Nem Marcel Duchamp, famoso autor de “Fonte” (1917), ousaria elevar o ready-made a um nível tão olfativamente imersivo. No espírito inovador da primeira Bienal de Arte e Design do Funchal, a Universidade da Madeira (UMa) surpreendeu ao inaugurar uma instalação sensorial única nos seus sanitários. Sob o mote “A Ecologia das Coisas”, a iniciativa explora a sustentabilidade e o impacto humano nos ecossistemas urbanos através de uma experiência olfativa intensa, inspirada na interação química entre resíduos líquidos e superfícies de uso comum. Visitantes e estudantes são convidados a refletir sobre a pegada ecológica da higiene pública enquanto tentam, sem sucesso, conter a respiração.
O conceito, segundo fontes ligadas ao projeto, pretende “desconstruir preconceitos sobre os aromas urbanos” e desafiar o público a repensar a relação entre o corpo, o espaço e a manutenção de infraestruturas. “Cada casa de banho transforma-se num manifesto vivo sobre a degradação sensorial dos ambientes urbanos e a resistência dos materiais à passagem do tempo”, explicou um teórico do olfato que ninguém conhece, mas que parece muito confiante. A UMa considera esta abordagem uma contribuição essencial para o debate artístico contemporâneo, posicionando-se na vanguarda das instalações site-specific com impacto nasal.
A receção da comunidade tem sido, no mínimo, efusiva. Enquanto alguns estudantes elogiam a audácia conceptual da obra, outros consideram que a experiência ultrapassa os limites da arte e se aproxima perigosamente do bio-hazard. Há mesmo relatos de estudantes que, levados pelo entusiasmo, tentaram registar a instalação no concurso de sobrevivência da National Geographic. Fontes não confirmadas sugerem ao Amigo que a universidade já planeia novas experiências sensoriais, incluindo as instalações imersivas “Ar Condicionado com Fungos” e “Anfiteatro Após Três Aulas Seguidas de Engenharia”.
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Com fotografia de Jan Antonin Kolar.