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William Combe

Há 200 anos, na ilha da Madeira

Giuseppe Abate, mestrando em Linguística na UMa, traduziu para português moderno obras sobre a Madeira do século XIX, escritas por estrangeiros. Uma vez estudadas por especialistas, serão editadas pela Imprensa Académica. No ano de 1821, 19 anos antes da publicação de Madeira: Illustrated de Andrew Picken (1840), William Combe publicou o seu diário de viagem, intitulado A History of Madeira. Este diário, tal como o de Andrew Picken, contém as experiências de William Combe na Ilha da Madeira. Contudo, este prioriza a escrita poética e romântica em detrimento da técnica, evidenciada pela grande quantidade de poemas e estampas presentes no diário. Começa por abordar tópicos semelhantes ao de Andrew Picken, como a descoberta da Madeira — referindo, também, a história de Roberto Machim e Ana D’Arfet (desta vez acompanhada por poemas) — e o clima da ilha, sem descurar os benefícios que a este proporcionava aos visitantes doentes que nela esperavam encontrar uma cura. Mas é aqui que as semelhanças entre ambos os diários começam a diminuir. Além das questões políticas — destacando a exigência popular de uma constituição, no dia 28 de janeiro de 1821 — e dos regulamentos portuários, William Combe dedica uma porção do diário às produções vegetais da ilha, com particular ênfase nos tipos de vinhos que se podiam encontrar no território e a forma como eram produzidos em lagar. Tanto aparenta ser o seu interesse pelo vinho que o autor menciona o episódio do duque de Clarence com o vinho Malvasia — que “se afogou num seu tonel” e que, a partir de então, “só uma pequena quantidade é permitida como parte do subsídio anual do poeta laureado” —, assim como dedica um poema um tanto humorístico aos borracheiros da ilha, intitulado “BORRACHEIRO: UM ACIDENTE NA ESTRADA”. É com esta linha de pensamento que a essência deste diário se revela: 27 poemas abordando os vários elementos que compõem a Ilha da Madeira, desde os camponeses, pescadores e músicos até aos membros da Ordem de São Francisco, senadores e soldados da guarnição do Funchal. Cada um está precedido por uma estampa e um breve texto descritivo, cujo conteúdo é usado para formar o texto lírico. Os poemas variam no seu tamanho, mas nunca são tão pequenos ou tão grandes ao ponto de deixarem de cativar o leitor. Tal como Madeira: Illustrated, a tradução deste diário insere-se nas atividades de revisão e tradução desenvolvidas durante o estágio na ACADÉMICA DA MADEIRA, no âmbito do mestrado em Linguística: Sociedades e Culturas. Apesar de ambos os autores registarem vários termos de uma forma quase fonética — como “St. Jago” (São Tiago) e “Askada” (Achada) —, este diário requereu uma pesquisa mais aprofundada de modo a traduzir corretamente certos vocábulos utilizados por William Combe. No que diz respeito aos tipos de vinhos, por exemplo, foi utilizada a obra A Vinha e o Vinho na História da Madeira. Séculos XV a XX (2003), de Alberto Vieira, dado que muitos deles não foram escritos corretamente pelo autor, tais como “Neprinha” (Negrinha) e “Castelnaw” (Castelão). Recorreu-se a uma obra, que chegou até a ser utilizada por William Combe, intitulada Observations on the Natural History, Climate, and Diseases of Madeira (1811), de William Gourlay, que ajudou a decifrar os termos “Loo Beech” (Ilhéu), “zayo” (faia), “tao fish” (mero), “abrato” (abrótea) e “craco” (craca). A obra The American Farmer, Volume 3 (1822) permitiu esclarecer o termo Lignum klodium (vinhático) e, por fim, com a tese intitulada A Arquitectura do Turismo Terapêutico (2016), de Rui Campos Matos, resolveu-se a questão da Quinta de “Trasir”, vocábulo que o autor usou para designar a Quinta do Prazer. Além disso, não é de admirar que os muitos poemas que se encontram no diário foram o outro principal desafio durante a sua tradução, requerendo uma muito cuidadosa atenção para uma correta interpretação do significado pretendido pelo autor. Adicionalmente, no texto, antecedendo o poema do capítulo “OCUPAÇÃO RURAL”, foi necessário analisar a estampa que o acompanha de modo a traduzir corretamente o termo “spinning wheel”, sendo que o autor não se estava referindo a uma simples roda de fiar, mas sim a uma dobadoira. Esta tradução espera ajudar a compreender a forma como a Ilha da Madeira foi encarada no século XIX por mais um visitante inglês, podendo tornar-se num útil objeto de análise para historiadores e linguistas portugueses. Giuseppe Abate Aluno do Mestrado em Linguística: Sociedades e Culturas Com fotografia de Gatis Marcinkevics.

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