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Como falamos de sexo?

A resposta à questão pode ser dicotómica: se por um lado temos as mentes que muito vagueiam e opinam sobre o tema, por outro temos quem mais se resguarde do assunto.

Num relacionamento mais longo, por exemplo, há um desenvolvimento crucial da sexualidade que está intimamente ligado à evolução da própria relação. E desenvolvimento não é sinónimo de melhoramento. P. Vaughan, no seu Mito da Monogamia, afirma que 60% dos maridos e 40% das esposas já traíram. E. Brown, directora do Key Bridge Therapy and Mediation Center, atesta que um dos principais motivos para trair é a falta de intimidade. Eu, humildemente, complemento, dizendo que o único culpado é o casal. Por se esquivar, todos os dias, de conversar sobre si. Por esquecer, aos poucos, a sua intimidade, de quão importante é a partilha de prazer e por ignorar que os “assuntos da cama” são fulcrais para uma relação profícua.

J. Gameiro, psiquiatra, diz que para os homens a variável sexo é a mais importante, enquanto para as mulheres a sua importância está dividida com outros aspectos. Afirma que “os casais que se dão mal, normalmente não funcionam bem na cama”. Não funcionam porque não dialogam, não “conseguem comunicar sobre como gostam de estar um com o outro”, não são capazes de se ouvir, têm (demasiado) pudor.

Josefina Lobato, doutora em Antropologia Social, relata no seu Prazeres e Deveres, que o sexo acaba, em muitos casais, por se tornar um hábito e um dever, levando a que se queiram vivenciar determinados momentos extra–conjugalmente, quase defendendo que compromisso e sexo não combinam. No entanto, afirma, baseada no Kamasutra, que “aquele que deseja virtude, prosperidade e amor sexual deve […] tornar-se senhor dos seus sentidos” e, digo eu, abrir a mentalidade ao diálogo nas relações.

Resta saber onde se situa a origem do problema: no interior da relação ou antes do início da mesma. Repetidamente questiono-me se, por acaso, as pessoas assinam alguma cláusula que, algum tempo depois, os obrigue a evitar o sexo, o beijo, o toque, a sedução e a conquista diária?!
Talvez a falha não seja de agora. Eduardo Sá admite que é preciso educar-se para o sexo e para o amor. Desde cedo. Que se fale entre pais e filhos, maridos e mulheres. O psiquiatra ressalva que não se pode resumir a sexualidade “ao aparelho reprodutor e aos métodos contraceptivos”, que “é urgente acarinhar uma cultura do prazer”, “fantasiar”.

Então, como falamos de sexo? Mal e porcamente, permitam-me e perdoem-me a expressão. “É por isso que é urgente falar da sexualidade não tanto como o princípio do prazer mas como aquilo com que as pessoas constroem a sua infelicidade. Pelos sentimentos que guardam. E com o silêncio com que os revestem” (Sá).

Na falha da vida sexual, a culpa não morre solteira. Morre em cada homem e em cada mulher que ao não falarem de sexo, com os cônjuges, ou com quem partilham a cama, sentenciam a sua felicidade e arrumam o sexo como uma experiência de infelicidade e dever.

Vera Duarte
Alumnus

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