio, e as cores das bananeiras e da vinha. O odor deixa adivinhar o sabor a uva madura e a mosto saído dos pés dos homens no lagar. Retratinhos de Infância de Maria da Paz Rodrigues Mestranda em Gestão Cultural na UMa

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Quando os grandes eram pequenos

O cheiro dos Verões passados, das bonecas Barbie e Nenuco passam por mim sempre que olho para trás. Tantos anos passaram e dou por mim a abrir a pequena gaveta do coração que se chama saudade. Não posso dizer que tudo foi fácil, mas posso dizer que foi maravilhoso e educador. Tudo começou quando me mudei de armas e bagagens da minha terra natal para um lugar onde todos pareciam se conhecer excepto eu. Madeira, o meu destino até hoje. Aos poucos com o meu “portunhol” ou “espanholês” fui conquistando o coração dos primos e amigos e adaptei-me, ganhando amizades que duram ainda. Lembro-me vivamente das brincadeiras do meu grupinho de infância. Éramos 7 mas parecíamos 14. Além das 7 crianças haviam 10 adolescentes, mas como é óbvio nunca entrávamos nas brincadeiras dos “grandes”. Quando isso acontecia, voltávamos a chorar para o colo das mamãs, porque tínhamos levado com a bola na cara, ou com algum pontapé. A casa da minha avó fazia muitas vezes parte do espaço elegido do dia pois havia uma enorme cerejeira em que todos adorávamos fingir que éramos macacos, ou pendurávamos cordas e fazíamos um baloiço improvisado. Na época das cerejas, esquecíamos completamente o baloiço e comíamos cerejas durante horas enquanto cuspíamos os caroços uns para os outros, chamando a isso de “a metralhadora dos caroços”. Ainda na casa da minha avó, outra das brincadeiras era a cabra cega devido ao largo espaço que existia. Era um dos nossos jogos preferidos até ao dia que esfolei uma perna toda. Aí desistimos e deixou de ser da nossa predilecção. Ainda me rio sempre que recordo um dos episódios mais perigosos e hilariantes da minha infância. Influenciei todos para festejarmos os Santos Populares à nossa maneira, e assim foi. Às escondidas dos nossos pais levámos montes de livros e cadernos para um mini descampado mesmo em frente à minha casa e ateámos-lhes fogo. Foi espectacular ver aquelas chamas todas, mas infelizmente a minha mãe sentiu o cheiro a queimado e veio ver o que se passava. Olhou para nós e para a nossa tamanha asneira e começou a gritar. Olhámos uns para os outros e começámos a chorar e, só depois de nos acalmarmos, é que percebemos o que se tinha passado. Tínhamos ateado não só a nossa fogueira de S. João, como também o poste de iluminação pública e toda a vizinhança iria ficar sem electricidade em casa. Uma das minhas muitas recordações é aqueles frascos antigos do sabão Fairy. Quando não estávamos na casa da minha avó, estávamos na casa da minha tia. Surripiávamos o sabão da cozinha da minha tia, estendíamos a mangueira e os azulejos do pátio faziam o resto. Era um escorrega mesmo estupendo para crianças de 6 ou 7 anos. Depois de nos fartarmos vestíamos a roupa novamente e, como já tínhamos o sabão na nossa posse, fazíamos bolas de sabão com restos de tubo para fios eléctricos. Quando o sabão estava no fim éramos descobertos e aí tínhamos grandes sermões à nossa espera. Recordo-me da minha primeira mentira. Tinha 5 anos e achava que andar na escola fazia de mim adulta. Cheguei a casa toda convencida da minha mentira, numa sexta-feira e disse à minha irmã mais velha que a professora nos tinha mandado como trabalho de casa nada mais nada menos do que aprender a ler. Não sabia eu no que me estava a meter. No princípio não havia nada mais adulto do que aquilo. Adorava ler os ditongos. Após a primeira hora comecei a arrepender-me e decidi contar a verdade. Grande problema. Ela não acreditou em mim e se acreditou fingiu que não, obrigando-me a aprender. Lembro-me vivamente de que a primeira palavra que li foi igreja. E soube tão bem depois daquele sacrifício todo. É possível uma criança aprender a ler num só fim-de-semana? Sim, é. Serviu-me de castigo e de lição. Nunca mais lhe menti e deixei de tentar ser adulta, porque lá no fundo adorava ser criança (e se pudesse ainda o era). Naquela altura, Playstation, Nintendo, iPod eram nomes que nem passavam pela nossa cabeça e agradeço por isso. Lembro-me de só ter uma Gameboy e nem era propriamente criança quando a recebi, pois já tinha 12 ou 13 anos. Para mim a nostalgia do cheirinho a cadernos e livros novos, da borracha bem branquinha e do lápis por afiar eram bem mais importantes do que o CD acabado de sair ou o novo modelo de telemóvel. À procura da fotografia para a Revista JA, encontrei fotografias com sorrisos desdentados ou com calças que rasgávamos propositadamente para podermos ter aqueles remendos que se colavam. Vejo que só somos crianças uma vez, por mais vezes que recordemos os tempos passados. A infância para mim foi única e infelizmente nunca mais volta. Era bom se o tempo parasse, pelo menos até que conseguisse jogar à cabra cega sem escoriações, até que o Fairy fizesse mais um escorrega, até que as minhas bonecas se fartassem de mim. Se podia viver sem a minha infância? Poder até podia, mas não seria a mesma coisa. Nathaly Oliveira Presidente da Comissão de Praxe 2011-2012

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Quando os grandes eram pequenos

Chegar a Setembro, findas as merecidas férias, ter que recordar o que me fez crescer e o que mais me marcou ao longo da vida é algo que, à minha cabeça, já não assiste. Agora um pouco mais a sério, tenho todo o gosto em partilhar aqui, um pouco mais de mim. Após infindáveis horas a procurar nos meus arquivos “aqui dentro” e a tentar descolar as páginas dos álbuns cheios de pó, encontrei algumas fotos que jamais soube que alguma vez existiram. A minha primeira recordação tem 19 anos. A minha primeira festa de aniversário. A minha casa, a minha família toda reunida, o primeiro bolo e as primeiras velas apagadas. É difícil esquecer estes momentos em que gatinhávamos, brincávamos com coisas que hoje em dia dificilmente valorizamos, e ríamos como quem respira. O que eu mais gostava de fazer era brincar com legos, pintar (e sujar!), desenhar, passear, jogar à bola, e tantas outras coisas comuns à maioria de nós, quando éramos miúdos. Lembro-me sempre dos domingos passados a andar de barco. Os primeiros mergulhos, os primeiros e únicos enjoos, e a primeira sensação de liberdade pura. Realmente considero-me um sortudo por ter nascido no meio de um paraíso natural, de poder acordar e olhar para o mar, virar-me e contemplar a montanha verde e imensa. Lembro-me muito bem dos (nostálgicos) verões, quando não conseguia suportar o calor de Agosto e fazia de tudo para poder ir à Barreirinha, ao Lido ou, em dias de maior capricho, à Prainha. Não esqueço o incomparável cheiro a verão, a mar e a brincadeira que me fazia acordar todos os dias, chamar os meus primos e passar um dia daqueles, como só nessa altura passávamos. A casa da minha avó era onde mais gostava ir aos sábados à tarde. Adorava comer bolo do caco ainda quente, acabado de cozer. E fazer um tão sem-número de travessuras com os meus primos, andar pelo meio das árvores, vindimas e plantações. O ar do campo faz–nos bem de vez em quando, eu que o diga. Foram tantas as vezes que lá ia e voltava duas vezes mais sujo e três vezes mais feliz. Os fins-de-semana eram habitualmente passados em família, e que família! Julgo só ter decorado os nomes de todos os meus primos alguns meses depois de os conhecer. Recordo-me muito bem dos primeiros medos que tive de enfrentar. As tempestades, as aranhas, o escuro… Até aos 3 ou 4 anos, dormia sempre com uma pequena luz acesa no meu quarto, até fundi-la e ter que aprender a dormir como “os adultos” dormiam. É estranho quando começamos a conhecer o mundo e a desmistificar algumas coisas. Depois, quando entramos para a primária e somos obrigados a, simplesmente, aprender e a cumprir algumas regras… Aí é que parece que o mundo fica mais cinzento e a brincadeira toda acaba. Foram grandes momentos. O sorriso de quem nos aturava e a cara dos colegas são coisas que ficam sempre. Desesperava pelo intervalo, por jogar no campo “dos grandes”, por jogar à apanhada, à meia-lua, tanta coisa. Ter que passar aqueles longos minutos antes a olhar pela janela, a planear a tarde, era mesmo algo inquietante. Na natação gastava as minhas últimas energias do dia. Ao fim da tarde e à noite, era a única oportunidade no dia para estar realmente em família. Ainda me lembro bem quando tive TV Cabo e as horas que passei a ver o Canal Panda, e tantos outros canais que não me lembro de existirem. Nunca me deitava tarde, mas também nunca deixava nada a meio. Era fácil de conciliar. Começar a conhecer o mundo foi, sem dúvida o maior “abre–olhos”. Lembro-me bem da primeira viagem ao Porto Santo, a Canárias, ao continente, e por aí fora. A descoberta das grandes cidades europeias, dos monumentos e paisagens que via na televisão fascinavam-me. A primeira vez que andei de avião foi algo impossível de verbalizar. Não consegui dormir na noite anterior, o caminho para o aeroporto era repleto de ansiedade e, até entrar no avião, estava sempre impaciente! O barulho dos motores, a sensação de deixar o chão firme, e ver a Madeira do ar, é algo que nos marca a infância. Acima de tudo, conhecer novos sítios, novas pessoas, diferentes culturas, novas maneiras de pensar, faz-nos crescer e dar mais valor ao sítio onde vivemos. Posso dizer que tive uma infância muito feliz, tive as minhas aventuras, desventuras, fiz montes de asneiras (sabe mesmo bem), aprendi e conheci muitas coisas, mas a melhor delas foi saber e gostar de viver. É bom acreditar que tudo é possível, fazer amigos antes de saber o nome deles e ter o dia mais feliz da vida todos os dias. Era bom nunca mais crescer. Mas, se os pequenos nunca fossem grandes, jamais saberiam a que sabe ser pequeno e ter o mundo na mão. Marco Dinis Estudante de Medicina

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