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O Meu Texto é a Minha Casa!

Escrever um texto é como construir uma casa. O processo é análogo. Da fase de idealização, passa-se à edificação, indo das fundações aos mais ínfimos detalhes dos acabamentos. Requer muito trabalho.

Escrever textos (literários ou de outro tipo) é exigente. Pela expressão “Escrita Criativa”, pode pensar-se que é automático, sendo apenas necessário ter ideias. Engana-se quem julga que é suficiente pegar numa esferográfica e num papel ou num computador para o conseguir. Todos querem publicar livros e ser escritores. Porém, nem todos os que escrevem, embora ambicionando-o, chegam a essa meta. Para se ser “escritor”, isto é, “autor de ficção”, além de treinar a criatividade, deve dominar-se a língua viva que suporta a escrita. É possível nem ser muito instruído, como o genial António Aleixo, mas deve ter-se uma forte sensibilidade linguística. Revelar reflexão linguística é imprescindível. Saber como funciona a língua, matéria-prima de um texto, torna-se indispensável.

Nos Laboratórios de Escrita promovidos pela AAUMa, a ambição da escrita criativa confronta-se com a falta de reflexão linguística. Frequentemente, o que se deseja expressar não corresponde ao que realmente se comunica. Por exemplo, que diferença existe entre “eu”, “me” e “a mim”? Podem empregar-se com o verbo “parecer”? Como conjugar “haver”, quando é impessoal? O que significa isso? Um escritor tem de pensar sobre estes assuntos. Para um texto, são tão essenciais quanto os materiais usados na edificação de uma casa. Se não houver uma escolha criteriosa destes, a casa poderá ruir, mesmo acabadinha de construir. Um texto é como uma casa: a sua construção exige esforço, tempo e dedicação.

1.
……………………………….. que eles não vêm à festa.
Preencher o espaço com a forma certa: Eu parece-me / A mim, parece-me.
Solução: A mim, parece-me que eles não vêm à festa.

Explicação: Conjugar verbos implica conhecer os pronomes pessoais com a função de sujeito (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles e elas). Os restantes corresponderão a complementos. A Gramática ensina-os. O verbo “parecer” tem diferentes sentidos e usa-se com vários pronomes. Saber conjugá-lo é indispensável. Portanto, “eu pareço” difere de “ele parece” ou “isso parece”. Segundo a Gramática, não é possível combinar “eu” com “parece”, mas o reforço do complemento “me” com “a mim” é viável (“A mim, esse texto interessa-me.”).

2.
O acidente complicou o trânsito e ………………………….. muitos carros parados.
Preencher o espaço com a forma certa: havia / haviam.
Solução: O acidente complicou o trânsito e havia muitos carros parados.

Explicação: O verbo “haver” pode ser auxiliar em tempos compostos, substituindo-se, neste caso, por “ter” (“Haviam/ Tinham conduzido durante horas.”). Assim, conjuga-se em todas as pessoas gramaticais. Quando se emprega como verbo impessoal, não tem sujeito e vai acompanhado de complemento, com o qual não concorda. Nestes enunciados, o plural do complemento não atinge a forma verbal, que se emprega no singular (“Havia muitos carros parados.” = “Havia-os.”).

Helena Rebelo
Professora da UMa

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