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O meu primeiro amor
Acho que todas as verdadeiras histórias de Amor começam com um olhar. Um olhar mais ou menos intenso, mais ou menos demorado, que nos perturba e faz acelerar o coração, foi assim que começou a minha história de Amor. Era Verão, a primeira vez que o vi tinha uns 4 anos e ele era homem feito, debruçada à janela do quarto dele, olhava ansiosa para o fundo do nosso beco, quando ele apontou na esquina. Eu pulei de alegria, ele escondeu-se e chamou o meu nome, como só ele sabia pronunciar, em linguagem de bebé como se tivesse 4 anos também. Enquanto ele não reaparecia, a minha ansiedade fazia-se sentir na velocidade com que chuchava na minha chupeta. Voltou a aparecer como por magia e eu ria e saltava sem nunca sair do lugar, o olhar dele consolou a minha inquietação à medida que se aproximava. Durante o percurso pelo beco, perguntava: “quem é esta menina mai linda?”. A baba quente escorria–me pela boca até ao peito, puxou-me do parapeito da janela, apertou-me junto ao peito peludo e fofo, arrancou a chucha da minha boca para lhe dar um beijo babado, mas devagar para não picar e atirou-me ao ar até eu tocar nas telhas velhas do nosso telhado. Mesmo sem saber naquela altura, desconfio que ele já o sabia, foi naquele olhar, daquele fim de tarde quente, que conheci o Meu Primeiro Amor, o Meu Pai. Nestes últimos tempos e apesar de a maior parte das vezes ele manter os olhos fechados, aquele olhar que me apaixonou estava sempre lá e continuava a ser o meu maior consolo. Falo daqueles olhos redondos a sorrir, pequenos e negros, que conheço de cor e nunca vou esquecer. Cristina Camacho Universidade da Madeira